II

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O céu sobre as nossas cabeças testemunhou a verdade desde o início. Os deuses deixaram um legado para aqueles que ficaram. O Poder Regente foi dividido em partes iguais entre as raças viventes.
A Centelha da Vida para os dragões do céu. O Espírito para as fadas da terra. O Caos para os demônios das profundezas. E a Coroa para os homens que habitam o céu, a terra e as profundezas. Assim, cada fragmento do Poder Regente ficou conhecido no novo mundo como os artefatos God's Vision.
Como o passado persegue o futuro, o presente foi vítima de uma guerra atemporal. Os deuses dragões e as rainhas fadas convocaram os lordes demoníacos e os heróis humanos para assinar um acordo de paz entre as raças.

Comprometidos a estender uma bandeira de paz sobre os reinos do mundo, os representantes aceitaram os termos de não guerra, de livre passagem e sem interferências comerciais entre seus povos. Com isso, eles esperavam criar a paz eterna sobre o mundo.
O lugar ideal para jurar pela paz era no Sacred Gaia's Heart - o grande templo do centro do Mundo - elevava-se além das nuvens e apontava como um farol para todos os reinos; ali, os deuses, as rainhas, os lordes e os heróis uniram-se para jurar que jamais lutariam entre si.

As linhas do destino se desenharam na cidade de Ouroboros - a última capital antes de as comitivas adentrarem no território sagrado do centro do mundo.
Sob lençóis amassados e suspiros, Lilith conversava com um herói humano: - Vamos roubar os artefatos das fadas e dos dragões, meu querido, logo depois do acordo realizado.
Dominado, Abrao falara tudo que lhe era conveniente - ainda que sua consciência o condenasse pela traição.
- Será durante o jantar, então? Vamos incitar uma briga e depois seu primo cuida do resto. O plano é ousado e aparentemente sem falhas, mas e se algo errado acontecer? Como vamos escapar da punição dos outros senhores?
- Perguntas demais, querido - disse Lilith, em gemidos.
Os corpos se reteseram e o herói também se derramou. Abrao brincava com os fios dourados do cabelo de Lilith, refletindo sobre o plano.
- Eles não são nossos irmãos e irmãs, Abrao - disse Lilith, quebrando o silêncio telepático. - Você tem medo de Reya e do Dragão Dourado? Com as nossas partes, eles não irão tocar nos nossos reinos.
Pensativo, ele decidiu que faria parte do plano - mas isso o deixava assustado.

***

Sátiros tocavam e ninfas dançavam embriagadas ao som de flautas doces e tambores. O salão de festa do templo era iluminado por uma engenhosidade da antiguidade e cercado por colunas talhadas de palavras sem tradução.
O

s deuses dragões deleitavam-se com carne e vinho; os lordes demônio apenas observavam - e as rainhas das fadas conversavam com os heróis humanos.
- Como vai o reino dos homens, Abrao? - questionou Ymir, a fada de cabelos azuis e pele perolada. - Eu soube que vocês enfrentaram problemas com os grand-orcs de Mortia?
- Sim, minha rainha - interpolou Esther, a heroína. - O rei orc provocou um levante para derrubar Zion. Demoramos um inverno e uma primavera até derrubar as muralhas da Fortaleza de Ossos.
Ymir notou a apatia de Abrao e os olhares enfurecidos para os lordes demônio.
- O que há, valoroso Abrao? Há algo que o incomoda em nossa comemoração?
O herói levantou, fez uma mesura e respondeu: - Minha rainha, há provocadores em nossa mesa - naquele momento a música e as danças pararam. - Nos seus aposentos eles riem e mentem para seus servos sobre a honra dos heróis humanos... e eu não posso mais tolerar essa hipocrisia.
- A quem você acusa, herói? - questionou a Dragão Azul, de escamas cristalinas como as águas do Mar de Vidro. - Há pouco selamos a paz, prometendo que jamais levantaríamos a guerra entre nós guardiões dos artefatos God's Vision. E agora você levanta uma questão contra a sua honra? Seja direto e reclame o seu direito, então julgaremos sua petição.
Todos ansiavam pelas palavras de Abrao.
- A minha petição é... - o machado de guerra em mãos - então o inevitável. A arma se estendeu como um borrão através do ar e por centímetros não acertou o rosto de Lilith.
- Ultraje! - ela gritou. - Este humano levanta uma questão diante de todos os senhores do mundo e agora tenta me tirar a vida. Isso é uma tentativa de assassinato.
Abrao encarava a cúmplice.
Ela continuou: - Eu não admito ser tratada desta maneira. Eu exigo um combate para que ele pague pelo seu crime - os olhos como chamas liquefeitas.

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