02; rostos familiares

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Scorp amava ovos mexidos, principalmente ovos mexidos com torradas.

Ele odiava bacon porque odiava comer animais e Harry, ao ouvir a firmeza na voz dele e ver a absoluta seriedade naquele rostinho pequeno, não perguntou nada sobre galinhas. Ele insistiu em ajudar Harry com o café da manhã e sabia como torrar o pão do modo Trouxa, usando uma torradeira, mas não sabia como usar o fogão e pediu para Harry fazer os ovos para ele e ferver água para o chá deles.

"Mamãe diz que o fogão é perigoso," explicou enquanto colocava três cubos de açúcar no chá e estendia todo o pequeno corpo por cima da mesa para pegar o leite.

As bochechas estavam vermelhas com cada movimento que fazia, apesar de Harry não ter muita certeza do porquê. Envergonhado parecia ser o modo natural de Scorp.

"Sua mamãe está certíssima," foi o que Harry respondeu, sorrindo para criança. "Com fogo não se brinca."

Instintivamente, uma das mãos dele se levantou e coçou o braço dele por baixo das mangas longas da blusa, bem onde ele ainda tinha cicatrizes onde óleo tinha respingado quando ainda era mais novo do que Scorp e Petúnia o fazia preparar o café da manhã de Duda e Valter. Elas nem doíam mais, mas sempre que ele lembrava da existência delas, ele sentia uma coceira.

Harry virou os ovos com a espátula e grande maestria, sem óleo, sem gritos, sem castigos, lançando um olhar por cima do ombro.

"Sua mãe te ensinou muito sobre cultura Trouxa?"

Estava com vontade de saber mais desde que viu Scorpius mexendo na torradeira sem problemas. A sala de Todd não tinha nenhuma televisão ou eletrônico pelo que Harry viu e, mesmo depois da guerra bruxa e com eles estando em uma fase relativamente calma em que o preconceito e crimes contra nascidos trouxas vinha só diminuindo, nada tinha desaparecido. O pensamento de que Trouxas eram inferiores e suas tecnologias desnecessárias nunca nem tinha perdido força, ainda muito popular e esperado.

Jodie Todd era uma sangue puro.

Ela casou com um mestiço e lutou contra Voldemort, mas isso não mudava o fato de que ela nasceu em uma família inteira de bruxos e muito provavelmente nunca teve muito contato com o mundo trouxa como criança ou adulta. Harry tinha conhecido muitos bruxos que foram contra ideais Comensais, mas que continuaram ignorantes de assuntos trouxas e, muitas vezes, se sentaram confortáveis e imóveis em tal ignorância, sem querer aprender ou melhorar.

Scorp concordou com a cabeça.

"Mamãe diz que respeitar a cultura Trouxa é muito importante," comentou, franzindo as sobrancelhas e enrugando o narizinho naquela expressão que só crianças conseguiam fazer parecer fofa, uma careta pensativa que dizia que ele não conseguia entender muito bem porque aquilo era necessário de se dizer, de tão óbvio que era. Como se Scorp não conseguisse entender porque não iria respeitar Trouxas.

Crianças, para Harry, sempre foram um assunto complicado.

Ela passou a própria infância inteira vendo como uma criação errada podia as transformar em pequenos monstrinhos e apesar de ainda estremecer sempre que passava por algum adolescente que o lembrava de Duda ou de Malfoy, hoje em dia, adulto, não podia deixar de ver situações assim como algo desesperadamente triste que o deixava se sentindo terrivelmente impotente. Havia algo no peito dele, frágil e triste e dolorido, apertando sempre que ele olhava para crianças, quando pensava em todas que ele tinha conhecido que foram tão prejudicadas pelos pais de tantas diferentes maneiras, que sofreram tanto por causa de adultos. Que morreram.

Não ajudava que, com o trabalho dele e os muitos esforços com Hermione e Rony para limpar as sequelas da guerra na comunidade, Harry tivesse visto algumas das piores situações que a humanidade podia causar.

i doubt the stars are fine,  DRARRY [1]Onde histórias criam vida. Descubra agora