Noah Cavallera, o mais comum dos comuns. Não havia nada de emocionante em sua vida, além do recente rompimento com Jess Smith. Mas um dia, forças antigas e poderosas o colocaram no caminho de Freya, uma poderosa fada rainha exilada de seu trono que...
A noite esconde horrores, entre vários, os monstros da nossa imaginação. - Merda! - Noah gritou ao tropeçar, a lanterna que trouxera não durou muito e a luz da lua desenhava apenas um caminho tortuoso entre as árvores; uma fina névoa escondia o chão e o som das criaturas noturnas assombravam as fobias do rapaz - a cada farfalhar das folhas, o coração palpitava. Bateu no próprio rosto para sentir que estava no comando, olhou à frente e mentalizou um padrão - a cada dez árvores iluminadas, dez metros ao norte -, e caminhou.
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B
ertrand riu da ofensa de Mary. - Vejo que a pequena é versada na arte da maledicência. - Ela não é assim - interpolou Aimee. - A culpa é sua, seu bandido. De onde estava, o rosto do sequestrador parecia apunhalado pelas chamas da fogueira. - O que você quer com o nosso filho? - questionou Isaac, aborrecido. - Eu não quero nada. Ele é apenas uma presa como qualquer outra - o caçador respondeu, tirando da fogueira duas estacas quentes de ferro. - Você falou comigo antes, seu bobalhão? O que a gente te fez pra você fazer isso? - disse Mary, carrancuda. A carne chiou quando Bertrand as atravessou com as estacas, depois as colocou perto do fogo. Os cachorros lamberam os focinhos. - Nós já vamos comer, fiquem calmos - disse Bertrand. - Eu já disse, menina. Seu irmão é apenas uma presa. Alguém me pagou pela cabeça dele, é só isso. Jess não tirava os olhos sobre o caçador. - Qual foi o preço? Aimee e Isaac a olharam, curiosos. Bertrand caminhou para perto de Jess. - Humanos são fracos. A carne não tem um sabor bom, mas os meus cães apreciam roer os ossos, sabe? Depois eles chupam o tutano bem devagar - os olhos excitados -, com a vítima ainda viva, assistindo tudo - disse. Os reféns tremeram. - Você é maluco! - Isaac gritou. O caçador assobiou, os cães ergueram a cabeça. - Aqui, Koba! O cão foi em direção à Mary. A menina chorava e se debatia. - Não faz isso! - gritavam seus pais. Koba tinha o tamanho de um búfalo e pelo negros, os caninos se projetavam para fora da boca - dentes serrilhados como dos tubarões. A garota fechou os olhos quando sentiu o fedor de carniça da boca de Koba - eram seus últimos instante. O cachorro latiu, esperando a instrução. - Vai!
Ela abraçou seu corpo, um arrepio sem fim, gelada e áspera, passando pelos braços, pescoço e rosto. Depois o peso nas pernas, o choro. - Cachorro de bosta - xingou o caçador. Mary abriu os olhos, a fogueira tremulava embaçada para ela. Demorou até se acostumar com a luz e com Koba, no seu colo. - Acho que o seu cachorro gosta de mim - disse, com ranho descendo do nariz. - Tsc! - o caçador colocou as mãos no bolso, e disse - Essa ninhada só deu porcaria. - Por que o meu filho é sua presa? - questionou Aimee. - Ele filho nunca se envolveu com coisas erradas. - Você tem certeza? O preço pela cabeça dele é muito alta no submundo - Submundo? - repetiu Aimee, aos prantos. - Você ouviu, Isaac? Nosso filho está com a cabeça a prêmio no submundo! Isso é tudo culpa sua por ser um cretino. - Eu não tenho nada a ver com isso, sua bruxa! Tem certeza que isso não é coisa daquela raposa velha, seu pai?! - Eu te odeio! - Eu também te odeio! Bertrand se irritou. - Calem a boca, os dois! - disse. - Pelos deuses, vocês são uma família disfuncional. Já resolveram procurar terapia? - Isso é alguma piada - Mary se intrometeu. - Você amarrou a gente nessa caverna, me ameaçou de virar osso pra cachorro e tem coragem de perguntar isso? Você é maluco, cara!
O caçador deu as costas, pegou uma das estacas com carne assada e tirou um farto pedaço. - Eu sou formado em psicanálise e assassinato - respondeu. - Acho que posso ajudá-los. - Não podemos fazer terapia de mãos atadas - Jess interpolou, a única que manteve a calma. - Pode nos soltar? Bertrand limpava a gordura que escorria da boca. - Eu não posso, para segurança de vocês. - Segurança? - repetiu Isaac. - O que tem de seguro nisso? - Se vocês se perderem aqui no formigueiro, vocês correm o risco de virar comida dos monstros. - Do que você está falando? - questionou Jess. - Isso é alguma metáfora? O caçador terminou de chupar os dedos, secou-os na calça e disse - O Formigueiro Infernal é muito perigoso para humanos. Um vacilo e vocês viram papinha. - Que lugar é esse? - Aimee retrucou. - Burrice a minha. Esqueci de avisar que estamos no Outro Mundo. - O quê?! - disseram. Irritado, Bertrand respondeu - Vocês humanos são burros ou o quê? Nós atravessamos a barreira e agora estamos do outro lado. Aimee sussurrou para Isaac - Eu já vi isso. Temos que entrar na paranóia dele. - Ok - sussurrou Isaac. Carrancudo, o caçador disse - Eu ouvi o que os dois disseram. Isso não é paranóia. Vocês é que não sabem da verdade do mundo. - Que verdade? - Jess perguntou. - Nunca ouvimos algo assim. Bertrand deitou - Eu estou muito cansado para explicar tudo. Quem sabe amanhã - bocejando, disse. - Por favor - implorou Jess. - Tudo bem. Digamos que seu mundo foi banido do resto do "mundo". É isso. Paranóia ou não, Isaac ficou pensativo sobre o que ouviu. Como cientista, ele não podia se fechar às possibilidades, ainda que soassem como loucura. - Isso explica o tamanho dos seus cães, não é - retrucou. - Mas eles não estavam grandes assim quando você invadiu nossa casa. - Magia. - Isso não existe - disse Aimee, chateada. Bertrand ergueu a mão, a fogueira apagou por um momento, todos ficaram no escuro - uma bola de fogo apareceu. O caçador a segurava com a palma da mão, o mesmo calor e intensidade da chama - era real. - Isso é magia, humanos - disse.
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- Apareçam! - gritou o rapaz, sentido-se observado. Quis desistir, mas lembrou que arriscar a vida era uma condição para resgatar sua família. O arbusto mexeu - Noah ficou tenso. Sentiu algo agarrar a perna e correu aos tropeços - cada passo era como levantar anilhas de cinquenta quilos-, mas conseguiu alcançar uma clareira. Crânios e ossos se espalhavam pelo lugar, o miasma da matéria em decomposição se elevava, brilhando verde. A mente estressada via formas absurdas; inclinou-se para puxar o fôlego. - Está tudo bem - resmungou. - É só coisa da sua cabeça. A perna ardia e algo quente e viscoso molhou sua calça; Noah passou a mão e viu que estava sangrando. - Droga! Sem tempo para relaxar, virou-se ao ouvir algo. A coisa pulou das árvores, um borrão que saltava de um lado a outro - o rapaz tateou o chão à procura de algo para se defender; os dedos passaram entre folhas, terras e ossos. Pegou algo firme e levantou. - Vem, seu merda! Pode vir! - gritou, dando golpes a esmo. A coisa continuava a pular - Noah sentiu um repuxo na outra perna, que o colocou de quatro. O corpo lembrou do veneno da lamia; músculos e tendões amolecidos pela toxina. Arrastou-se até uma árvore, a coisa na sua direção. - Acaba logo com isso! - gritou, chorando, a respiração pesava - balbuciou algo incompreensível - e desmaiou.
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F
reya e o velho correram quando viram a porta arrombada da casa de Noah. - Não acredito que aquele insolente foi capaz disso - disse o velho. - É culpa minha. Eu sabia que não era seguro deixar o menino sozinho. O cheiro de cachorro e as marcas não eram estranhas à dupla. - Se o Noah morrer, o artefato deixa um rastro - o velho disse. - Que pesado, hein. Acho que você está perdendo a linha. O velho riu, sem graça. - Eu não posso deixar de considerar essa possibilidade. Já faz muitos anos que Bertrand faz as coisas do jeito dele. Freya parou na frente da mensagem, olhando-a. - Ele desafiou o Noah - disse. - Levou todos para o Outro Mundo como refém. - Mas e o rapaz? Eu não sinto ele aqui - respondeu o velho. - Magister - disse Freya. Uma bolsa apareceu - a fada tirou uma garrafa arredondada e jogou seu conteúdo sobre o piso; reflexos translúcidos mostraram a noite passada. Viram quando Noah subiu e desceu, seguiram-no até o quarto, até o momento em que ele atravessou - então a forma de desfez em pó. - Já sabemos para onde foram - disse o velho. - Vamos atrás de quem primeiro? - Acho melhor ir atrás do rapaz. Depois pensamos em como tirar a família das mãos do Bertrand. - Entendo - respondeu o velho. - Vamos. A passagem se abriu. O sol brilhava e a grama balançava com o vento - Freya estava na campina em frente à Floresta das Aranhas. - Como diabos ele veio parar aqui? - pensou. - O que acha que aconteceu, velho?! Velho?!
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E aí pessoal, blz? Espero que sim! E então, curtindo a história do Noah? Também espero que sim. Vim avisar que irei mudar de casa. Irei morar em Blumenau-SC, e por isso, talvez, o capítulo da semana que vem atrase. Mas é só um talvez. É isso! Um abraço e não esqueçam de comentar e votar.