Não era suposto || Tiago Dantas

29.

Tiago

Depois de ter chegado à academia, ter tomado o pequeno almoço com os rapazes como é habitual e ter iniciado o aquecimento do treino com o mister Lage, sinto que tenho que falar com o Nuno sobre tudo isto. 

(...)

- Ela tem razão puto - ele fala, depois de eu contar o drama da Rita e a reação da Filipa - Tens que resolver as cenas com a Rita se realmente quiseres ficar com ela. E se estás na dúvida, eu vou te bater, porque não é pergunta que se faça. Se gostasses realmente da Rita, nunca colocarias em hipótese a Filipa

- Eu sei e quero que a Filipa acredite em mim, mas está difícil - confesso depois de termos terminado a corrida

- É óbvio que está, tu mentiste mano. Voltaste a erguer o muro que tinhas conseguido passar. Agora vais ter o dobro do trabalho, mas não é impossível se fizeres as cenas direitas - ele termina de falar, bate levemente nas minas costas e logo nos separamos para dar início aos primeiros exercícios do treino, que ainda faziam parte do aquecimento

Após o término do treino, de ter tomado banho e de almoçar com os rapazes como é habitual, volto para casa não precisando mais de regressar por hoje; uma vez que hoje estaríamos dispensados do treino no ginásio e eu iria aproveitar esse tempo para organizar algumas coisas e para fazer a mala na segunda.

Após 15 minutos estava a estacionar o meu carro, na garagem e subo indo diretamente para o meu quarto. Contudo, quando abro o meu armário, com o objetivo de separar casacos e camisolas, dou alguns passos atrás e viro a cara ligeiramente para a direita, olho através da janela na direção da piscina e logo avisto a rapariga que originava os meus maiores pensamentos ultimamente.

Sorrio levemente, caminho até à beira da janela e encosto-me à mesma, enquanto apreciava cada movimento que a mesma fazia durante os seus alongamentos. E, naquele momento, percebo que não conseguia cumprir com o que lhe tinha dito no dia anterior, não conseguia resolver este drama sem falar com ela e sem a manter informada sobre tudo o que iria acontecer daqui para a frente para não haver mais surpresas para ninguém.

Filipa

Depois de terminar a minha corrida, tinha voltado a estudar até à altura em que desci o comecei a preparar o meu jantar. E agora, estava prestes a sentar-me na cadeira com o meu prato à frente, quando alguém se senta à minha frente sem nem sequer pedir autorização.

- O que é que foi agora? - pergunto depois de encher o copo com água

- Isto está a matar-me - Tiago fala depois de passar a mão no cabelo - Eu preciso de te contar o que é que eu quero fazer, porque quero que percebas que eu estou a tentar fazer alguma coisa para acabar com isto

- Contínuo sem querer saber...

- Eu vou pedir para fazer análises sanguíneas- ele fala interrompendo-me - Mas só posso fazer isso daqui quase duas semanas e nessa altura eu não vou estar cá. Para além disso eu quero fazer sem ela saber o verdadeiro significado para evitar mais esquemas, o que só pode acontecer quando eu voltar dos Estados Unidos.

- Tu achas mesmo que estás a ser enganado? - eu pergunto parando de mastigar a minha garfada, olhando para ele

- Acho, pelo menos quero ter a certeza que não te estou a perder por um joguinho de meia tigela - ele fala, levantando-se da cadeira e eu sinto que aquela frase me marcou mais do que o que era suposto

- Tens jantar para ti, se quiseres - digo antes que ele comece a subir as escadas, logo o mesmo se volta na minha direção e eu quase jurei ver um sorrisinho no canto dos seus lábios.

(...)

Eu sei que provavelmente não o devia ter convidado para jantar comigo mas depois daquela frase não consegui negar que precisava daquele momento. E a verdade é que o jantar correu estranhamente bem, não voltamos a falar sobre o assunto principal das nossas últimas conversas e parecíamos amigos desde sempre; o que fez com que ambos nos esquecêssemos deste mau ambiente constante. 

No entanto hoje era um dia novo e a calma tinha passado no momento em que cada um de nós subiu as escadas e entrou no seu quarto. Ontem à noite ainda tinha voltado a estudar por mais duas horas portanto hoje tinha-me deixado dormir até mais tarde, para aproveitar finalmente o fim de semana.

Depois de me levantar da cama, tomo banho e desço até à cozinha com o objetivo de preparar o meu almoço, uma vez que não fazia sentido tomar um pequeno-almoço tão tarde e assim a minha altura do dia após o almoço começaria mais cedo do que habitual e seria mais produtivo.

No momento em que abro o frigorifico e tento pensar em algo que me apetecesse fazer para a minha refeição, a campainha da casa toca. Rapidamente a minha cadela se dirige para a porta e eu sigo-a, respirando fundo assim que vejo através da câmara quem era o responsável pelo anterior som vindo da porta. Abro a porta principal de minha casa com a tentativa nitidamente falhada de simpatia e deixo Rita passar até ao interior da sua habitação

- Bom dia Filipa - ela fala com a sua simpatia extremamente desnecessária e excessiva e dirige-se até à sala - Eu vou esperar pelo Tiago na sala

Sem nem sequer responder, caminho novamente até ao local onde estava anteriormente porque não ia deixar que a presença desta ave rara atrapalha-se o seu dia. Pelo menos era o que eu pensava, no entanto não foi necessário nem cinco minutos para que Rita tivesse novamente no meu campo de visão.

- Sabes? - ela fala chamando a minha atenção - Logo no primeiro dia que nos vimos eu tive a sensação que nos conhecíamos de algum lado e agora eu tenho a ligeira ideia que não estava assim tão errada - ela para de falar e coloca uma moldura com uma foto minha, consideravelmente mais nova, com a minha irmã - Não é mesmo, Pipa?

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