Capítulo XXIII - Lillie é a melhor pessoa

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Marcel Gray foi preso logo depois.

Os detetives não viram mais Giselle após deixá-la em sua casa. Imaginavam que ela e sua mãe deveriam ter uma longa conversa — e teriam bastante coisa para digerir —, então resolveram deixá-la em paz o tempo que precisasse.

Lillie dormiu na casa da amiga. Não precisava digerir muita coisa, mas sentia que devia estar presente naquela situação. Depois de dias de desentendimento e estranhezas entre as duas, elas precisavam recuperar o que possuíam antes. Levaria algum tempo para isso, mas conseguiriam.

Enquanto isso, a Agência LED e o Jefferson havia voltado para sua cabana. Já estava tarde, eles estavam cansados e sem paciência para arrumar suas malas, chamar um táxi e viajar por quase uma hora até a casa de Lawrence, que, por decisão quase unânime, foi o local escolhido para ficarem enquanto estivessem na França. Lawrence foi o único a contestar a decisão, mas ele não tinha poder de voz ali. A democracia é uma delícia, mas tem certos custos.

Mini Dawil havia acabado de sair do banho. Reparou em Jefferson e Elsie conversando, sentados na beirada da cama. Os dois eram bastante próximos, mesmo morando em países distintos, e não tiveram a chance de colocar o papo em dia. Na verdade, nenhum dos quatro pôde realmente aproveitar a companhia uns dos outros, e, agora que o caso estava encerrado, podiam aproveitá-la.

Mas Lawrence não parecia aproveitar nada.

Deitado na cama, o homem olhava para o teto. Estava perdido em seus devaneios, sobre o que quer que fossem eles, mas não indicavam ser pensamentos felizes. Dawil cutucou-o, chamando sua atenção.

— Ei, está tudo bem?

Não apenas a sua, mas também chamou a atenção dos dois outros detetives, que interromperam seu diálogo para focar na cena que ocorria diante deles.

Surpreso com os súbitos olhares que lhe foram dirigidos, Lawrence assentiu.

— Sim, estou bem — respondeu. — Só estava pensando...

Não era seu objetivo concluir a frase, mas o silêncio constrangedor que se seguiu o fez continuar.

— Demos sorte.

Knopp não acreditava em destino. Não gostava da ideia de um poder superior influenciando seus atos e decisões. Signos, leitura de mãos, supostas profecias... Lawrence não gostava sequer de ouvir estas palavras. A vida era dele e somente dele, seu futuro seria construído com seu esforço — e, claro, com o poder do acaso.

No entanto, também não gostava da palavra "sorte". Não gostava de precisar da permissão do acaso para conseguir solucionar crimes. Tirava, em partes, seu mérito pela resolução do caso. Daquela vez, entretanto, não podia negar o fato de que o universo mexera uns pauzinhos para ajudá-lo.

Os detetives concordavam. Realmente, muitas coisas poderiam ter acontecido ou deixado de acontecer.

Lawrence poderia ter morrido quando entrou na floresta. Giselle poderia não ter visto a gravação. Ela poderia ter ficado em casa na noite em que ligou para a polícia. Silas poderia não ter reconhecido a menina. Marcel poderia ter desarmado as armadilhas. Laura Grandis poderia ainda estar viva.

Muitas coisas poderiam ter sido diferentes — e alguns até desejavam que assim o fosse —, mas aquilo fora o melhor. A morte de Laura chocou a todos, mas foi o que motivou Giselle a ligar para a polícia, o que fez com que Silas a reconhecesse, discutisse com Marcel e acabasse por morrer na frente do detetive ruivo. Não fosse por isso, por tudo isso, as mortes ainda estariam acontecendo e o vilarejo de Dancourt continuaria preso em sua maldição.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora