Capítulo XVI - Um caso de família

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Lillie Baudet era chata.

Não chata do tipo "essa pessoa me incomoda", "ela tem não tem assuntos interessantes" ou mesmo "ela gosta de jogar golfe", o que são definições ótimas para a palavra chato de acordo com o dicionário. Na verdade, a menina era chata no estilo "eu quero conversar com essa pessoa, mas ela se recusa a me responder ou manter o rumo da conversa".

Basicamente, Lillie era uma adolescente.

Talvez essa atitude não fosse sua culpa. Ainda que a presença de seus pais ao seu lado fosse reconfortante, não era todo dia que ela era visitada por dois detetives estranhos, com pelos corporais de cores diferentes e rosto de quem não dorme direito há alguns dias — respectivamente, Lawrence Knopp e Jefferson Gusev.

Os detetives haviam dormido antes de interrogar a família da garota, pois não seria muito prudente fazer isso à meia-noite, ainda que desejassem muito. Assim, decidiram esperar até a manhã seguinte. Os pais, Max e Simone, tiveram que buscar a garota na escola, situação que foi bastante desconfortante para a menina, apesar de necessária, mas, ao fim, lá estavam eles.

Eram nove horas da manhã. Dawil havia saído para acompanhar Elsie, Giselle e Rebecca no aeroporto, como haviam combinado, e disse que os encontraria depois. Pediu para que o mantivessem informado, mas que não demoraria muito.

Lillie encarava as mãos, nervosa e de cabeça baixa, como se tivesse cometido um crime e soubesse que pagaria por ele. Seus pais estavam sentados ao seu lado no sofá, igualmente ou até mais preocupados que sua filha, enquanto os detetives permaneciam de pé. A menina não parecia ter puxado a um mais que ao outro, ela era exatamente uma mistura dos dois. A pele escura e os cachos eram herdados da mãe, mas a cor dos olhos e cabelo vieram do pai. Alguns traços da personalidade também eram semelhantes, mas isso era algo que os detetives ainda não tinham como saber.

A quietude reinava na sala. Talvez os pais da garota devessem questionar o motivo da visita repentina. Os detetives haviam dito que precisavam conversar com sua filha, mas não explicaram qual era a urgência do verbo precisar, de modo tudo o que estava acontecendo ainda era uma incógnita.

Foi Lawrence quem rompeu o silêncio.

— Bom dia, Lillie — cumprimentou o ruivo, sem receber resposta. — Imagino que se lembre de mim.

Desta vez, recebeu uma resposta: um aceno positivo com a cabeça.

— Este é Jefferson Jittad. — Ele apresentou o russo à família, que grunhiu e o corrigiu. — Certo... Jefferson Gusev. Somos de uma agência de detetives e precisamos fazer algumas perguntas aos senhores.

Jefferson se adiantou. Interrogou os pais da mesma forma que havia interrogado todos os outros habitantes da cidade. Suas falas já estavam até decoradas.

— Desde que chegamos aqui, ouvimos muitas histórias sobre essa floresta e a suposta maldição — disse Jefferson, repetindo as mesmas palavras que usara dezenas de vezes antes, mudando apenas a conjugação dos verbos "chegar" e "precisar" para incluir Lawrence naquela conversa. — Do que se trata, afinal de contas?

Eles não achavam que era necessário fazer todas aquelas perguntas novamente. Não receberam nenhuma resposta relevante na maioria dos interrogatórios anteriores, assim como imaginavam não receber nos oito interrogatórios que ainda faltavam, mas Gusev optou por seguir a mesma sequência que havia usado antes.

Como esperado, responderam o mesmo que todos os outros: trinta anos atrás, um ladrão chamado Abelone fugiu para a floresta, onde acabou morrendo e, desde então, o vilarejo sofre com a maldição. Lawrence, no entanto, percebeu algo: à menção do nome do criminoso, Lillie se remexeu no sofá.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora