A VALSA

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DOROTHY R. PARKER
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— Ora essa, muito obrigada. Gosto imenso.

— Não, não quero dançar com ele. Não quero dançar com ninguém e se quisesse, não era com ele. Seria o último dos últimos que eu escolheria. Bem vi como dança; parece o que é costume fazer-se na noite de S. Walpurgis.

— Imagine que ainda há poucos minutos eu estava sentada e com imensa pena da pobre garota que dançava com ele. E agora vou ser eu a pobre garota.

— Ora, ora. O mundo é tão pequeno.

— E tem coisas como esta. Um autêntico patife. As suas proezas são tão inesperadas e fascinantes, não são? Aqui estava eu, metida comigo, não fazendo mal nenhum. De repente surge-me ele com o seu sorriso e boas maneiras, pedindo-me a honra de uma inesquecível mazurca.

— Porquê? Ele a bem dizer que não sabe o meu nome, pondo de lado a sua significação, que é Confusão, Futilidade, Desespero, Degradação e Assassínio Premeditado; mas ele não o sabe. Também eu não sei o dele; não faço a mínima ideia. Pela expressão dos olhos, parece-me que seja Jukes. Como está, senhor Jukes? E como vai o seu irmão que tem um olhinho na testa?

— Ah, porque viria ele para junto de mim, com os seus pedidos insistentes. Porque me impedirá de seguir o meu caminho? Eu desejo tão pouco — apenas que me deixem no meu cantinho, sozinha, pensando nos meus desgostos. E vem ele com as suas vênias, as suas delicadezas e o seu "dá-me a honra desta" —. E eu lá tenho de ir e dizer que gosto muito de dançar com ele. Não sei como não caí logo fulminada. Sim e cair morta seria bom, em comparação com ter de dançar com este rapaz. Mas que havia eu de fazer? Exceto eu e ele, todos se tinham levantado da mesa para dançar. Assim, fui apanhada. Apanhada como um rato na ratoeira.

— Quando um homem nos pede que dancemos com ele, o que se há de dizer? Não vou, primeiro havemos de nos encontrar no inferno. Ora essa, muito obrigada, gostaria imenso, mas estou com as dores de parto. Oh, sim, dancemos — é tão agradável encontrar um homem que não se importa de ser contagiado pelo meu tifo. Não, não podia fazer outra coisa senão dizer: gostaria imenso. Bem, vamos acabar com isto. Pois bem, Carmonball, vamos por esses campos fora. Ganhaste a partida; és tu quem guia.

— Para dizer a verdade, parece-me mais do que uma valsa. Não será? Escutemos a música um segundo. Não lhe parece? Ah, sim é uma valsa. Não se importa? Estou verdadeiramente encantada. Gostaria muito de valsar consigo.

— Gostaria de valsar consigo. Gostaria de valsar consigo.

— Gostaria de cortar-lhe as amígdalas. Gostaria de estar num fogo, à meia-noite, no mar alto. Bom, agora é muito tarde. Vamos então a isso. Ai, ai, vida. Ai, ai, vida, vida, vida. Mas isto é pior do que eu julgava. Creio que é a única lei certa da vida — tudo é sempre pior do que se julga. Oh, se eu fizesse ideia do que seria esta dança, teria lembrado ficarmos sentados. No fim, é o mesmo. Se ele continua assim, dentro em pouco sentamo-nos no chão.

— Estou contente por lhe ter feito ver que era uma valsa o que estavam a tocar. Sabe Deus o que aconteceria se julgasse que era outra coisa mais rápida. Deitávamos as paredes abaixo. Porque quererá ele sempre estar onde não está? Porque não há-de ele ficar num lugar o tempo necessário para nos habilitarmos? Isto é o contínuo "corre-corre" do terror da vida americana. É a razão porque todos nós somos tão... Ui! Pelo amor de Deus, seu parvo, não dê tantos pontapés.

— Ai, a minha canela, a minha pobre canela que tive sempre desde pequenina.

— Oh, não, não, não. Por tudo, não. Não, não me magoou nada.

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