A AUTENTICA MÚMIA EGÍPCIA FEITA EM CASA

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Foi naquele outono que encontraram, nas proximidades do lago Loon, uma autêntica múmia egípcia.

Como e há quanto tempo aquela múmia tinha ido parar lá ninguém sabia. Mas lá estava ela, envolta em trapos creosotados, um pouco carcomida pelo tempo e à espera de ser descoberta.

Na véspera - apenas um dia normal de outono, com árvores avermelhadas e folhas como que queimadas e um forte cheiro de pimenta no ar - Charlie Flagstaff, de doze anos, tinha saído de casa e se plantado bem no meio de uma rua deserta, à espera de que algo grandioso, especial e emocionante acontecesse.

- Muito bem - disse Charlie ao céu, ao horizonte, ao mundo inteiro. - Estou esperando. Venha!

Nada aconteceu. Então Charlie foi chutando todas as folhas que encontrou enquanto atravessava a cidade até chegar à casa mais alta da maior rua, a casa aonde iam todos os que tinham problema em Green Town. Charlie estava carrancudo e inquieto. Tinha problemas, claro, mas não conseguia identificá-los. Então fechou os olhos e gritou em direção às janelas da casa:

- Coronel Stonesteel!

A porta da frente escancarou-se como se o velho estivesse ali esperando, assim como Charlie, que alguma coisa inacreditável acontecesse.

- Charlie - gritou o coronel Stonesteel, "você já está bem grandinho para saber bater à porta. Por que será que os rapazes têm sempre de ficar gritando na frente da casa dos outros. Tente outra vez.

A porta se fechou.

Charlie suspirou, deu alguns passos, bateu educadamente.

- Charlie Flagstaff, é você? A porta se abriu de novo e o coronel olhou para fora e para baixo. - Pensei ter dito para você gritar em volta da casa!

- Droga - suspirou Charlie desesperado.

- Olhe só para este tempo. Que droga, que nada! O coronel avançou como se para afiar seu extraordinariamente bem-feito nariz em forma de machadinha no vento frio. - Você não gosta do outono, garoto? Lindo, lindo dia! Não é mesmo?

O coronel virou-se e olhou o rosto pálido do menino.

- Meu filho, parece que seu único amigo o abandonou e seu cachorro morreu. Qual é o problema? As aulas começam na semana que vem?

- Sim.

- E o Dia das Bruxas, ainda demora muito?

- Ainda faltam seis semanas, mas parece que é um ano. O senhor já notou, coronel... - o garoto soltou um suspiro mais profundo, olhando a cidade outonal -... que nunca acontece nada por aqui?

- Bom, amanhã é o Dia do Trabalho, grande desfile, sete carros, o prefeito, fogos de artifício talvez. Hum!

O coronel parou subitamente, nem um pouco impressionado com sua lista de supermercado.

- Quantos anos você tem, Charlie?

- Treze, quase.

- As coisas tendem a piorar quando se chega aos treze. - O coronel revirava os olhos buscando informações meio desarticuladas dentro de sua mente. - E aos catorze, então, tudo pára. Aos dezesseis, pode-se até morrer. Aos dezessete é o fim do mundo. As coisas só começam a melhorar de novo dos vinte em diante. Enquanto isso, Charlie, o que fazemos para sobreviver até o meio-dia desta manhã de véspera do Dia do Trabalho?

- Se há alguém que sabe é o senhor, coronel - disse Charlie.

- Charlie - falou o velho, desviando-se do olhar claro do menino. - Posso manipular políticos do tamanho de porcos de exposição, sacudir os esqueletos da prefeitura, fazer as locomotivas correrem para trás na subida. Mas, garotos, em um longo fim de semana de outono, com mil idéias na cabeça e um caso sério de ociosidade mórbida? Bem...

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