08; turma de 73

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Harry acordou junto com o nascer do sol, condicionado e acostumado por uma década de trabalho e insônia. A casa estava silenciosa, ainda adormecida, mas isso era outra coisa com a qual Harry já tinha ficado habituado, nenhum dos amigos ou namorados dele nunca tendo se levantado na mesma hora que ele preferia levantar. Se enrolou no único casaco que tinha trago e aventurou castelo a fora, os passos quietos, abafados pelas meias do jeito que tinha aprendido ainda com os Dursleys, se esgueirando para roubar comida no meio da noite.

Os corredores cheiravam a magia sombria, poeira e ar velho, então depois de um segundo de hesitação, Harry começou a abrir as janelas e cortinas pelos quais passava, deixando ar limpo entrar.

A luz do sol derramou pelos corredores, se alastrando pelas paredes, caindo pelo chão, levando as luzes das velas encantadas para ligarem e desligarem sozinhas dependendo se havia iluminação ou não. A sombra distorcida dele o seguia enquanto ele andava pelo lugar, espiando os cômodos pelos quais passava. Quartos antigos maiores do que a primeira casa para a qual Harry tinha se mudado logo depois de sair da casa dos Dursleys; uma biblioteca menor do que a de Hogwarts, maior do que qualquer família iria precisar; um salão de baile, salão de jantar, uma sala de estar com janelas gigantes, lustres, espelhos dourados, muito o lembrando dos cômodos onde senhoras antigas tomavam chá e entretinham convidados nos filmes de época que Petúnia gostava de ver. Ele nem tentou subir para os outros andares com medo de se perder.

Tinha um cheiro adocicado saindo da cozinha e, quando o seguiu, viu chá quente no fogão e algo no forno. Não havia nenhum sinal de Draco lá dentro, mas ele seguiu para o lado de trás da casa e o viu parado no pátio que lá havia, sentado em um dos bancos de pedra e bebericando uma caneca.

Harry hesitou, engolindo em seco. Draco estava com os olhos fechados e a cabeça inclinada para trás, sentindo o sol fraco no rosto e respirando muito fundo, como se fosse a primeira vez que se permitisse um momento de calma desde que perdeu Scorpius. Havia algo vitorioso e estranhamento bonito naquela imagem, os raios afundando naqueles cabelos prateados, pele pálida, feições longas.

Harry disse: "Bom dia," com cuidado para manter a voz baixa, apesar de que ele assustou Draco do mesmo jeito.

O homem se virou, o lançando um olhar surpreso antes de se obrigar a acalmar e relaxar a postura. Não estava de casaco como Harry, mas estava com roupas Trouxas: uma camisa social tão branca que parecia impossível, as mangas dobradas para cima, e calças tão elegantes e caras quanto o resto.

"Acordou cedo," comentou Harry.

"Sempre acordo," disse Draco. Harry se sentou do lado dele e ele hesitou por um segundo, antes de o falar, a voz baixa e séria: "Eu sempre acordei. Prefiro assim. Mas teve uma época... depois da guerra, e então depois do desaparecimento do Scorpius, até por um tempo depois da morte da Astoria também, em que eu nunca nem saía da cama. Você... você deveria saber disso, Potter. De vez em quando é difícil para mim. Scorpius vem ajudando, até só ter a presença dele, mas... mas eu tenho medo, de que possa voltar a ser um problema."

Era uma admissão chocante a qual Harry não estava pronto para receber assim do nada de manhã, a não ser que assim que raciocinou o que ouviu, ele entendeu que Draco estava certo de que isso era algo importante que ele soubesse.

"Ficaria surpreso se você não tivesse problemas depois de tudo," admitiu com sinceridade. "Obrigado por me falar. Me mataria se eu te falasse para conversar com uma terapeuta?"

Draco o lançou um olhar, levantando uma sobrancelha.

"Acha que eu ainda estaria vivo se não tivesse uma já?" rebateu. "Astoria me obrigou assim que a gente começou a namorar e ela começou a ouvir sobre a minha experiência com Você-Sabe-Quem. A Daphne obrigou nós dois a continuar indo depois do que aconteceu com o Scorpius. Dei uma pausa nas sessões enquanto estava na Espanha resolvendo a parte legal da morte dela, dobrei as sessões assim que voltei, agora dei outra parada para ficar com o Scorpius, mas já mandei uma carta para ela. Eu quero viver pelo meu filho, Potter. Sei que tenho que viver bem para ele crescer bem e eu sei que no estado que eu venho estado pela última década, qualquer ajuda é mais do que necessária. E você, menino que sobreviveu? Já falou com alguém?"

i doubt the stars are fine,  DRARRY [1]Onde histórias criam vida. Descubra agora