Capítulo 26

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N: Boa noite, lindezas! Muito obrigada pelos 100k, e boa sorte na bomba que é esse capítulo.





Bournemouth foi um sonho de uma só noite. No dia seguinte àquela adorável reunião de encontros e desencontros, sobretudo de confissões apaixonadas, Harry teve de encarar a realidade com a qual se habituara havia quase uma década. Mesmo que seus pequenos dias ao lado de Louis fossem uma microscópica migalha de existência quando comparados ao milenar cotidiano de sua vida em Sheffield, o cacheado se sentia estranho. Mais do que isso, ele se sentia infeliz, porque boa parte de suas decisões desde que chegara ao casarão não mais o confortavam. De repente, os conflitos internos voltavam à tona.

Diante disso, horas antes de partir em direção à Colômbia, sentado em frente à mala recém-preparada e disposta com desleixo na cama bagunçada de seu quarto, Harry fuçou os bolsos de uma de suas calças e encontrou por acaso um pequeno pedaço de papel. Ali se deparava com a oportunidade perfeita para visitar a única pessoa capaz de ouvi-lo sem pestanejar. Quem ele jamais preocuparia ou aborreceria, ainda que dissesse asneiras: sua irmã.

Por isso, sigiloso, sequer dando notícias a Louis, ele dirigiu na máxima velocidade que pôde em direção ao cemitério endereçado no papel, em meio ao delicado cursivo de Anne. Encolhido nos próprios braços, ele procurou incessantemente pela sepultura de Gemma, por sorte avistando-a com facilidade. Em meio a tantos túmulos abandonados, vazios, sem qualquer sinal de flores ou homenagens fúnebres, o cantinho dela se tornava singular. Anne devia pagar cuidados e jardineiros diários, senão muito frequentes. Aquilo aquecia o coração de Harry a níveis que tornavam aquela situação menos dolorosa.

— Aqui estou eu, Gem. Finalmente. — Depois de lágrimas e soluços periódicos desde que se sentara ao lado dos girassóis providenciados pela mãe, Harry sussurrou pausadamente, com a voz fraca e embargada. — Eu sempre tive muito medo de cemitérios, você se lembra, não? Até alguns minutos atrás, para ser sincero, e peço desculpas por isso, eu tinha certeza de que não aguentaria o cheiro de terra úmida, sairia correndo, ainda que você estivesse aqui. Mas eu estou sentindo tanta paz, Gem... Tem algo curioso aqui... É como se o vento perpassasse pela minha pele, como se... E-eu conseguisse te sentir aqui. Acho que nunca estive tão próximo de você, desde... Bom, você sabe.

Ele olhou ao redor e, notando que estava sozinho, escondeu uma velha e empoeirada carta entre a terra alagada e uma fileira de tulipas vermelhas ao centro do mármore marcado com o nome da irmã, de fato as suas favoritas. De algum jeito, Anne sabia de coisas que Harry não imaginava que ela tivesse o zelo de conhecer.

— Ao contrário dessa cartinha velha, que estou te devolvendo porque já tive tempo suficiente para lê-la, coisas novas aconteceram por aqui. Além de eu ter parado de me esconder de você e da mamãe, é claro. — Ele sorriu em meio aos prantos, envergonhado com a própria constatação. — Anne parece estar casada, de novo, e deus sabe que isso me apavorou desde o primeiro momento em que bati os olhos no tal homem. Mas quem sou eu, a essa altura do campeonato, para intervir em alguma coisa? Acho que fiquei tão feliz por ela ter saído daquela maldita cama, por ter averiguado de perto qualquer sinal de cor natural no rosto dela, que o receio da presença de um estranho se tornou mínimo. Ela mudou a casa toda, Gem. Tem uma filha, agora. — Harry engoliu em seco. — Mas isso ela já deve ter contado a você, certo? De qualquer modo, eu quero mudar de assunto.

Deitando-se na grama recém-regada do corredor quase inteiramente dedicado à irmã, Harry cruzou os braços atrás da cabeça e continuou, sereno a ponto de as lágrimas terem enfim terminado seu percurso pelo rosto bronzeado do cacheado:

— Eu estou apaixonado por alguém, também. Acho que isso não deveria soar assim, como uma notícia inusitada, ou sei lá, bombástica, pelo menos para pessoas comuns. Mas depois de tudo que aconteceu, será que eu sou esse tipo de pessoa? Comum ou não, amar alguém desse jeito genuíno e entregue é de fato novo e assustador demais para mim. De um jeito bom! Às vezes eu me pego pensando nesse moço, o Louis, e... Puta merda! É ridículo, ok? Mas ele é tão lindo, Gemma! Tão autêntico e... Ah! — Debaixo do sol escaldante, seus lábios se retorciam em um sorriso acanhado, mas com certeza inevitável, complementado por típicas covinhas de ponta a ponta. — ... Quando eu penso num universo paralelo, eu e ele casados, com filhos infinitos, catarrentos, enchendo nosso saco no quintal de uma casinha simples, a ideia não me parece tão louca, sabia? Sim, definitivamente... Se ele me pedisse, com todas as palavras, letras, sílabas, eu largaria tudo por uma família.

Blue Jeans (larry stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora