"I left you out there standing
Crestfallen on the landing
Champagne problems"
Penélope esbarrou na porta do quarto minúsculo pela quinta vez naquele dia. Sentia raiva em cada poro do meu corpo, raiva da sua mãe, principalmente, mas também raiva da vida. Queria berrar, se jogar no chão e gritar até que alguém resolvesse a sua vida, até que seu pai fosse lhe buscar.
E ela também queria gritar só para fazer o bebezinho idiota acordar, pois sabia que sua mãe tinha passado quase uma hora para fazê-lo dormir. Penélope sentia algum prazer vendo a mãe cansada e com olheiras, o cabelo oleoso. Uma minúscula compensação por tudo que ela estava lhe fazendo passar.
Eram quatro da tarde e seus braços estavam cansados de carregar coisas, seu corpo inteiro doendo de subir e descer escadas. Não tinha sido um bom dia para pular o café da manhã. Quando finalmente se sentou no sofá duro para descansar, e deu uma espiada em Rodrigo, que dormia profundamente no bebê-conforto, Maria apareceu na porta, com as mãos ocupadas com a mala de roupas do seu filho.
- Penélope! – ela olhou irritada para a filha - Termina de me ajudar e aí descansa, o aluguel do caminhão é só por mais uma hora.
A adolescente não se mexeu, uma dor de cabeça se formou, mas continuou em silêncio. Estava em silêncio desde que a mãe tinha lhe obrigado a sair da minha casa onde tinha crescido e lhe levou para aquele muquifo. Era sexta feira, e pelo menos ela não teria que ir à escola apenas na segunda, a estúpida escola nova que tinha certeza que iria odiar. Na sua mente, a escola era depredada, com pichações e alunos mal encarados nos corredores. Talvez armados. Caricato, mas a única referência de escola de pobres que ela tinha era de filmes e séries.
Ela checou meu celular, pela trigésima vez, mas sua pai ainda não tinha lhe ligado de volta. Tinha uma mensagem de Mimi, que ela ignorou, sem paciência para lidar com a melhor amiga..
Ia ligar de novo para o pai, mas antes que conseguisse terminar de digitar sentiu o celular ser puxado da sua mão.
- Acorda, Penélope! Eu já te pedi um milhão de vezes, ajuda sua tia que vai terminar mais rápido.
Ela respirou fundo, não conseguia sequer olhar para a mãe porque sentia que se o fizesse ia explodir.
Penélope já tinha sentido raiva da mãe antes, é claro. Elas não tinham o melhor dos relacionamentos, mas a raiva que sentiu naquele momento parecia ser tanta que escorria pelo seu corpo. Era ódio, nada que ela já tivesse sentido se comparava com aquilo. Ela respirou fundo, repetindo a técnica que a psicóloga do colégio tinha lhe ensinado.
- Penélope, eu não vou repetir – ela ameaçou.
Foi demais para ela, que se levantou e pegou sua bolsa do chão. Maria se aproximou, mas a garota não permitiu que ela lhe tocasse, desviando da sua direção, se sentindo sufocada pela falta de espaço, pela sua proximidade e pela sua voz.
- Eu odeio você! Eu odeio você, EU ODEIO VOCÊ! – a mãe lhe olhou sem muita emoção, talvez já esperando por aquilo. Elas se encararam, a respiração da mais nova acelerada. Por um segundo Maria ergueu a mão para tocar os cabelos da filha, uma mistura de gentileza e pena em seu rosto, mas Penélope empurrou sua mão - EU ODEIO, ODEIO, ODEIO, ODEIO, ODEIO VOCÊ, CACETE! É tão difícil de entender?!
- Filha...
Mas ela foi interrompida por Rodrigo, que começou a berrar. Sua mãe imediatamente lhe esqueceu, se virando para ele. Ela o pegou no colo, o balançando devagar. Penélope mal conseguia olhar para ele, o seu rosto minúsculo e deformado que lhe assustou e enojou tanto na primeira vez que o viu. Ainda de costas para ela, não havia mais gentileza na sua voz, apenas derrota.
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Fúria (FINALIZADA)
Chick-LitPenélope e Marcos se conheceram ainda adolescentes, quando ela se mudou para o apartamento ao lado. Perdidamente apaixonados, nem todos os problemas financeiros, emocionais e familiares conseguiram afastá-los, até que quatro anos depois ela subitame...