Epílogo

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A caminhonete de Victor Grandis estacionou ao lado de sua casa. O homem abriu a porta do carro e desceu, mas Kevin e Flore não o acompanharam.

A mulher parecia perdida em seus pensamentos e seu marido se esforçava para tentar encontrá-la. Victor, alheio àquela situação, olhava o casal através do vidro perfeitamente limpo da janela, silenciosamente chamando-os para o lado de fora. Mas algo mais importante acontecia lá dentro.

— Vamos, querida. — O homem se virou para trás. — Temos que ir.

Flore sentiu vontade de chorar, mas não o fez. Já havia derramado lágrimas demais.

— Você não sabe o quanto isso é difícil pra mim.

— Como não, meu amor? — Kevin segurou sua mão. — Também está sendo muito complicado para mim. Eu penso nisso a cada segundo do dia, mas temos que aprender a conviver com isso. Nossa vida é assim agora.

— Você não está entendendo. — A mulher queria dar um soco em seu marido, mas sabia que seria uma estupidez. Ele não tinha culpa de nada. — Não venha me dizer que você entende o que eu estou sentindo.

Kevin Grandis franziu a testa.

— Por que não entenderia? — perguntou. — Era minha filha também.

Ele pôs a mão no ombro da esposa, tentando tranquilizá-la, mas isso só a fez se afastar. Flore abriu a porta do carro e olhou para o parceiro.

— Vamos. — Ela saiu da caminhonete e andou até a caçamba do veículo.

Victor havia tirado a lona de cima das caixas e esperava por Kevin para ajudá-lo a levá-las para dentro de casa. Flore olhou entre elas, procurando uma em particular. Escondido entre dois maiores estava um caixote quadrado, pequeno, com seu nome escrito no papelão com caneta preta. A mulher pegou esse caixote e começou a caminhar em direção à casa.

— Quer ajuda, querida? — perguntou o marido.

Flore fez que não com a cabeça, sem olhar para ele. Não estava tão pesado assim.

Ela entrou na casa e levou a caixa para os fundos, até um quartinho diminuto onde Victor guardava coisas velhas. Em meio a estátuas de gesso de duendes, pratos decorativos e pacotes de árvores de Natal que nunca haviam sido abertos, Flore se ajoelhou próxima a uma estante e colocou o peso que carregava no chão. Ela abriu a caixa e encarou o conteúdo.

Havia deixado muita coisa para trás. A cor de seu cabelo, sua antiga identidade, seu parceiro — que, durante meses, esperou em vão por sua volta... O diamante também não estava mais lá. Tudo o que lhe restava era uma Bíblia com as páginas do centro recortadas, com um espaço vazio em seu interior que jamais seria preenchido novamente. Assim como seu coração.

A mulher deixou uma última lágrima escorrer para dentro da caixa antes de fechá-la e empurrá-la para debaixo da estante.

Sussurros da Floresta - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora