Capítulo XIV - Igual, mas diferente

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Lawrence Knopp foi o terceiro a se levantar.

De todas as tarefas distribuídas aos detetives, a do escocês era, de longe, mais simples e menos cansativa — exceto, talvez, por Dawil. Achava essa uma divisão justa: quase perdera sua vida dentro da floresta e sua perna ainda estava machucada. Com certeza Jefferson e Elsie entenderiam seu lado.

Encontrou-se com o homem de cabelos cor-de-rosa ao sair de casa, às dez horas. Este cochilava no sofá, seu peito subindo e descendo em um sono sem roncos. Levaria algum tempo até receber alguma mensagem com informações, então poderia se permitir descansar por mais algumas horinhas antes de se colocar à ativa.

Knopp comeu algo, vestiu suas costumeiras vestimentas e saiu de casa.

Os sapatos pretos incomodavam os tornozelos do ruivo enquanto caminhava. Seus pés, que estavam acostumados a pantufas macias e rosas, agora tinham que se enfiar em peças de couro duras e feias. A vida de Lawrence nunca fez tão pouco sentido.

Mas não era hora de lamentar pela perda de suas melhores amigas. O detetive parou de caminhar e observou a enorme floresta à sua frente.

Lembrou-se de quando esteve dentro daquela mata e um arrepio percorreu seu corpo. Evitava pensar no que havia acontecido, mas, hora ou outra, se pegava direcionando seus pensamentos àquela noite, dois dias atrás, quando fizera a estupidez de ignorar os conselhos do padre. Lembrou-se dos sussurros ensurdecedores que ouviu, do galho que se quebrou atrás de si, do brilho que vira na árvore à sua direita... Tinha certeza de não estar louco. Havia algo lá... Ele só não tinha ideia do que era.

Não queria aceitar a existência do sobrenatural.

Ele não entrou na floresta novamente. Não era burro a ponto de fazer isso — não pela segunda vez. Estava lá para fins puramente investigativos e nada suicidas e precisaria estar vivo caso pretendesse solucionar o caso.

Knopp deu alguns passos para dentro, apenas três, apenas para se aproximar um pouco, e parou. Em teoria, ele estava dentro da floresta, visto que havia árvores atrás de si, mas, onde estava não sofria nenhum perigo real. Ao menos, esperava que não.

Uma vez lá dentro, esperou os olhos se adaptarem à escuridão e ligou sua lanterna.

Por alguns segundos, o ruivo só conseguiu ver um monte de pinheiros — o que, de fato, era quase tudo o que havia ali. Árvores e mais árvores para todos os lados. Nenhum animal, nenhum corpo, nenhum demônio. Isso era bom, de certa forma. Mas, depois de uma verificação mais profunda, ele reparou nas marcas de garras.

Lawrence já havia visto elas antes, é claro. As observara de perto, as tocara, mas tentava, desta vez, não sentir medo. Não podia deixar que seus sentimentos atrapalhassem a investigação. Ele procurou por outra coisa, mas não enxergou brilho algum no meio das árvores como havia acontecido antes. Havia mesmo? Sim, havia, ele tinha certeza. Não estava louco.

Lembrou-se, então, de algo que tinha certeza de ter visto: o local da morte de Laura Grandis.

A sandália que encontrara pertencia à menina, Giselle confirmou isso a ele. As pegadas o levaram ao local onde, ao que tudo indicava, algo pesado havia sido arrastado para trás: o corpo da menina. Ele pensava nisso já há algum tempo.

Ele próprio não havia sido arrastado para trás?

O detetive havia passado exatamente pelo mesmo que a garota, com a diferença que havia sobrevivido, enquanto ela... Ele não conseguia deixar de se sentir culpado por isso, mas agora encarava isso sob uma nova perspectiva. Se a sua quase morte ocorrera nas mesmas circunstâncias que a morte de Laura, então ele já sabia como Laura morrera. Ao menos, estava um passo mais perto de descobrir.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora