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Jill tinha finalmente decidido abrir a porta metálica de enrolar quando ouviu tiros lá fora, o alto e intenso barulho
de uma metralhadora. Dizer que estava aliviada era pouco; as incansáveis pancadas dos mortos lá fora
estiveram devorando seus nervos, quase a fazendo atirar em si mesma, só para não ouvi−los mais − e agora,
em questão de segundos, o silêncio retornou.
Ela foi rapidamente para a porta lateral até a oficina, andando abaixada na ponta dos pés sob um carro vermelho
em cima de um elevador hidráulico, encostando seu ouvido no fino metal. Tudo estava quieto, os infectados
certamente mortos −
Bam−bam−bam!
Jill se jogou para trás assim que alguém socou a porta, seu coração contendo−se.
“Ei, tem alguém aí dentro? Os zumbis estão mortos, pode abrir agora!”.
O sotaque era inconfundível; Carlos Oliveira. Aliviada, Jill girou a trava, anunciando−se enquanto erguia a porta.
“Carlos, aqui é Jill Valentine”.
Ela estava feliz em vê−lo, e o olhar no rosto dele era tão sinceramente animado que quase se sentiu tímida de
repente. Ela se afastou da porta para que ele pudesse entrar.
“Que bom que você está bem, quando não te achei no bonde pensei...”. Carlos parou de falar, o que havia
“pensado” obvio demais. “Bom, é muito bom vê−la de novo”.
Sua aparente séria preocupação por ela foi uma surpresa, e não sabia como responder − com irritação, por estar
sendo protegida? Ela não se sentia irritada. Ter alguém interessado em seu bem estar, principalmente
considerando o tipo de caos no qual estava, era − -até que bom.
O fato de alguém ser alto, moreno e bonito também não era algo tão ruim, né? Jill instantaneamente derrubou o
pensamento. Verdade ou não, era uma questão de sobrevivência; eles podiam se olhar mais tarde, se
sobreviverem juntos.
Carlos não pareceu notar seu leve desconforto. “Então, o que está fazendo aqui?”.
Jill deu um leve sorriso. “Eu fiquei encurralada. Não me diga que viu o monstro de Frankenstein vagando lá
fora?”.
Carlos franziu. “Você viu ele de novo?”.
“Ele não, aquilo. Aquilo se chama Tyrant, se é o que eu acho ser − talvez uma variação. Bio−sintético,
extremamente forte e difícil de matar. E parece que a Umbrella descobriu como programá−lo para uma tarefa
específica − nesse caso, me matar”.
Carlos olhou cético. “Por que você?”.
“É uma longa história. Resumindo, eu sei demais. Em todo caso, eu estava me escondendo aqui, e −”.
Carlos terminou para ela. “Mas uma gangue de zumbis apareceu e não te deixou partir, certo?”.
Jill acenou. “E você? Você disse que conseguiu achar o bonde, e o que faz aqui?”.
“Eu encontrei outros dois caras da U.B.C.S. um deles levou um tiro e ainda está vivo, mas não muito bem.
Mikhail. Nicholai − o outro − sabia onde achar explosivos, então eu e Mikhail fomos para o bonde esperá−lo.
Parece que há um resgate aguardando, se conseguirmos chegar na torre do relógio e tocar os sinos. Nós
tocamos os sinos, os helicópteros vêm”.
Ele percebeu as expressões de Jill e balançou o ombro, sorrindo.
“É, eu sei. É algum tipo de sinal computadorizado, eu não sei como funciona. São boas notícias exceto pelobonde não estar funcionando, precisamos de algumas coisas − um cabo de energia e um daqueles fusíveis
antigos, para começar. Mikhail disse que havia uma loja de reparos por aqui; ele é um dos líderes de pelotão, ele
deu uma olhada no mapa antes de pousarmos...”.
Carlos franziu, depois acenou para si mesmo como se resolvesse algum quebra−cabeça. “Nicholai deve ter visto
um mapa também, isso explicaria porque não precisou de direções”.
“Carlos, Mikhail, Nicholai − a Umbrella não discrimina nacionalidades, não é?”. Jill fez a piada fora de hora, mais
para encobrir um profundo senso de insegurança. Ela achava Carlos de bom coração, mas os outros dois
soldados da Umbrella, um deles líder de pelotão − quais eram as vantagens de ter três caras que foram
enganados pelo seu empregador? A Umbrella era o inimigo, ela tinha que ter isso em mente.
Carlos já estava andando, sua atenção voltada no carro erguido. “Se estavam revirando a parte elétrica deveria
haver... ali, é aquilo que estou procurando!”.
Parecia que Carlos tinha visto o cabo que queria, um emaranhado de cordas e arames sob o capô do carro,
alguns deles conectados numa máquina que Jill não conhecia, e outros sobre o chão oleoso.
“Cuidado!”. Jill disse, indo até lá enquanto ele se esticava para pegar um dos cabos, verde escuro. Ela tinha uma
desconfiança instintiva de aparelhos elétricos, e acreditava que pessoas que mexiam com essas coisas estavam
querendo ser eletrocutadas.
“Não esquenta”. Carlos disse descontraído. “Só um verdadeiro baboso deixaria qualquer um desses ligados na
−“.
Crack!
Uma faísca branca−alaranjada foi cuspida da ponta de um dos cabos no chão, alto e brilhante, tão explosiva
quanto um tiro. Antes que Jill pudesse respirar, o chão de cimento estava em chamas − não houve crescimento
gradual nem senso de expansão, simplesmente começou a flamejar, as chamas a sessenta, noventa
centímetros de altura, e aumentando.
“Por aqui!”. Jill gritou, correndo para a porta lateral, o fogo alimentado pelo óleo jogando calor contra sua pele
nua. Quando atingir o tanque de combustível do carro, vai explodir, nós temos que sair daqui −
Carlos estava logo atrás dela, e enquanto corriam pelo escritório, Jill sentiu seu sangue gelar. Dane−se o carro,
ele não seria nada se comparado ao que aconteceria se o fogo atingisse os tanques subterrâneos do posto.
Havia uma corrente na polia ao lado da porta de aço que bloqueava a porta da frente. Jill correu para ela, mas
Carlos estava um passo à frente. Ele soltou a corrente e puxou, mão após mão, a porta erguendo−se vagarosos
centímetros para cima junto com o frenético bater de articulações metálicas.
“Agache e engatinhe”. Carlos disse, gritando para ser ouvido sobre o barulho da porta e sobre as ondas de fogo
espalhando−se pela loja.
“Carlos, os tanques externos −“.
“Eu sei, agora vai!”.
A ponta da porta estava a quase cinqüenta centímetros do chão. Jill desceu, agachando−se contra o frio chão,
gritando para Carlos antes de se arrastar para fora.
“Pode parar, está bom o bastante!”.
E ela passou, ficando de pé e virando para agarrar a mão de Carlos e levantando−o. Dentro da loja, algo
explodiu, um abafado whoop, talvez um botijão de gás ou aquele armário cheio de óleo automotivo, Jesus, eu
devo estar amaldiçoada, as coisas não param de explodir perto de mim −
Carlos agarrou seu braço, tirando−a de seu estado de choque. “Vamos!”.
Não precisou dizer duas vezes. Com a crescente luz tocando as janelas da loja, iluminando os corpos de laranja,
pelo menos oito infectados, ela correu, Carlos ao seu lado. O engarrafamento estava ruim, a rua estava
obstruída, nenhum caminho livre para conseguirem a tempo. Jill pôde sentir os segundos voarem enquanto
corriam pelo labirinto de ferro−velho e vidro quebrado. A primeira explosão de verdade e o som de janelas
estilhaçando esteve muito perto, eles ainda não estavam longe o bastante, mas tudo o que podiam fazer era o
que estavam fazendo − além de estarem rezando para que o fogo não chegasse aos tanques de alguma forma.
Talvez devêssemos nos proteger, talvez estejamos fora do raio de explosão e −
Por algum motivo, ela não ouviu − ou sim, ela ouviu uma repentina e total ausência de som. Concentrada demais
em costurar o silencioso trânsito na escuridão, a circulação de sangue em seus ouvidos, o tempo passando,
talvez. Tudo o que sabia era que estava correndo, e depois houve uma gigante onda de pressão que a impulsionou para frente, erguendo−a ao mesmo tempo, a lateral de uma caminhonete batida se aproximando
rapidamente e Carlos gritou algo − e depois não houve nada além de escuridão, nada além de um distante sol
que corria pelos cantos de sua escuridão, enviando−lhe sonhos de furiosa luz.
Mikhail estava afundando, descendo num febril delírio que certamente o mataria. Tudo o que conseguiu ouvir do
condenado homem foi que Carlos havia ido pegar algumas coisas para consertar o bonde e que voltaria logo. Se
tivesse mais, Nicholai teria que esperar − até a febre de Mikhail passar ou Carlos voltar, nenhuma das opções
parecia boa. Mikhail só iria piorar, e a profunda e estrondosa explosão que agitou o chão sob o bonde, que tinha
lançado um relâmpago no céu noturno à norte, sugeria que tinha acontecido um incêndio no posto de gasolina −
não necessariamente culpa de Carlos, mas Nicholai suspeitava que sim, e que Carlos Oliveira tinha virado
churrasco.
O que significa que terei de achar um cabo de energia sozinho se quiser carona para o hospital.
Irritante, mas não tinha outra escolha. Nicholai tinha achado uma caixa de fusíveis e um galão de 20 litros de
óleo mixado, mais do que suficiente para levar o bonde até o hospital − mas nenhum cabo, nenhuma fiação que
pudesse completar os circuitos. Nicholai imaginou porque Carlos não procurou na sala de manutenção da
estação, e decidiu que foi por falta de imaginação.
“Não, não, não pode − atirem! Atirem à vontade, eu acho... eu acho...”.
Nicholai levantou o olhar da inspeção no painel de controle do bonde, curioso, mas seja lá o que Mikhail disse foi
perdido assim que retornou ao seu problemático sono, o velho assento rangendo com seus pesados
movimentos. Era patético. Ele podia ao menos ter dito algo interessante.
Nicholai ficou de pé e se espreguiçou, virando para a porta. Ele já tinha adicionado óleo no rudimentar tanque do
motor, mas tinha pego o fusível errado. Ele pegaria outro ao voltar para o centro, provavelmente todo o caminho
até a mesma garagem maldita onde havia perseguido Mikhail; ele tinha visto algumas prateleiras de
equipamento lá. Ir e voltar estava ficando cansativo, mas pelo menos a maioria dos canibais do caminho já
tinham sido mortos, e não demoraria muito − e quando retornasse, recompensaria a si mesmo contando à
Mikhail quem foi o responsável por sua iminente morte.
Ele saiu para a área de embarque, pensando vagamente onde passaria a noite quando viu duas figuras
cambaleando na direção do bonde, suas formas meio escondidas na vasta luz de uma barricada em chamas no
canto nordeste do pátio. Ao se aproximarem, viu que Carlos tinha conseguido escapar da morte e trazido uma
mulher consigo, certamente a mesma que o informou sobre o bonde. Ambos estavam chamuscados, suas peles
avermelhadas e borradas de cinzas; talvez não estivessem tão longe do local da explosão...
... e mais uma vez, que comecem os jogos!
“Carlos! Você está ferido? Algum de vocês?”. Ele avançou para que pudessem vê−lo melhor, seu rosto
profundamente preocupado.
Carlos estava obviamente feliz em vê−lo. “Não, eu − ambos estamos bem, só um pouco detonados. O posto
pegou fogo e explodiu. Jill apagou por um minuto ou dois, ela está...”.
Carlos subitamente limpou a garganta, acenando para a mulher. “É, Jill Valentine, este é o Sargento Nicholai
Ginovaef, U.B.C.S.”.
“Só Nicholai, por favor”. Ele disse, e ela o olhou, suas expressões ilegíveis. Parecia que a Senhorita Valentine
não estava interessada em fazer amigos. Isso o agradou, apesar de não saber porque. Ela carregava um
revólver .357 na mão e o que parecia uma 9mm presa na cintura de sua mini−saia extremamente justa.
“Nós estamos em dívida com você por ter dito à Carlos sobre o bonde. Você está com a polícia?”. Nicholai
perguntou.
O olhar de Jill estava fixado no dele, não houve como negar o tom desafiador em sua resposta. “A polícia está
morta. Eu estou com o S.T.A.R.S., Esquadrão de Táticas Especiais e Resgate”.
Ora, ora, que ironia. Imagino se já se encontrou com a pequena surpresa da Umbrella... Se tivesse,
provavelmente não estaria de pé na frente dele; a não ser que não estivesse funcionando bem, um Tyrant podia
dividir um homem adulto em dois sem usar um quarto de sua força. Alguém como Jill Valentine não teria
chances contra algo bem mais avançado como o novo brinquedo da Umbrella que foi programado para
aparecer.
Nicholai ficou agradecido com a estranha coincidência de conhecer um membro do S.T.A.R.S.; fez parecer como se tudo estivesse em ordem, como se seus pensamentos estivessem refletindo no mundo à sua volta...
“Como está Mikhail?”.
Nicholai desviou do direto olhar de Jill para responder à Carlos, não querendo parecer combativo. “Não muito
bem, eu acho. Nós devemos partir o mais rápido possível. Você achou algo útil? Mikhail disse que você foi pegar
algumas coisas para arrumar o bonde”.
“Já era, queimou tudo”. Carlos disse. “Acho que teremos de −“.
“Você conseguiu os explosivos?”. Jill interrompeu, ainda o encarando cuidadosamente. “Onde estão?”.
Não muito hostil, mas quase; nenhuma surpresa, considerando a situação. O problema com os S.T.A.R.S. era
que tinham descoberto informações sobre as verdadeiras pesquisas da Umbrella na mansão de Spencer. Eles
perderam a credibilidade mais tarde, claro, mas a Umbrella vem tentando se livrar deles desde então.
Se todos forem tão desconfiados como ela, está explicado porque a Umbrella não conseguiu.
“Não havia explosivos”. Ele disse devagar, de repente decidindo pressioná−la um pouco, para ver o quando era
franca. “Tudo o que encontrei foram caixas vazias. Sra. Valentine, há algo te incomodando? Você parece...
tensa?".
Ele deliberadamente deu um agudo olhar para Carlos, como se estivesse bravo por ter trazido uma mulher tão
desconfiada. Carlos ficou corado e se manifestou rapidamente, tentando mudar de assunto.
“Acho que todos nós estamos no limite, e a coisa mais importante agora é Mikhail. Nós temos que tirá−lo daqui”.
Nicholai segurou o olhar de Jill mais um pouco e acenou, voltando sua atenção para Carlos. “De acordo. Se você
puder conseguir o cabo, eu vou ver o que posso fazer sobe o fusível − há uma central elétrica não muito longe
daqui, vou procurar lá. Na garagem onde achamos Mikhail, tenho certeza que vi cabos de bateria, nos
encontraremos aqui em meia hora”.
Carlos acenou. Nicholai ignorou o aceno de Jill, endereçando−se à Carlos. “Bom. Eu verei Mikhail antes de ir.
Movam−se”.
Ele virou na direção do bonde como se tudo estivesse resolvido, parabenizando−se em silêncio enquanto subia.
Eles iriam buscar o cabo para ele enquanto tudo o que precisava fazer era subir alguns degraus na estação e
abrir uma caixa.
O que significa que tenho muito tempo de sobra. Fico imaginando o que falarão de mim em minha ausência...
talvez ele os encontre na volta, os observaria por um minuto ou dois antes de aparecer.
Nicholai andou até onde Mikhail dormia e sorriu para ele, satisfeito. As coisas estavam ficando interessantes,
finalmente. Carlos estava trabalhando para ele, Mikhail na porta da morte, e a adição da mulher do S.T.A.R.S.
tinha engordado a trama. Ele olhou pela janela do bonde e viu que os dois tinham ido, desaparecendo no escuro.
Jill Valentine desconfiava dele, mas só pelo que sabia sobre a Umbrella; ele tinha certeza de que ela se
acalmaria, dado o tempo certo.
“E se não o fizer, eu a mataria junto com o resto de vocês”. Ele disse suavemente.
Mikhail soltou um leve suspiro de sofrimento mas continuou dormindo, e depois de um momento, Nicholai saiu
silenciosamente.

Resident Evil #5 Nêmesis Onde histórias criam vida. Descubra agora