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Carlos ouviu o grito do monstro e começou a se levantar, ainda segurando o braço de Jill. Eles tinham que fugir
antes que ele a visse −
− e as portas do prédio abriram fortemente como se fossem feitas de madeira balsa, destroços do helicóptero
saindo num estouro de estilhaços fumegantes.
Antes que Carlos pudesse se abaixar, um grande pedaço de pedra escura da parede externa do prédio socou
seu lado esquerdo. Ele ouviu e sentiu uma costela ceder, sentindo no mesmo instante a intensa dor.
“Carlos!”.
Jill curvou−se sobre ele, seu olhar indo para frente e para trás entre ele e a parte da torre que não podia ver, o
lança−granadas ainda firme nas mãos dela. O Nemesis tinha parado de roncar; entre isso e o súbito e brutal
silêncio dos sinos, Carlos podia ouvir algo batendo pesadamente no chão, seguido pelo esmagamento de frágeis
pedras em um lento e constante ritmo. Crunch. Crunch.
Está vindo, ele pulou do telhado e está vindo −
“Corre”. Carlos disse, e viu que ela entendeu, que não tinha escolha, decolando um segundo antes. Com as
botas chutando o chão, ela o deixou sozinho o mais rápido que pôde.
Carlos virou a cabeça e se sentou, não querendo sentir a dor, e viu a criatura de pé numa pilha de concreto
quebrado e madeira em chamas, sem perceber que a bainha de seu colete de couro estava pegando fogo
enquanto o olhar da coisa procurava Jill. Como antes, ele não parecia ver Carlos.
Desde que eu não cruze seu caminho, Carlos pensou, apoiando−se nas frias pedras da fonte, levantando seu
rifle. Não está doendo, não está, não está.
Com um único e poderoso movimento, Nemesis ergueu o lança−mísseis até o ombro e mirou enquanto Carlos
começava a atirar.
Cada chacoalho da M16 mandava um novo pulso de agonia através de seus ossos, mas sua mira era boa
apesar da dor. Pequenos buracos escuros apareceram no rosto da criatura, e Carlos pôde ouvir o ping do
ricochete no lança−mísseis. Os carnudos tentáculos que se ergueram sob o longo casaco do monstro,
debatiam−se na parte superior do corpo como se estivessem fora do controle, enrolando e desenrolando com
uma grande velocidade.
Carlos viu que ele estava virando a bazuca na sua direção, mas continuou atirando, sabendo que não
conseguiria se levantar a tempo e correr. Fuja, Jill, vai!
O monstro o viu e atirou, e Carlos viu o estouro de luz e movimento vindo até ele, sentiu o calor do míssil
anti−tanques altamente explosivo brilhando contra sua pele −
− e de alguma forma não estava morto, mas algo não muito longe atrás dele explodiu. A força da explosão
levantando e arremessando−o contra a lateral da fonte; a dor era espetacular e mau ficou consciente,
determinado a dar mais alguns segundos para Jill.
Parcialmente deitado na beira da fonte, Carlos começou a atirar de novo, mirando no rosto, balas indo para todo
lado enquanto lutava para controlar a arma.
Morra, apenas morra logo... mas não estava morrendo, nem se quer estava vacilando, e Carlos sabia que só tinha meio segundo antes de virar uma mancha no gramado.
O lança−mísseis estava apontado diretamente para o rosto de Carlos quando aconteceu, um tiro em um em um
milhão −
Carajo!
− assim que um dos pings metálicos tornou−se uma explosão, uma súbita e quente luz aparecendo. O monstro
foi empurrado para trás assim que sua arma desintegrou, caindo fora de visão.
O rifle de Carlos secou. Ele esticou o braço para pegar outro pente e houve mais dor. Ele perdeu o caminho da
luz, a escuridão levando−o ao chão.
Jill viu Carlos cair e ficou onde estava, de pé entre o bonde e uma cerca viva. Ela viu Nemesis sumir, jogado nos
destroços em chamas com a falha de sua bazuca, mas sua confirmada habilidade para driblar a morte a
manteve longe de Carlos. Se ainda estiver vindo, ela queria mantê−lo concentrado somente nela.
O lança−granadas parecia leve em suas mãos, alta adrenalina dando−a uma segunda vontade de vingança − e
quando Nemesis se ergueu, com um ombro queimado, sua carne vermelha e preta inchada e visível sob a roupa
arruinada, Jill atirou.
A “granada” carregada com chumbo grosso, como se fosse um super cartucho de escopeta, enviou uma
concentrada explosão de milhares de projéteis pelo pátio − mas errou completamente o uivante Nemesis, o tiro
cavando novos buracos no que restou da fachada frontal da torre.
Nemesis parou de gritar mesmo com seu peito ainda queimando, a pele quebradiça e chamuscada agora. Ele
virou seu corpo para Jill enquanto ela abria a arma e a carregava com outro cartucho de sua mala, rezando para
que ele estivesse mais seriamente ferido pelo tiro de sorte de Carlos do que parecia.
Ele abaixou a cabeça e correu para ela, sua gigante disparada levando−o rapidamente até ela. Em um segundo
tinha cruzado o pátio, seus tentáculos espalhados como se fossem agarrá−la.
Jill saltou para a esquerda e começou a correr cegamente, ainda segurando o cartucho, passando entre um
canteiro de arbustos e o muro oeste do pátio. Ela pôde ouvi−lo entrar no caminho atrás dela ao terminar o
percurso; ele quase a pegou, sua velocidade era extraordinária, deixando−o a um braço de distância enquanto
contornava o fim do canteiro −
− e algo acertou seu ombro direito, algo sólido e liso, escavando sua pele como um gigante dedo sem ossos. Ele
picou, mil vespas inundando seu sistema com veneno ao mesmo tempo, e ela entendeu que um dos tentáculos
a tinha picado.
Ahdrogadrogadroga, ela não podia pensar nisso, não havia tempo, mas Nemesis parou de repente, jogou a
cabeça para trás e contou sua vitória às frias estrelas, e Jill parou, colocou o cartucho na arma e a desdobrou ao
meio para fechar −
− e atirou quando ele partiu para cima dela de novo. O tiro acertou o berrante Nemesis bem abaixo do lado
direito da cintura, perfurando a carne de sua coxa, pedaços de pele e músculo voando atrás dele −
− e ele caiu depois de alguns momentâneos passos, com um espirro de pele devastada.
Apressada para recarregar, Jill acabou derrubando o penúltimo cartucho no chão, rolando para longe. Ela
conseguiu segurar o quinto firmemente e estava fechando a arma quando Nemesis sentou, olhando para ela.
Jill mirou na parte debaixo das costas e atirou, o trovão da arma apenas um abafado som sob o apito em seus
ouvidos. Nemesis estava se movendo, levantando ao ser atingido, os projéteis acertando baixo e à esquerda, o
que seria um tiro renal fatal para humanos. Aparentemente não para o matador de S.T.A.R.S.. Ele cambaleou e
ficou de pé, começando a se afastar mancando, uma das gigantes mãos cobrindo o novo ferimento.
Indo embora, ele está indo embora −
Seus pensamentos eram lentos e pesados. Levou um tempo para ela entender que sua partida não era algo
bom. Ela não podia deixá−lo partir, deixá−lo se recuperar para voltar − ela tinha que tentar matá−lo enquanto
estava fraco.
Jill sacou sua Python e tentou mirar, mas sua visão dobrou de repente e não conseguiu se concentrar na figura
fugindo, arrastando−se pelos destroços em chamas. Ela sentiu−se tonta e febril, e pensou com certeza que tinha
sido infectada pelo T−virus.
Ela não precisava ver o ferimento no ombro para saber se era grave, ela podia sentir o sangue deslizando pelo
seu lado, encharcando a cintura de sua saia. Ela queria acreditar que o vírus estava sendo lavado de seu sistema, mas não podia se enganar, mesmo estando tão ferida.
Por alguns segundos ela considerou a .357 carregada em sua mão − e depois pensou em Carlos, e sabia que
devia esperar. Ela tinha que ajudá−lo se pudesse, ela devia isso a ele.
Convocando o resto de sua força, Jill foi até Carlos. Ele estava perto da fonte, gemendo e meio consciente,
machucado, mas ao menos não via sangue, talvez estivesse bem...
Foi seu último pensamento antes de sentir seu corpo a trair desistindo, derrubando−a no chão e deixando−a
num sono muito profundo.
Escuro, badalar, e escapar, fogo e escuridão e balas, não posso ouvir, Jill correndo do fogo e a coisa atirando,
míssil de alto poder apontado −
apontado para minha −
cara.
Carlos voltou a si apressado, confuso, dolorido e procurando pelo combate, por Nemesis e Jill. Ela terá
problemas se aquela coisa pegá−la...
Era uma quieta e calma noite, fogo baixo queimando por toda parte, iluminando com um laranja dançante e
quente o bastante para fazê−lo suar. Carlos forçou a sim mesmo para se mexer, engatinhando para ficar de pé e
segurando suas costelas firmemente, seus dentes apertados de dor. Fraturada ou quebrada, talvez duas delas,
mas precisava pensar em Jill agora, tinha que esquecer os efeitos das várias explosões e −
“Ah, não”. Ele disse, esquecendo sua dolorida exaustão e correndo para ela. Jill estava caída num caminho de
grama queimada, perfeitamente imóvel exceto pelo constante sangramento em seu ombro direito. Ainda estava
viva, mas talvez não por muito tempo.
Carlos engoliu sua dor e a levantou, o peso morto de seu corpo fazendo−o querer gritar, com a insanidade que
tinha se desenrolado e crescido em Raccoon, que tinha imposto suas impiedosas garras sobre Jill e ele. A
Umbrella, monstros, espiões, e até Trent − tudo isso era loucura, era um conto de fadas de terror... mas o
sangue era bem real.
Ele a segurou firme, virando e procurando. Ele tinha que levá−la para dentro, para um lugar seguro, um lugar
onde poderia tratar seus ferimentos, onde ambos pudessem descansar um pouco. Havia uma capela na quase
intacta asa oeste; não havia janelas e a porta tinha boas travas.
“Não morra, Jill”. Ele disse, e esperou que ela estivesse ouvindo enquanto o carregava pelo pátio em chamas.

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