Draco acabou não fazendo o chá. Draco acabou chorando no ombro de Harry.
A última vez que o viu chorando foram uns onze, doze anos atrás, naquele banheiro, e na hora que Draco descobriu que Harry tinha o visto em uma posição tão vulnerável, ele tinha parado e tentado o acertar com um crucius. Agora parecia estar com tanta dor e em tanto pânico que nem conseguia se importar com aparências e muito menos com Harry.
Depois de o soltar ele congelou, os olhos arregalados e as mãos ainda perto dos braços de Harry, como se ainda estivesse preparado para o empurrar contra parede caso precisasse o fazer de novo.
No fim, ele só olhou para cima, para os olhos de Harry, atingindo Harry quase que com mais força e violência do que um soco: aquela súbita realização do quão parecidos Draco e Scorpius eram. Iguais, principalmente enquanto tentavam segurar o choro, enquanto os olhos deles se enchiam de lágrimas, eles tentavam acalmar as respirações, mas elas continuavam pegando e ficando presas em soluços vazios e mal reprimidos.
Harry quase preferia que ele só soltasse. Era melhor do que o observar segurando tanto. Parecia que doía mais, não deixar as lágrimas caírem.
Até que, Draco parou de segurar.
Ele chorou. Abaixou a cabeça, o que só acabou a aproximando do ombro de Harry, e as mãos dele se levantaram de novo, fechando em punhos na jaqueta de Harry. O segurava com força. Os ombros tremiam. Tudo parecia tremer.
Harry não tinha a mínima ideia do que fazer.
Não sabia se deveria colocar as mãos nos ombros de Draco e o segurar. Passar os braços por ele e o abraçar, até. Uma parte dele quase queria, sentia que era algo que Draco estava precisando desesperadamente, mas também não sabia como Draco iria reagir. Mesmo odiando ficar assim, parado, inútil, Harry ainda tinha um certo senso de preservação. De vez em quando pensava antes de fazer as coisas.
Ele ficou parado. Não fez nada enquanto Draco chorava.
Era uma posição desconfortável. Extremamente e provavelmente para os dois. Harry não era uma pessoa tão ruim que iria empurrar o outro homem para longe. Não faria algo tão cruel nem com seu pior inimigo e, aos vinte sete anos, já fazia um bom tempo desde que pensou em Draco Malfoy como um inimigo.
Harry não chorava – quando algo de horrível acontecia, nem o corpo nem a mente dele tinham o costume de reagir, se fechando e esvaziando por instinto. Nas muitas poucas ocasiões em que chorava, ele ia parando devagar; fungando, secando os olhos e o nariz, respirando com dificuldade até estar com o peito calmo ao ponto de conseguir soltar uma fraca piada, caso estivesse com um dos amigos por perto. Com Draco, em um momento ele estava soluçando como uma criancinha, no outro estava se endireitando, rosto vazio e rígido, respiração silenciosa e calma.
Crescido assim, o rosto dele era ainda mais parecido com o de Lucius. Tinha a boca de Narcisa, mas tirando isso era todo o pai a não ser pelos olhos, que eram alguns tons mais escuros de cinza, e estavam muito vermelhos de um jeito que Lucius nunca iria aceitar ser visto. A não ser por aquele detalhe, não havia nada na expressão do homem que daria a entender que ele já tinha derramado uma única lágrima em toda a vida.
Draco deu um passo para trás, endireitando as roupas, estoico apesar das mãos que tremiam.
"Eu quero ver o Scorpius," disse. A voz estava controlada, horrivelmente fria apesar de não haver dúvida alguma em Harry que Draco não estava si aguentando de tantos sentimentos intensos que havia dentro de si. "Eu quero ver o meu filho agora."
*
Draco e Gordon se conheciam. Estava mais do que claro que a relação deles não era cordial, muito menos amigável. Draco o encarava com olhos que pareciam querer lançar uma série de Avada Kedravas na direção do chefe de Harry, cortantes e furiosos.
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i doubt the stars are fine, DRARRY [1]
FanfictionMalfoy perdeu um bebê. Anos depois, Harry encontrou uma criança. Demorou menos de 24 horas para descobrirem que esses dois fatos estavam conectados.