me sentia miserável demais para chorar.
meu sentimento não era digno de lágrimas;
em outros dias, talvez sim.
em outras noites eu realmente estive afim de
colocar um oceano em movimento,
de formar ondas que agridem a areia duma praia.
em outras noites eu realmente acreditei no fim,
desejei o fim.
o fechar de olhos que traria o esquecimento eterno.
mas hoje eu me lembro do amanhã.
sei do atravessar do sol na minha janela pela manhã.
sei que ninguém além de mim
estará aqui para secar aquele oceano.
para fazer rir o palhaço.
para tocar uma canção ao desconhecido cantor.
para recitar uns versos ao velho escritor.
o beija-flor não esquecerá do seu trabalho.
o lixo na esquina será recolhido durante a madrugada.
todos os mendigos e seus colchões sumirão no
iniciar do expediente e o bater de pontos.
eu continuarei lutando por meu espaço no vazio,
pela minha porção de nada
recheada de acasos milimetricamente medidos.
[o problema não é aonde ir. possuo infinitos lugares pra ir e infinitos para não ir. o problema é onde permanecer.
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Desabafos Desperdiçados
Poetry"A partir do momento que você tem que esconder o seu próprio rosto de si mesmo, tudo o que resta é nada; é uma figura estranha que você imagina estar estampada na sua cara e que todo mundo olha e ninguém entende, assim como você também não entende...
