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Quando Nicholai viu Jill passando hesitantemente pela porta até as operações de tratamento, ele imediatamente
recuou para fora do campo de visão, através da porta de segurança lateral e entrando num grande e vazio corredor que levava à sala do tanque de resíduos químicos. Uma feroz alegria tomou conta dele enquanto
fechava a porta com cuidado, sentimentos de vingança e auto−afirmação elevando seu espírito.
Depois de ter achado o disco de dados de Foster, ele preparou seu laptop para combinar os arquivos. Foi
quando ouviu o alerta do quartel general. Não foi surpresa, era uma das várias possibilidades projetadas, mas o
acabou deprimindo. Uma parte dele ainda queria terminar com Jill e Carlos, pelo que tinham feito com ele, e
ainda esteve considerando uma última olhada em volta antes de chamar o resgate. Não havia tempo para isso
com mísseis a caminho, e ele estava indo fazer a ligação quando ouviu os passos.
Ela está aqui, eu estava certo sobre ela e agora está aqui!
Ele tinha que estar certo, senão os destinos em Raccoon não a teriam enviado. Ele podia ver agora, que tudo o
que aconteceu desde que chegou em Raccoon estava predestinado. Destino, testando−o, dando−o presentes e
depois os tomando de volta, para ver o que ele faria. Tudo fazia perfeito sentido e agora havia um relógio
correndo, ele tinha que fugir e lá estava ela.
Eu não falharei. Eu fui bem sucedido até agora e foi por isso que esse sincronismo aconteceu. Para que antes
de retornar à civilização, eu pudesse restabelecer o controle que eu tinha. Ele podia perguntá−la sobre Carlos e
Mikhail, ele podia interrogá−la completamente... e se houvesse tempo, ele poderia dominá−la de um modo mais
prazeroso, uma despedida da qual poderia relembrar pelos anos seguintes.
Nicholai rapidamente moveu−se para trás da porta, seus passos ecoando no largo corredor, rifle preparado. Ele
tinha conquistado isso e ficaria exatamente com o que merecia.
Jill entrou em algum tipo de sala de operações, seus sentidos bem aguçados enquanto olhava pelo espaço
aberto, decorado com o estilo clássico dos laboratórios da Umbrella − vazias e frias paredes de cimento,
parapeitos de metal que separavam a sala de dois níveis de modo absolutamente funcional, nada brilhante ou
colorido à vista.
Se sangue não estiver contando... respingos de sangue manchavam o chão em volta da baixa mesa que
dominava a sala. Não deve ser obra de Nicholai, diferente do corpo que achou no escritório perto da sala com
canos de vapor quebrados. Um baixo homem com mais de trinta anos, baleado no rosto, seu corpo ainda estava
quente. Ela não tinha dúvidas de que Nicholai estava por perto, e percebeu estar quase desejando encontrá−lo
logo, só para não ter que olhar sobre os ombros a cada passo dado.
Ela não avistou nada parecido com um cartão ou com um rádio na sala, e decidiu continuar − ela podia seguir
pela porta lateral no canto à sua esquerda ou descer. Porta lateral, ela decidiu, na remota possibilidade de
Nicholai ter seguido por lá; até agora, ela esteve em todas as salas que conseguiu entrar do pavimento superior,
e não queria descer e arriscar ser pega por trás por trás.
Ela andou até a porta, imaginando de novo o que havia sido feito com os corpos daqueles que morreram no
complexo. Ela tinha visto muitas manchas de sangue, mas apenas alguns corpos.
Talvez foram colocados lá embaixo..., ela pensou, abrindo a porta de segurança e varrendo com a Beretta para a
direita e para a esquerda. Um corredor tão grande quanto uma sala, com uma pequena quebra à direita na
parede oposta. Totalmente vazio. Ela entrou... ou a Umbrella ordenou que tudo fosse limpo para que seus
empregados não tivessem que trabalhar passando por cima de seus colegas, ou −
“Quieta, vadia”. Nicholai disse atrás dela, apertando o cano de seu rifle em sua nuca. “Mas largue a arma
primeiro, caso não se importe”.
Um sarcástico repronunciamento do que tinha dito no parque, e ela não deixou de perceber o toque de alegria
quase histérica em sua voz. Ela não foi cuidadosa e iria morrer por isso.
“Tá, tá”. Ela disse, deixando a 9mm escorregar por seus dedos e cair no chão. Ela ainda tinha o lança granadas
preso em suas costas, mas era inútil − no tempo que levaria para desatar a arma, ele poderia esvaziar um pente
inteiro nela e ainda ter a chance de recarregar.
“Vire−se devagar e recue, mãos juntas à sua frente. Como se estivesse rezando”.
Jill fez o que ele queria, recuando até suas costas tocarem a parede, com mais medo do que queria admitir
quando viu o inquieto sorriso e o modo como seus olhos rolavam de lado a lado.
Ele piscou. Seja lá o que estivesse errado com ele, estar em Raccoon tinha transformado isso numa total
psicose. O modo como a olhava de cima para baixo a encheu com um tipo diferente de medo. Ela conhecia
vários modos efetivos para evitar o ataque de um estuprador − mas isso considerando ainda estar fisicamente apta a lutar, e ela duvidava muito que Nicholai se aproximaria dela sem antes atirar algumas balas bem
localizadas.
Ela olhou para sua esquerda, para a quebra no corredor que terminava em uma porta fechada. Não vai dar,
tente conversar com ele.
“Eu pensei que você quisesse apenas sair da cidade”. Ela disse, neutramente, incerta sobre o tom que usar. Ela
sempre ouviu que pessoas loucas deviam ser tratadas com humor, mas ela podia ver que não faria muita
diferença; Nicholai queria matá−la e ponto final.
Ele andou casualmente até ela, vestindo seu trêmulo sorriso. Um trovão soou acima, um som distante. “Eu quero
sair agora que tenho todas as informações. Eu matei todos os outros pelas suas, os Watchdogs. A Umbrella
lidará comigo, somente eu, e serei extremamente rico. Está tudo equilibrado, e agora que você está aqui, meu
sucesso está garantido”.
Contudo, Jill estava curiosa. “Por que eu?”.
Nicholai se aproximou, mas ficou a uma distância segura. “Porque você tomou o antídoto”. Ele disse com um
tom de ´na verdade´. “Carlos o roubou a seu pedido, não tente negar. Diga−me, você está trabalhando por
iniciativa própria ou foi enviada para atrapalhar meus planos? O quanto Carlos e Mikhail sabem?”.
Cristo, como respondo isso? O tremor soou acima novamente, e Jill se distraiu com ele, confusa demais com a
lógica bizarra de Nicholai para responder. Estranho poderem ouvir através do pesado teto... não tão estranho
quanto pensar no clima em uma hora como essa. Ela tinha que dizer algo para ao menos prolongar sua vida;
enquanto estiver respirando, ainda restará uma chance.
“Por que deveria te dizer algo? Você vai me matar de qualquer jeito”. Ela disse, como se tivesse algo para dizer.
O sorriso de Nicholai sumiu, e depois reapareceu, acenando. “Você está certa, eu vou”. Ele mirou o rifle no
joelho esquerdo dela e lambeu os lábios. “Mas não antes de nos conhecermos melhor, eu acho que temos
tempo o suficiente para −“.
Crash!
Jill caiu para trás, certa de que foi baleada, mas ele não atirou, foi o trovão −
− e o teto estava caindo, parte dele, pedaços de gesso e concreto chovendo enquanto Nicholai gritava e atirava
violentamente −
− e desapareceu.
Nicholai a tinha sob seu controle, ela sangraria e gritaria e ele seria vitorioso, ele tinha vencido −
− foi quando o teto cedeu, escombros caindo sobre ele e algo grande, frio e duro o segurou por trás do pescoço.
Nicholai atirou, gritando, uma bruxa, ela é uma −
− e ele foi puxado para o escuro acima pela grande e gelada coisa. Uma mão, o chocado rosto de Jill sendo a
última coisa que viu antes dos dedos apertarem, antes de uma corda viva se enrolar em torno de sua cintura. A
mão e a corda puxavam em direções opostas e Nicholai sentiu seus ossos quebrarem, pele e músculos
esticando−se enquanto sangue enchia sua boca, gritando −
− isso está errado eu controlo pare −
− e ele foi rasgado ao meio, e não sabia de mais nada.
Jill só pôde ver parte do que aconteceu, mas foi o suficiente. Enquanto uma cachoeira de sangue corria pela
beira do buraco no teto, respingando no chão, ela ouviu o rouco grito de Nemesis e viu um tentáculo aparecer
entre a chuva de vermelho, procurando −
Ela não ousou correr sob o buraco. Ela virou e correu para a porta no fim do corredor, desatando o lança
granadas das costas, sua única arma −
− bam, ela empurrou a porta e a cruzou, entrando num escuro e cavernoso abismo, uma onda de mau cheiro
acertando−a como um tapa na cara. Ela bateu a porta e esticou a mão até a única luz que conseguia ver, um
brilhante quadrado vermelho em um painel perto da entrada.
Era um interruptor de luz, e enquanto filas de barras fluorescentes piscavam, ela viu e entendeu duas coisas
simultaneamente. Os funcionários da Umbrella haviam sido empilhados lá, a origem do incrível odor − e não
havia outras portas. Ela estava encurralada e tinha uma única bala no lança granadas para se defender.
Ah, Deus, pense, pense −Lá fora, ela ouviu Nemesis dizer a única palavra que sabia, o terrível grito encorajando−a a se mover, a fazer
algo. Ela correu para a enorme montanha de corpos, a única coisa na gigante câmara em forma de “U” que não
estava presa no chão. Talvez um deles tivesse uma arma.
O segmentado chão de metal soava ocamente sob seus pés, dizendo−a onde estava − algum tipo de sala de
lançamento de lixo, o chão obviamente capaz de se abrir e derrubar o conteúdo em algum lugar abaixo, algum
tonel com produtos químicos, num contêiner, ou no esgoto. Não importava, pois ela não tinha idéia de como
operar tal sistema; tudo com o que se preocupava era achar algo que pudesse usar contra Nemesis.
Os corpos estavam num avançado estágio de decomposição, pesadas, quentes e gasosas ondas de fedor
radiando dos escurecidos e inchados corpos, a pilha alta até sua bochecha. Jill não podia deixar ser afetada; ela
largou o lança granadas e imediatamente começou a revirar os corpos, levantando aventais pegajosos, enfiando
a mão em bolsos que desgrudavam sob seus dedos. Canetas e lápis, pacotes ensopados de cigarros, dinheiro
trocado − um cartão magnético, provavelmente aquele que procurava, maravilha, isso não é −
BOOM! BOOM!
Gigantes punhos socaram a porta, ecoando pela câmara. A porta cederia em segundos, ela teria que usar o que
tinha. Ela não teria chances de matá−lo, mas poderia contorná−lo.
Guardando o cartão magnético na beira de sua bota esquerda, ela pegou o lança granadas e correu para a
porta, pensando na boa idéia que Nicholai tinha lhe dado, o mínimo que pôde, maluco desgraçado.
Jill se posicionou ao lado da porta, perto do espaço que ela ocuparia. Ela não ficou bem ao lado, o plano iria por
água abaixo caso terminasse esmagada.
BOOM, e a porta abriu, batendo na parede a centímetros de onde estava, Nemesis entrando, braços e
tentáculos bem abertos enquanto roncava por sangue.
Ele está mudando, crescendo −
Jill mirou em suas costas desfiguradas e atirou, a carga penetrando na carne a menos de três metros de
distância.
Gritando, a criatura cambaleou para frente, e antes que pudesse recuperar o equilíbrio de novo, Jill cruzou a
porta e correu, rezando para que tivesse tempo de chamar ajuda e fugir antes de ser encontrada novamente. Ela
correu pelo corredor, erguendo a Beretta, acelerando pela próxima sala e pelo corredor seguinte.
Pelo menos tempo para ligar; ela podia não sobreviver para encontrar o resgate, mas Carlos ainda podia, se
Deus quisesse.
Só havia um helicóptero, mas estava em excelente estado, abastecido e pronto para voar. Se Carlos pudesse
achar Jill, poderiam conseguir.
Ele sentou no assento do piloto, olhando os controles, repassando as instruções básicas que conseguia lembrar.
Ele foi ensinado por outro mercenário sem treinamento, e já fazia um tempo, mas estava certo de que podia
decolar. Era um velho helicóptero de dois lugares com um teto máximo de 1.200m, e alcance de talvez 320km.
Ele ainda não sabia o que alguns botões faziam, mas não eram necessários para tirá−los do chão. A haste
cíclica movia a aeronave para frente, para trás e para os lados. O controle coletivo alterava o impulso,
controlando a altura.
Carlos checou seu relógio e ficou infelizmente surpreso ao ver que vinte minutos haviam passado desde que
ouviu o alerta sobre os mísseis. Ele tinha passado alguns minutos verificando o helicóptero, e houve alguns
zumbis vagando pela área que precisou matar...
Não vem ao caso. Agora eles tinham entre vinte e quarenta minutos no máximo. O complexo era grande demais,
ele nunca conseguiria vasculhá−lo a tempo −
− então use o maldito rádio, idiota!
Carlos pegou os fones de ouvido, incrédulo por não ter pensado nisso antes, prometendo a si mesmo de que
bateria em si pela percepção atrasada, quando tiver tempo. Considerando que haveria algum.
“Alô, aqui é Carlos Oliveira com a Umbrella, eu estou em Raccoon City, entendido? Ainda há pessoas vivas aqui.
Se você puder me ouvir, você tem que impedir o lançamento do míssil. Alô? Entendido?”.
Não dava para saber se alguém estava recebendo seu sinal. A Umbrella provavelmente tinha um bloqueio em
todas as transmissões para fora, ele só tinha que tentar e −
“Carlos? É você? Câmbio". Jill?
Ele se sentiu fraco de alívio assim que a voz dela entrou em seu ouvido, talvez o som mais doce que já ouviu.
“Sim! Jill, eu achei o helicóptero, nós temos que sair daqui agora! Onde você está? Câmbio”.
“Numa sala de rádio, no complexo da Umbrella − o que você disse sobre lançamento de míssil? Câmbio”.
Ela estava tão perto! Carlos riu, nós sairemos daqui, está acabado! “Os federais explodirão a cidade em meia
hora, ao amanhecer, mas está tudo bem, estamos prontos para voar − consegue ver a escada no meio da sala?
Câmbio?”.
“Sim, está − eles vão explodir Raccoon, você tem certeza?”. Ela soou totalmente confusa que esqueceu de usar
o protocolo de comunicação.
Não temos tempo para isso!
“Jill, eu te asseguro. Ouça − desça a escada e comece a correr, você chegará onde estou, não há outro lugar
para ir. Passe pelo salão de cimento até a placa saída, siga o caminho lá fora e atravesse um grande galpão −
tem algum tipo de gerador de energia lá, você terá que contornar alguns equipamentos. A porta dos fundos
estará às onze horas da entrada, entendeu? Eu estarei do outro lado. E é melhor correr para cá, nada de
passear por aí”.
Houve uma leve pausa e Carlos pôde ouvir o apertado sorriso em sua voz quando respondeu. “Passear por aí é
o que você pensa. Estou a caminho, câmbio desligo”.
Sorrindo, Carlos ligou o helicóptero enquanto o céu azul escuro começava a clarear, preparando o amanhecer.

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