Capítulo IV

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Primeiro dia do ano de 2008. Acordei e olhei para o relógio, eram meio-dia e cinquenta. Sentei-me na cama e peguei meu celular, tentei ligá-lo, mas tinha acabado a bateria. Bufei e saí da cama, em direção ao banheiro. Olhei-me no espelho e ri da minha situação, com a cara cheia de maquiagem borrada. Lavei o rosto e tirei o máximo de maquiagem que conseguia. Escovei os dentes e, assim que saí do banheiro, alguém entrou no meu quarto chamando por mim.

— Lolla? — era Alex. Dei um pulinho por ter assustado e ri.

— Oi. — falei fechando a cara.

— Vim pedir desculpas pelo que fiz ontem. — respirei fundo e ele se sentou na minha cama. — Não era minha intenção.

Ele parecia arrependido. Mas eu não estava disposta a vê-lo naquela hora.

— Tanto faz. Eu não tô afim de falar com você, Alex. — cocei a testa.

— Me perdoa, por favor! — ele suplicou e eu neguei com a cabeça.

— Por que você bebeu ontem, Alex? — cruzei os braços.

Ele demorou para responder:

— Porque eu tive vontade!

— Você não gosta de álcool. — falei alto.

— Eu queria, estava com vontade! — retrucou no mesmo tom.

— Você não gosta de álcool, Alex!

— Mas eu queria tomar!

— ALEX, PARA DE MENTIR PRA MIM! — perdi a paciência e ele se levantou.

— EU NÃO ESTOU MENTINDO, LOUELLA! — meu estômago revirou ao ouvir ele dizer meu nome.

— EU TE CONHEÇO, ALEX! ME DIZ A VERDADE! — seus olhos se encheram de lágrimas e ele respirou fundo.

— Meu pai está doente.

Fiquei surpresa, descruzei os braços e respirei fundo.

— E ele voltou a beber, dizendo que não vai mais lutar para viver a merda da vida dele com a doença.

Então, Alex começou a chorar e aquilo quebrou meu coração de um jeito inexplicável. Corri em direção a ele e o abracei com toda a força, recebendo seu aperto em troca, e soluços em meu ombro.

Alex era calejado de mancadas que seu pai dava por conta da bebida. Ele quase matou a família na estrada quando sofreram um acidente e, no carro, estavam Alex e sua mãe, com o pai no volante. No dia do acontecimento, era primavera — especificamente, 14 de maio —, um dia antes de seu aniversário de oito anos.

Era por isso que ele estava sensível e não queria que eu fosse embora.

— Alex, vai ficar tudo bem. — ele me soltou e ficou olhando para baixo — Eu farei o possível para falar com você todos os dias e te mandar muitas e muitas cartas para encher seu saco! — ele sorriu por um breve momento, o que me fez sorrir também. Enxuguei suas lágrimas e ele me encarou.

Seus olhos azulados estavam lindamente mais claros e brilhantes. Sua proximidade estava arriscada. Olhei seus lábios quando ele os molhou e, logo, voltei a olhar seus olhos. Suspirei e depositei um beijo em sua bochecha. Me soltei dele e perguntei, indo em direção a porta:

— Você já comeu?

Ele fez que não com a cabeça e me seguiu para a cozinha.

...

Faltam apenas dois dias! — Emma vibrava pelo telefone e eu ria com sua felicidade. — Aproveitou bem esses seus últimos dias por aqui?

Por Uma NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora