VIII Nada de chiliques

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O caminho iluminado de cogumelos biofluorescente terminou em uma galeria repleta de pequenos buracos.

O ar era melhor de respirar e do centro do teto se projetava um raio de sol solitário e fino como se passasse através de um funil.

Jess, Aimee e Bertrand caminharam por algumas horas até chegar àquele lugar.

O objetivo era retornar ao acampamento, mas depois de o caçador buscar as duas no túnel escuro, algo mudara na rota que ele havia traçado.

- Eu não gosto deste lugar - disse Bertrand, segurando uma pequena kunai. - E piora porque eu não lembro de ter errado tanto assim o caminho de volta ao acampamento.

- Uma coisa que você não explicou foi como você nos achou - falou Aimee, apoiando as costas em uma parede para descansar um pouco. - Aquele lugar era muito escuro para qualquer um enxergar que nós duas estávamos lá.

Bertrand apontou para seu nariz fino.

- Eu usei meu faro.

- Apurado, hein - retrucou Jess.

- Você tem um perfume forte de rosas e mel - Bertrand respondeu.

A moça não sabia se aquilo era um elogio ou uma ofensa.

- E isso é bom? - ela questionou.

- É péssimo. Quanto mais forte o perfume, mas fácil fica de caçarem vocês. Isso pode ser mortal - respondeu o caçador, cruzando os braços.

Jess decidiu que o comentário sobre o seu cheiro era um elogio, mas também guardou para si a advertência de Bertrand.

O caçador fez - shhh!

As duas mulheres seguraram a respiração, evitando o mínimo de barulho.

O caçador chamou as duas, usando as mãos e indicou que ficassem escondidas nas fendas que se desenhavam nas paredes do formigueiro.

Jess escolheu uma em que cabiam ambas.

Aimee entrou depois de Jess.

A coisa a partir daí ficou mais estranha, porque a fenda era repleta de uma resina colante de cheiro amadeirado.

Os cabelos das duas ficavam colados ao menor toque nas paredes da fenda. Por isso elas se abraçaram para  evitar qualquer toque nas laterais.

Aimee notou que a fenda se alongava muito acima, percebendo também centenas de milhares de casulos pendurados nas paredes até onde sua vista alcançava.

- Jess, olhe... - sussurrou, apontando para o alto com os olhos. - Acho que este lugar é um berçário.

- Que conversa é essa, Aimee?!

- Veja!

Jess se mexeu do jeito que dava e olhou. Naquele momento, um pequeno ovo eclodiu, derramando mais daquela resina que escorria pelas paredes.

A pequena criatura colocou um ferrão semelhante ao de escorpião para fora da casca. Seu tamanho era semelhante a de uma ratazana e grunia num tom pertubador de notas agudas.

Ouvi-la era como ter agulhas penetradas nos ouvidos.

Aquela coisa que acabara de nascer era uma legítima formiga-ferrão. E apesar de bebê, era tão perigosa quanto um adulto. Uma vez que o veneno na fase infante de uma formiga-ferrão é muito mais concentrado do que o veneno de uma formiga adulta.

A pequena formiga subia e descia pela parede. Além do grunido, suas pequenas patas produziam um vibrante som rascante nas paredes, que fizeram Jess lembrar de como um garfo arranhando um prato de vidro pode ser uma coisa irritante.

OUTRO MUNDO - em hiato Onde histórias criam vida. Descubra agora