Capítulo III - Um nome perfeito

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 — Vamos formar uma agência de detetives? — Lawrence perguntou de súbito para o colega que dirigia.

Os dois se encontravam dentro de uma viatura de polícia e seguiam a toda velocidade — ou até quanto a lei permitia — em direção ao vilarejo de Dancourt. Partiram pouco tempo após o telefonema do tal Jean, apenas fizeram duas paradas: uma na casa de Knopp e outra em um restaurante para comerem algo antes de partirem em um trajeto que duraria quase uma hora.

Thomas não levava nada além de seus equipamentos policiais: uma lanterna, sua pistola e seu ar de superioridade. Lawrence, por sua vez, carregava consigo uma pequena maleta com seus pertences pessoais. Kitt disse que não seria necessário, pois tudo não levaria mais de meia hora para se resolver, mas o ruivo discordou, dizendo que tinha a impressão de que o caso demoraria muito mais que apenas meia hora. Na maleta estavam seu pijama, algumas roupas, documentos, sua caneca e seu tão estimado bloquinho de anotações. Lawrence sempre levava um bloco de notas quando ia resolver um caso, mesmo que não o usasse. Às vezes, quando tinha preguiça de ir buscar o bloquinho, acabava usando um aplicativo de notas no celular. Mesmo assim, tal qual sua caneca, o bloquinho era um companheiro inseparável do detetive.

Não foi surpresa para Lawrence quando seu colega pôs a fatídica música para tocar durante o trajeto, assim como não se surpreendeu quando quase teve os tímpanos estourados pelo alto volume da canção. Surpreendente mesmo foi descobrir que Thomas sabia conectar seu celular por bluetooth com o aparelho de som do veículo. Para Knopp, não fazia sentido pessoas com mais de cinquenta e cinco anos saberem lidar com a tecnologia, mas, pelo que parecia, seus preconceitos não refletiam a verdade.

A tentativa do amigo de ensurdecê-lo — ou qual quer que seja o verbo correto a ser usado nesse contexto — não estragou a viagem, no entanto. O detetive nunca esteve dentro de uma viatura de polícia e estava gostando bastante da experiência.

Enfim, após toda uma página de contextualização e informações desnecessárias, Thomas respondeu à pergunta de Lawrence, ainda que tenha sido com outra pergunta:

— O quê?

Responder uma pergunta com outra pergunta, em geral, é uma estupidez, mas Thomas tinha seus motivos. Lawrence havia ficado em silêncio durante toda a viagem, atitude nada típica do detetive. O policial ficou aliviado ao ouvi-lo dizer alguma coisa, mas imaginou que iria ser algo como "a gente já chegou?" ou "aquele cara tem um cabelo muito estranho" ou algo que se aproximasse mais de sua personalidade.

— Uma agência — repetiu o ruivo. — Podemos juntar eu, você e mais três pessoas com o sobrenome começado com K.

— Por que com K?

— Porque aí poderemos chamar de "KKKKK".

Thomas riu do comentário do amigo e se distraiu por um momento, quase guiando o carro para fora da pista.

— Não me faça rir — repreendeu.

Ainda assim, continuou com um sorriso no rosto. Sorte que não havia nenhum carro vindo no sentido contrário, senão, caso sobrevivessem à batida, o policial levaria uma multa por dirigir em contramão — e ele não queria mais nenhuma ironia relacionada à sua profissão naquele dia.

— Estou falando sério. — Lawrence parecia ter bolado essa ideia no caminho, o que explicava o porquê de estar tão quieto. — Você não disse tenho sorte de ser detetive? Você pode ser também. Podemos fazer um letreiro, escrever o nome bem destacado e colocar umas luzes em volta. Todo mundo vai ver e querer ir lá.

Kitt não estava acreditando.

— Não acho que alguém vai se motivar a procurar um detetive só por causa de um letreiro bonito.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora