Prólogo

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Laura Grandis corria sem olhar para trás.

O chão irregular e cheio de pedras a fazia tropeçar, uma pontada de dor a cada passo. Seu pé direito gritava em silêncio; provavelmente o havia torcido enquanto corria. Ela não se importava, no entanto.

Havia preocupações maiores naquele momento.

Em meio a respirações ofegantes, ela pensou. Pensou em todos que a amavam. Em seus pais. Seus colegas. Em Lillie.

Lillie...

"Eu estou indo", ela pensou. Desejava gritar para que a amiga ouvisse, para que o mundo ouvisse. "Me espere!"

Ninguém viria buscá-la, ela sabia. Entrara lá sem ninguém ver, sem contar a ninguém. Não tinham se dado conta de sua falta — e não poderiam fazer nada mesmo se tivessem. Onde estava com a cabeça quando decidiu entrar na floresta? Aquela havia sido, sem dúvidas, a pior decisão de sua vida.

"Idiota! Idiota! Idiota!"

A floresta manifestava sua ira e seu mistério. Parecia sentir a presença da menina e não estava nada feliz. Laura podia ouvir: palavras jogadas ao vento, sem sentido, sem razão. Sussurros. De raiva, de agonia. De todos os lugares e de lugar nenhum. A floresta inteira sussurrava, e a garota, mesmo sem entender o que era dito, sabia o que ela queria lhe dizer.

"Corra."

A garota, por sua vez, estava em silêncio, a não ser por sua forte respiração e o som de seus doloridos passos. Mesmo apavorada, ela não gritou — precisava de fôlego se quisesse sair viva dali. Ainda havia bastante chão pela frente.

Um galho a acertou no rosto, desorientando-a por alguns segundos, mas a menina não caiu, muito menos parou de correr. Ela sabia que se parasse seria pior, bem pior. Não havia outra opção a não ser continuar.

A menina ouviu um estalo logo atrás dela, e um arrepio lhe percorreu o corpo. "Está perto", pensou enquanto apertava mais o passo. Já estava no seu limite, mas ainda não era o suficiente. "Mais rápido, mais rápido!".

Laura tropeçou em uma raiz de árvore. "Não, não!". Ela se levantou, deixando para trás uma de suas sandálias. "Agora não é hora!".

Suas pernas estavam cheias de cortes, seu olho esquerdo sangrava devido ao galho que a acertou e mal conseguia sentir seus braços, mas ela continuou. Quanto mais ela se afastasse daquelas árvores grossas e altas, mais segura estaria. Suas chances de fugir eram pequenas, ela sabia, mas eram maiores do que as chances de sobreviver na floresta.

Ela agora já sabia. Já sabia o que estava por trás de todas aquelas mortes, já sabia o que tinha que ser feito. Depois de tantos anos, o fim estava próximo. Precisava voltar, todos precisavam saber.

Lillie precisava saber...

Em meio às sombras das árvores, a menina conseguia ver apenas uma fonte de luz logo à frente. Os raios da manhã. Estava chegando ao vilarejo, em alguns segundos estaria a salvo. Voltaria para sua mãe, seu pai. Eles não a perdoariam se ela morresse ali. Ela não se perdoaria.

Só mais alguns passos...

Laura tropeçou novamente e sua testa foi de encontro ao chão. Sentiu seu rosto queimar, seu sangue deixando o corpo junto de sua consciência. Ela tentou se levantar, mas não conseguiu. Seu pé estava preso, seus braços pareciam não querer obedecê-la e sua mente parecia prestes a se desligar do corpo. Ela juntou todas as forças que lhe restavam para tentar soltar seu pé daquela raiz.

Não era uma raiz.

Ela foi subitamente puxada para trás. Seus dedos tentaram desesperadamente se agarrar a alguma coisa, qualquer coisa que a impedisse de ser levada para as sombras. Em vão. Suas feridas doíam mais do que nunca, havia perdido muito sangue e sua visão estava embaçada e desorientada.

Toda a esperança de voltar para casa se foi. Ela podia, enfim, se permitir gritar. E foi esta a última coisa que Laura Grandis ouviu: seu grito agudo cortando a floresta de Manoury.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora