Capítulo XX - Não entendi mais nada

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Um homem alto estava caído de barriga para baixo ao lado de um tronco. Estava todo arranhado e cheio de machucados, e a terra ao seu redor tinha um pouco de sangue, que saía de um furo em seu braço. Lawrence tocou sua pele, com cautela. Ainda estava quente, como era de se esperar, mas, apesar de o homem não apresentar nenhuma reação ao toque, o detetive percebeu, através de seu pulso, que ele ainda estava vivo.

Lawrence, com esforço, virou-o de lado para poder ver seu rosto. Seus olhos estavam fechados e respirava fracamente, com alguma dificuldade. Era loiro, tinha cabelos curtos e a pele ligeiramente escura. Usava óculos, que tinham sido jogados para longe quando caiu. O queixo pontudo e a pinta ao lado do olho davam ao homem uma aparência peculiar.

— Ei, acorde — Lawrence conseguiu sussurrar. — Levante-se, precisamos sair daqui.

O homem não respondeu, sequer abriu os olhos. Não parecia capaz de fazer isso. Manter-se vivo já era tarefa complicada demais.

— Vamos lá, vamos lá... — murmurou Knopp, balançando o corpo com suavidade. — Preciso de você.

Foi então que o detetive percebeu que o homem levava consigo um colar em seu pescoço. Era pequeno e dourado, no formato de coração e havia uma fotografia em seu interior. Lawrence, apertando um botão, o abriu e iluminou o interior. De um dos lados do cordão havia uma imagem de uma menina, de não mais de seis anos, cujo rosto lhe parecia extremamente familiar. Mas foi somente ao ler o nome gravado na outra metade que pôde perceber quem era aquela garota da foto.

Era Giselle Gray.


Dawil deu pause na reprodução e fechou o visor da filmadora.

— Entendo...

A Agência LED e o Jefferson se encontrava na velha praça que falhara em sua missão de atrair a atenção das crianças. Lawrence estava sentado no balanço da esquerda enquanto Elsie e Jefferson se equilibravam na gangorra. Como sempre, Dawil acabou ficando de pé, mas aquilo era bom. Ele pensava melhor enquanto caminhava. Além do mais, de maneira alguma arriscaria subir naquele escorregador velho e decrépito, que era o único brinquedo restante.

Giselle Gray se encontrava sentada ao lado do detetive ruivo. Ela não dissera uma palavra desde que se encontrara com os detetives e não parecia querer fazê-lo. Um sentimento borbulhava dentro da menina, mas ela não saberia dizer se era alegria, medo ou apenas confusão. Naquela ocasião, no entanto, as três emoções eram praticamente a mesma coisa.

Lillie Baudet não entendia o que se passava na cabeça da amiga. Estava sentada ao lado de Giselle, no balanço da direita, sem entender o que diabos estava acontecendo ali. Quando Giz ligou para ela — para sua mãe, na verdade — e lhe contou o que descobrira, Lillie não soube o que responder. Mesmo agora, no lugar onde combinaram de se encontrar, ela não sabia o que deveria dizer para sua melhor amiga.

Deveria ficar feliz? Aquela era uma boa notícia, certo? Mas sua amiga parecia estranha por algum motivo que não Lillie entendia. É claro que a situação não era das mais agradáveis — descobrir que o corpo de seu pai que desaparecera por nove anos não era de seu pai era de confundir até a mente mais sã — e Marcel Gray não era exatamente um exemplo de paternidade, mas esperava que Giselle estivesse feliz com a notícia.

As duas nunca mantiveram um segredo uma da outra. Lillie sabia de tudo o que acontecia a Giselle e Giselle sabia de tudo o que acontecia a Lillie. Elas eram praticamente a mesma pessoa. E então, de repente, começaram a enterrar as verdades, a fingir que nada havia acontecido, a varrer os fatos para debaixo do tapete. Ambas tinham conhecimento disso. As duas decidiram respeitar o espaço uma da outra a fim de preservar sua amizade, porém o clima entre as amigas continuava estranho, apesar de tudo.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora