» ◇ « Prólogo; a cartinha perdida. » ◇ «

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— Você é tão idiota!

Marinette grita comigo, o que me faz automaticamente saltar quando a porta do meu quarto é aberta com uma fúria desmedida.

Minha única reação é puxar minha calça com uma rapidez tremenda.

— Marinette?! Você não pode invadir meu quarto assim!

— E você não pode colocar seus amigos babacas para me vigiarem nas festas, seu idiota de merda!

Sinto todo o pouco de água que eu tinha deixado em um copo sobre a escrivaninha ser jogado em meu rosto. Puta que pariu! Levanto meu corpo no mesmo momento, passando a mão sobre os olhos.

— Filha da puta! — Rosno.

— Você que é! O... o que estava pensando quando pediu para que Le Chien Kim ficasse me vigiando, hein?! Você tem merda na cabeça, Agreste?!

— Pedi para que ele tomasse conta de você porque você é uma lerda, Marinette! Ia beber sem aguentar e eu teria que ir te buscar, e sabe que...

— ...'que você está descansando o braço para o próximo jogo do colégio'. — Ela revira os olhos, o que me faz bufar por instinto. — Uma boa que você não possa dirigir, mas pode usar o braço para outras atividades mecânicas, não é?!

O que porra essa baixinha está insinuando?!

— Eu... eu não estava! — Meu rosto esquenta involuntariamente. Me aproximo dela. — Isso não tem nada a ver com o papo! Coloquei Kim para te vigiar para que você não fizesse merda.

— Ele não saiu do meu lado, pareceu um guarda-costas!

— Porra, cinquenta euros fazem Kim adotar qualquer papel mesmo...

A ira nos olhos índigos parecem ir até a minha alma, prendo uma risada no fundo da garganta.

— Esse... cara cobrou cinquenta euros para me vigiar?!

— Pois é... sua segurança é bem barata.

Um bico manhoso brincou no rosto abonecado da Cheng. Cruzei os braços, mas acabo surpreendido quando ela vem em minha direção.

Seu corpo colide com o meu, o que me faz cair sobre a cama. Marinette acaba montada em cima de mim, as unhas grandes indo em direção ao meu rosto. Seguro seus pulsos, o que não a impede de usar o bendito joelho entre minhas pernas.

Cacete, Marinette me odeia ou eu estou ficando louco?!

— Porra, sua... AI!

Sua unha consegue ir certeira em minha bochecha.

— Idiota de merda! Você acabou com minha chance de pegar o Luka! Eu te odeio, e vou acabar com esse seu rostinho de príncipe!

Protejo meu rosto com as mãos, tentando ao máximo desviar de seus tapas. Marinette é ágil, além disso, perspicaz com bons reflexos. Uso meus joelhos para travar sua cintura, o que não facilita para mim.

Ok, eu vou morrer.

Ou não...

— MÃÃÃÃÃEEEEEEEEEEE!

Esgoelo, quando ouço saltos no corredor. Olho para o relógio, são nove da noite e mamãe deve estar chegando agora do colégio. Minha salvação, eu espero.

Solto um suspiro relaxado quando a porta é empurrada, e mamãe nos encara com surpresa.

— Mãe! A Marinette quer me matar!

O olhar de Marinette muda drasticamente para a porta.

— Tia Ems! Eu odeio seu filho, odeio, odeio, odeio! — Uh, oh... o tom fraco da voz serve como preludio do que aconteceria em seguida. — Ele... ele...

A voz quebra, e ela esbugalha-se em lagrimas falsas com soluços altos demais para serem verdadeiros. Sim, é como Marinette quebra o coração de minha mãe. Ela faz isso desde os sete anos de idade, quando eu revidava seus puxões de cabelo e ela queria me foder.

E continua com aquilo até na atualidade.

— Adrien! — O tom de minha voz era de quem estava – certamente – puta da vida comigo. Rolo os olhos. É, Marinette conseguiu o que queria! Observo mamãe vir em nossa direção, puxando Marinette com carinho e ajudando-a a ficar em pé. Em seguida, a menor usa de toda a sua manha para enfurnar o rosto no colo de minha mãe durante um abraço apertado. — O que você fez dessa vez, hein?!

— Ele colocou um brutamontes do time para ficar atrás de mim, tia! Você acredita?! Ele não tem... esse direito! Ele acabou com a minha chance de conversar com o garoto que eu gosto, e isso é um marco na vida de qualquer garota de dezenove anos!

— Ah, para Marinette! Você sempre flerta com o Luka!

— MAS HOJE SERIA DIFERENTE! — Seu olhar é certeiro, no fundo é um 'você que não tenha a audácia de falar sobre minha vida amorosa' e eu acabo rindo. — Olha, tia! Seu filho é um...

— JÁ CHEGA, OS DOIS! — O grito de minha mãe faz com que eu salte. Me sento direito na cama. — Adrien! Amanhã vou conversar sério contigo, e Marinette... — O olhar suaviza de maneira drástica quando se volta para a baixinha em minha frente. Sério isso?! — Você terá outras chances, não fica assim minha princesinha... agora, troca de roupa e descansa tudo bem?

Marinette assente, e mamãe sai do quarto. A menor gira o corpo, as lagrimas de antes não dando nem mesmo sinal de quererem voltar a tona. O sorriso maldoso dança no rosto angelical.

— Você está fo-di-do!

— E você não beijou o Lu-ka.

A ira volta para os olhos dela, e sou atingido por minha almofada estampada pelo símbolo do Red Hot Chilli Peppers. Rio.

— Babaca, ridículo, boçal!

— Gracinha. — Pisco para ela. — Agora deveria ir dormir e sonhar com sua festinha falha.

Observo sua mordiscada de lábio.

— Se me provocar mais uma vez, juro que espalho pela escola que você fazia xixi na cama quando ficava com medo de apresentar seminários.

Me levanto, e a encaro com toda a minha magnificência.

— E eu conto que quando você menstruou pela primeira vez você saiu correndo pela casa dos seus pais achando que estava morrendo.

O rosto dela enrubesceu.

— Por que eu te contei isso, hein?!

— Porque você com treze anos não tinha papas na língua, igualzinho hoje em dia. — Aproximo-me dela, depositando um selar em sua testa. — Agora vai dormir e sai do meu quarto, tenho treino e preciso estar descansado.

— Você quer é bater punheta!

— Se você sabe e ainda está aqui é por que quer me ajudar, não é?!

Pela careta dela, parece que marquei um ponto bem marcado agora.

— Ridículo!

Acabo gargalhando quando ela sai batendo os pes com a sainha dançando de um lado para o outro, fechando a porta com tanta força que faz os quadros balançarem. Me jogo sobre a cama, com um revirar de olhos. Ela era uma mesquinha de merda, porém... conseguia ser uma neném assim...

... além de ser afilhada da minha mãe.

Um grande empecilho.

Levanto o rosto quando meus pés tocam algo gelado e encontro um par de papeis sobre a cama. Franzo o cenho, mas pego-os e abro do mesmo modo. Eu tenho quase certeza que caiu de alguma roupa da Marinette enquanto ela subia no meu colo, e eu vou ler da mesma forma do mesmo modo que ela faz com minhas coisas.

Ela que lute.

Trés bien, AdrienOnde histórias criam vida. Descubra agora