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Ted Martin, um magro homem perto dos quarenta anos foi baleado várias vezes na cabeça. Nicholai não sabia
se havia sido assassinado ou se foi morto depois de contrair o vírus, e não se importava; o que importava era
que Martin, cujo cargo oficial era Relações Públicas e Pessoais do Chefe da Polícia, economizou o tempo que
Nicholai teria levado para caçá−lo.
“Muita generosidade de sua parte”. Nicholai disse, sorrindo para o Watchdog morto. Ele também teve a cortesia
de morrer onde deveria estar, na sala detetive da asa leste do Departamento Policial de Raccoon.
Um excelente início para minha aventura; se todos forem assim tão fáceis, será uma noite bem curta.
Nicholai passou por cima do corpo e agachou em frente ao cofre no canto da sala, rapidamente aplicando a
simples combinação de quatro dígitos fornecida por seu contato na Umbrella: 2236. A porta de aço abriu,
revelando alguns papéis − um deles parecia ser o mapa da delegacia − uma caixa de balas de espingarda, e o
que seria o melhor amigo de Nicholai até sair de Raccoon: um dos melhores do mercado. Sorrindo, ele ergueu o
laptop e o levou para a mesa, a porta do cofre fechando sozinha atrás dele.
Sua viagem para a delegacia foi razoavelmente tranqüila exceto pelos sete mortos−vivos que matou à
queima−roupa para evitar barulho; eles foram vergonhosamente fáceis de matar, isso quando se presta atenção
à sua volta. Ele ainda não se deparou com nenhum dos bichinhos da Umbrella, o único desafio que esperava
encontrar; havia um apelidado de “brain sucker” (sugador de cérebro) o qual esperava muito encontrar, um
rastejante de múltiplas pernas e garras assassinas...Uma coisa por vez; por enquanto você precisa de informações.
Ele já tinha decorado os nomes e rostos das vítimas e tinha uma idéia geral de quando cada um deveria fazer o
contato, não necessariamente quando; todos os Watchdogs tinham horários diferentes, sujeitos a mudanças,
mas na maioria são precisos.
Martin deveria reportar à Umbrella do terminal de computador no balcão da recepção do R.P.D. às 17:50h, daqui
a vinte minutos; seu último relatório deve ter sido logo após meio dia.
“Vamos ver se você teve sucesso, Oficial Martin”. Nicholai disse, rapidamente digitando os códigos que tinha
adquirido para acessar a atualização dos relatórios de progresso da Umbrella. “Martin, Martin... ah, aí está
você!”.
O policial não tinha feito seus dois últimos contatos, sugerindo que estava morto ou incapacitado há pelo menos
nove horas. Nenhuma informação para coletar ali. Nicholai leu cuidadosamente os números dos outros
Watchdogs, feliz com o que viu. Dos oito restantes, três falharam em relatar − um dos cientistas, um funcionário
da Umbrella e uma mulher que trabalhava para o saneamento da cidade. Considerando que estivessem mortos
− e Nicholai rezava para isso − só restavam cinco.
Dois soldados, dois cientistas e um outro da Umbrella...
Nicholai franziu, olhando para os locais de contato de cada um. Uma cientista, Janice Thomlinson, estaria no
complexo de laboratórios subterrâneo, o outro no hospital perto do parque; o funcionário da Umbrella reportaria
de uma estação de tratamento de água abandonada nos limites da cidade, uma fachada para um campo de
teste químico da Umbrella. Nicholai não via problemas em achar nenhum deles... mas ambos os soldados
Watchdogs foram tirados do mapa.
“Onde vocês estarão...”. Nicholai disse, teclando ausentemente, sua frustração crescendo. Ao verificar pela
última vez na noite passada, ambos reportariam de St. Michael Clock Tower...
Droga.
Estavam lá ontem, seus nomes listados perto do seu; ambos foram marcados como móveis, tal como ele. Eles
reportariam pelo laptop de onde fosse mais conveniente, e só precisariam fazê−lo uma vez por dia − o que
significava que poderiam estar em qualquer lugar de Raccoon City, qualquer lugar mesmo.
Uma fervente névoa vermelha o envolveu, rasgando−o. Sem pensar, Nicholai cruzou a sala e chutou o corpo de
Martin o mais forte que conseguiu, duas vezes, ventilando sua raiva, sentindo uma profunda satisfação com os
molhados sons, o balançar do corpo e o quebrar de costelas −
− e terminou, voltando a ser quem era, ainda frustrado, mas controlado. Ele exalou forte e voltou para trás da
mesa, pronto para revisar seus planos. Apenas demoraria mais para achá−los, e só; não era o fim do mundo. E
talvez falhassem em reportar, morrendo convenientemente como Martin e os outros três.
Ele podia esperar, mas não contar com isso. Só podia contar com sua própria perseverança e habilidade. A
Umbrella não enviaria resgate por pelo menos uma semana − ou pelo tempo máximo que conseguirem esconder
o desastre − ou se forem chamados pelos Watchdogs com resultados completos, no máximo. Com seis dias
para encontrar só cinco pessoas, Nicholai estava certo de que seria o único a ser resgatado.
“Eu nem precisarei de seis”. Nicholai disse, acenando firmemente para o esparramado e amontoado cadáver de
Martin. “Três dias, tenho certeza que consigo em três”.
Com isso, Nicholai se inclinou para frente e começou a baixar os mapas que precisaria, novamente feliz.
Jill não conseguiu achar munição para a calibre 12, mas a levou assim mesmo, ciente de que sua munição não
duraria para sempre; daria um belo taco, e talvez possa achar balas mais tarde. Ela estava decidida a escalar
uma das barricadas quando viu algo que a fez mudar de idéia, algo que jamais esperava ver de novo.
Um Hunter. Como os da mansão, nos túneis.
Ela parou quieta na escada de incêndio externa de uma botique ainda na área residencial, vendo−o na rua logo
depois de uma van que bloqueava a saída da escada. Ele não a viu; ela o observou andar a passos largos até
sair de visão, era um pouco diferente dos que viu antes, mas bem parecido − a mesma estranha, graciosa e
maligna postura, as pesadas e curvas garras, a cor verde−escura. Ela prendeu a respiração, seu estômago
dando nós, lembrando...
... curvado tal que seus impossíveis e longos braços quase tocavam o chão de pedra do túnel, ambos os pés e
mãos dotados de grossas e brutais garras. Pequenos e claros olhos estudando−a de seu achatado crânio réptil, seu tremendo grito agudo ecoando pelo subterrâneo escuro antes de saltar...
Ela o matou naquela ocasião, mas a tinha custado quinze balas de 9mm, um pente inteiro. Mais tarde, Barry
disse que eram chamados de Hunters (caçadores), uma das armas biológicas da Umbrella. Havia outros
monstros na mansão − cães ferozes sem pele; um tipo de planta carnívora gigante que Chris e Rebecca
mataram; aranhas do tamanho de um boi; e as escuras coisas mutantes com ganchos afiados no lugar de mãos,
aqueles que se penduravam no teto na casa de força do laboratório, parecidos com macacos.
E o Tyrant, o pior porque você vê que já foi humano; antes das cirurgias, antes da alteração genética e do
T−virus.
Sendo assim, não era apenas o T−virus solto em Raccoon. Ruim quanto isso possa parecer, não era
exatamente chocante; a Umbrella tem brincado com coisas muito perigosas, causando carnificina, como um
Deus aberrante despreparado para as conseqüências; às vezes, pesadelos não vão embora.
A não ser − a não ser que fizeram isso de propósito.
Não. Se pretendessem destruir Raccoon City, teriam evacuado seu próprio pessoal antes... não teriam?
Era uma pergunta que a perseguia a caminho da delegacia. Ver o Hunter a convenceu sobre o que fazer depois;
ela simplesmente precisava ter mais munição, e sabia que haveria alguma na sala dos S.T.A.R.S., no armário de
armas − 9mm, talvez cartuchos de espingarda, ou até mesmo um dos melhores revólveres de Barry.
Ao menos a delegacia não estava tão longe. Ela grudou nas crescentes sombras, desviando facilmente dos
zumbis que encontrou; muitos deles estavam decompostos demais para moverem−se mais rápido que uma lenta
caminhada. Um dos portões que teve de cruzar estava fortemente amarrado, os nós ensopados de óleo. Ela se
deu um chute mental por ter esquecido de trazer uma faca; sorte ter pego um isqueiro no Bar Jack apesar da
preocupação em chamar atenção com a fumaça − até passar pelo portão e ver a pilha de destroços queimando
mais adiante, bem perto do escritório de vendas da Umbrella. Dano causado pelos vândalos, talvez. Ela pensou
em parar e apagar as chamas, mas não parecia haver perigo de se espalharem pelo chão de cimento e parede
de tijolos do beco.
Então, aqui estava ela, de pé na frente dos portões do jardim do R.P.D.. O vandalismo foi terrível por ali. Carros
sucateados, barricadas destruídas, cones de emergência laranja espalhados pela rua, mas não havia corpos no
meio da bagunça. À sua direita havia um hidrante de rua que jorrava água para o céu. O gentil respingar de água
teria sido agradável em outra circunstância − num quente dia de verão, crianças rindo e brincando. Saber que
nenhum bombeiro ou funcionário viria consertar o hidrante a machucou por dentro, e pensar nas crianças... era
demais; ela bloqueou o pensamento, determinada a não pensar em coisas que não podia resolver. Ela já tinha
muitas preocupações.
Tais como estocar suprimentos... então o que você está esperando? Um convite por escrito?
Jill respirou fundo e empurrou os portões, franzindo com o ranger de metal enferrujado; ela abaixou sua arma,
aliviada, e cuidadosamente fechou os portões antes de ir para as pesadas portas de madeira do R.P.D.. Muitos
policiais morreram nas ruas, o que tornaria as coisas mais fáceis para ela, por mais terrível que parecia; não
haveriam muitos contaminados para encontrar ao entrar −
Sqreeak!
Atrás dela, os portões abriram. Jill girou, quase atirando na figura que entrou no pátio, até perceber quem era.
“Brad!”.
Ele cambaleou na direção da voz dela, e viu que estava seriamente ferido. Ele apertava seu lado direito, sangue
pingando de seus dedos, um olhar de completo terror em seu rosto enquanto a alcançava com a outra mão, sem
fôlego.
“Juh − Jill!”.
Ela foi até ele tão concentrada que quando Brad desapareceu de repente, Jill não entendeu o que tinha
acontecido. Uma parede preta tinha descido entre eles, uma escuridão que emitia um profundo e estrondoso
grito de fúria, que avançava sobre Brad e estremecia o chão a cada passo.
“Sstaarrss”. A coisa disse claramente, a palavra quase escondida sobre o ondulante roncar de um animal
selvagem, e Jill sabia o que era mesmo antes de ver seu rosto; ela o conhecia como conhecia seus sonhos.
Tyrant.
Brad recuou, balançando a cabeça como se negasse a aproximação da criatura, andando em meio círculo e
parando quando suas costas tocaram tijolos. Na fração de segundo que levou para alcançá−lo, Jill pôde vê−lo de perfil; o tempo pareceu parar naquele instante, permitindo−a vê−lo de verdade, para ver que não era o seu
pesadelo, Tyrant, porém não menos terrível; de fato, era pior.
Entre dois e dois metros e meio de altura, humanóide, seu ombros impossivelmente largos, braços mais longos
do que deveriam ter sido. Somente suas mãos e cabeça eram visíveis, o resto de seu corpo era coberto de
preto, exceto pelo que pareciam ser tentáculos, cordas de carne pulsando levemente, metade debaixo do
colarinho, os pontos de origem escondidos. Sua pele sem pêlos era da cor e textura de uma pele mau
cicatrizada, e a face não parecia ter sido prioridade de seu criador. Olhos brancos e deformados estavam
situados abaixo do normal e separados por um irregular traçado de costura cirúrgica. Seu nariz era mau
formado, porém a característica dominante era a boca, ou a falta dela; a metade inferior de sua cabeça era de
dentes, gigantes e quadrados, sem lábios entre gengivas vermelho−escuras.
O tempo voltou ao normal quando a criatura esticou o braço e cobriu o rosto inteiro de Brad com a mão, ainda
rosnando enquanto Brad tentava dizer algo, ofegando alto sob a mão −
− e houve um horrível e molhado som de respingo, pesado, porém liso, como alguém socando um pedaço de
carne. Jill viu um tentáculo de carne saindo por trás do pescoço de Brad e entendeu que estava morto, que
sangraria em segundos. Boba, ela viu que o tentáculo estava mexendo, balançando como uma cobra cega,
gotas de sangue pingando de seu comprimento. O Tyrant apertou a mão contra o crânio de Brad e com um
único movimento, levantou o piloto morto e o jogou para o lado, retraindo o tentáculo assassino para dentro da
manga antes de Brad cair no chão.
“Sstaarrss”. Ele disse de novo, virando para ela, Jill sentindo um medo que jamais sentiu.
A Beretta seria inútil. Ela virou e correu, cruzando as portas do R.P.D., fechando−as e trancando−as por dentro,
tudo por instinto; ela estava assustada demais para pensar no que estava fazendo, assustada demais para não
fazer nada além de se afastar da porta dupla assim que o monstro as golpeou, balançando−as nas dobradiças.
Elas resistiram. Jill estava parada, ouvindo o pulsar de sangue em seus ouvidos, esperando o próximo
empurrão. Longos segundos se passaram e nada aconteceu − e completos minutos passaram antes de ousar
desviar o olhar, e mesmo sabendo que estava acabado ela não ficou aliviada.
Brad estava certo, estava indo atrás deles − e agora que estava morto, estaria indo atrás ela.

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