Capítulo 6 - Marcos (2002) - pt 1

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"Meeting you was like listening to a song

for the first time and knowing

it would be my favourite"

Marcos não era idiota, ele sabia que não tinha chances com Penélope.

Uma garota como ela jamais olharia para alguém como ele, especialmente quando ela tão obviamente desprezava tudo que a rodeava. Ele até entendia, se a garota tinha vindo do cenário de novela onde tinha ido com ela na semana anterior. Não conseguia parar de pensar no olhar irritado da garota, e até pensou em bater na porta dela, mas o que ele diria? Além disso, ela praticamente não saía de casa, e mesmo que saísse ele tinha outras coisas com o que se preocupar.

Seu pai ia voltar para casa em alguns dias, e Marcos sabia o que isso significava. O inferno que era para ele e para a sua mãe sempre que ele estava em casa... Ele ainda não queria ter que pensar naquilo. Talvez as coisas fossem mais tranquilas dessa vez, como às vezes eram. Especialmente agora que sua irmã tinha ido morar com a avó. Era tudo que ele podia esperar.

Ele estava dentro do carro, decidindo qual era a melhor rota. Marcos tinha 15 anos e tecnicamente não deveria estar dirigindo, mas com a mãe no trabalho o dia inteiro sempre sobrava para ele fazer as compras de casa e resolver problemas na rua. Com o carro ficava mais fácil.

A porta do passageiro se abriu tão rápido que ele pensou que fosse um assalto, mas era apenas Penélope se acomodando no banco como se fossem velhos amigos.

- Olá, vizinho. - ela estava sorridente naquele dia, um sorriso branco e perfeito que a deixava ainda mais parecida com uma modelo ou atriz de cinema.

- Você tá tentando me matar?

Ela riu, a risada dela preenchendo o carro.

- O que você tá fazendo?

- Preciso ir ao supermercado e então no posto de gasolina. Depois fazer o jantar.

Marcos gostava de como ela olhava nos seus olhos enquanto ele falava. Quem era essa garota? De onde ela tinha saído, e por que ela o deixava tão desconcertado?

- Eu vou com você. - Não foi um pedido ou uma pergunta, mas um aviso. - Também preciso comprar o jantar.

Eles se olharam por um momento, como se Marcos estivesse confirmando que ela iria. Ele tinha certeza que não era uma boa ideia investir nisso, eles não poderiam ser mais diferentes pelo que ele tinha visto até então. Mas Penélope sustentou seu olhar, e foi a primeira vez que ele notou o desafio nos olhos azuis dela.

- Tudo bem, então. Você está gostando do bairro?

Penélope riu, e ele teria considerado falta de educação se não tivesse achado tão adorável.

- Detestando. É tudo muito barulhento, muito apertado... - ela franze as sobrancelhas - É como estar dentro de um filme de terror.

- Ei, é da minha vida que você está falando. Eu deveria te jogar para fora do carro agora mesmo - mas o sorriso dele denunciava que não era verdade. Penélope riu novamente.

- Desculpa. Só é tudo muito diferente do que eu estou acostumada.

Eles ficaram em silêncio por alguns quarteirões, e Marcos olhava pelo canto do olho a maneira como ela olhava pela janela. A sua bolsa estava jogada no chão do carro e ela não estava interessada no celular que tocava com novas mensagens, parecia distraída.

- Você faz isso sempre?

- O que?

- Entrar no carro de desconhecidos sem avisar ninguém?

Fúria (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora