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Eles estariam em Raccoon City em menos de uma hora.
Nicholai Ginovaef estava preparado e acreditava que sua equipe se sairia bem − melhor que os outros. Os
outros nove que compunham o esquadrão B o respeitavam; ele percebeu isso em seus olhos, e como
certamente morreriam, sua performance seria digna de uma menção. Afinal de contas, ele os tinha treinado
praticamente sozinho.
Não havia conversa no helicóptero que transportava o pelotão D pelo fim da tarde, nem entre os líderes de
equipe, os únicos que usavam fones de ouvido. Havia muito barulho para os soldados ouvirem uns aos outros, e
Nicholai não tinha nada a dizer para Hirami nem para Cryan − ou para Mikhail Victor. Victor era seu superior, o
comandante do pelotão inteiro. Era o cargo que deveria pertencer a Nicholai; Victor não tinha as qualidades que
um verdadeiro líder deveria ter.
Eu tenho. Eu fui escolhido para ser um *Watchdog, e quando tudo estiver acabado, eu serei a pessoa com a
qual Umbrella terá que lidar, quer queira ou não.
Nicholai manteve sua face como uma pedra, mas ele sorria por dentro. Quando a hora chegar, “eles”, os homens
que controlavam a Umbrella, iriam descobrir que o haviam subestimado.
Ele estava sentado perto dos líderes dos esquadrões A e C contra uma parede da cabine, acalmado pelo
constante e familiar balançar da aeronave. O ar estava carregado por tensão e pesado com o cheiro de suor
masculino, também familiar. Ele já havia liderado homens para a batalha antes − e se tudo correr conforme o
planejado, jamais teria que fazê−lo de novo.
Ele deixou o olhar passear pelos apertados rostos dos soldados, imaginando se algum deles sobreviveria por
mais de uma ou duas horas. Era possível, ele achava. Tinha o assustado sul africano do grupo de Cryan... e em
sua própria equipe, John Wersbowski, que fez parte de uma lavagem étnica alguns anos atrás, Nicholai não se
lembrava qual. Ambos os homens tinham uma combinação de profundo auto−controle e suspeita que poderiam
dá−los a chance de escapar de Raccoon, apesar de difícil − e seria difícil. A reunião não tinha preparado
nenhum deles para o que estava por vir...
Já a reunião particular de Nicholai dois dias antes foi diferente; Operação Watchdog, assim chamada. Ele
conhecia os números projetados, lhe foi informado o que esperar e como eliminar a sujeira, a doença que anda,
da forma mais eficiente. Eles contaram sobre as unidades perseguidoras em forma de Tyrant que seriam
enviadas e como evitá−las. Ele sabia mais do que qualquer um ali.
Estou mais preparado do que a Umbrella pode imaginar... porque eu sei os nomes de seus “cães”.
Mais uma vez, ele reprimiu um sorriso. Ele possuía informações que a Umbrella não sabia que ele tinha, isso
vale muito dinheiro − ou valerá, em breve. Como fachada, a U.B.C.S. seria enviada para resgatar civis; é o que
os soldados sabiam. Mas Nicholai era um dos dez escolhidos para coletar e registrar dados sobre os infectados
com o T−virus, humanos ou não, e como agiam contra soldados treinados − o real motivo para o envio da
U.B.C.S.. No helicóptero que levava o pelotão A, estavam outros dois, disfarçados; já havia seis em Raccoon −
três cientistas, dois funcionários e uma mulher que trabalha para a cidade. O décimo era um policial, um
assistente pessoal do chefe da polícia. Cada um deles provavelmente devia conhecer um ou dois dos outros
coletores de informações − mas graças às suas habilidades bem desenvolvidas na computação e algumas
senhas “emprestadas”, Nicholai era o único que conhecia todos eles, tal como seus respectivos lugares de
arquivamento de relatórios. Não seria uma surpresa para os contatos caso não reportassem? Não seria impressionante se apenas um
Watchdog sobrevivesse e pudesse dar seu preço que quisesse pelas informações que conseguisse? E não seria
incrível se um homem ficasse milionário gastando apenas um pouco de esforço e algumas balas?
Nove pessoas. Ele estava há nove pessoas de ser o empregado da Umbrella que tinha as informações que
precisavam. A maioria, se não todos da U.B.C.S. morreria rapidamente, e depois estaria livre para encontrar os
outros Watchdogs, pegar seus dados e tirar suas miseráveis vidas.
Por enquanto não podia fazer nada; Nicholai sorriu. A missão promete ser excitante, um verdadeiro teste para
suas muitas habilidades... e quando acabar, ele será um homem muito rico.
Apesar do apertado assento e o abafado ruído dos motores do helicóptero, Carlos não prestava muita atenção
ao seu redor. Ele não conseguia parar de pensar em Trent e a esquisita conversa que tiveram duas horas atrás,
tentando decidir o que havia de útil nela.
Para começar, Carlos confiou no cara o máximo que conseguiu agüentar. O homem estava muito feliz; não tão
extrovertido, mas Carlos teve a definitiva impressão de que Trent ria sobre algo por debaixo do pano. Seus olhos
escuros dançavam levemente de humor enquanto dizia à Carlos que tinha informações para ele, caminhando
para o beco de onde havia saído como se Carlos não tivesse perguntas.
E realmente não tinha. Carlos tinha aprendido a ser muito cuidadoso em seu trabalho, mas também sabia
algumas coisas sobre ler as pessoas − e Trent, apesar de estranho, não foi ameaçador.
O beco estava frio e escuro, com um leve cheiro de urina. “Que tipo de informações?”. Carlos tinha perguntado.
Trent agiu como se não tivesse ouvido a pergunta. “No centro comercial da cidade, você encontrará um
restaurante chamado Grill 13; fica no final da rua da fonte, bem ao lado do teatro, não tem erro. Se você
conseguir chegar por volta de −“. Ele olhou no relógio. “− digamos, 19:00 horas, eu poderei ver o que posso
fazer para ajudá−lo”.
Carlos nem soube por onde começar. “Hei, sem ofensas, mas do que diabos você está falando?”.
Trent sorriu. “Raccoon City. É para onde você está indo”.
Só Deus sabe como ele sabia meu nome, mas esse bato não está jogando com todas as cartas.
“Ah, ouça, Sr. Trent −“.
“Apenas Trent”. Ele interrompeu Carlos, ainda sorrindo.
Carlos começou a se irritar. “Que seja. Eu acho que você pegou o Oliveira errado... e eu aprecio a sua, é,
preocupação, eu realmente tenho que ir”.
“Ah, sim, ligaram do trabalho”. Trent disse, seu sorriso sumindo. “Entendo, eles não vão dizer tudo o que precisa
saber. Será pior, bem pior. As horas seguintes poderão ser negras, Sr. Oliveira, mas eu acredito em suas
habilidades. Apenas lembre−se − Grill 13, dezenove horas. Canto nordeste da cidade”.
“Sim, claro”. Carlos disse, acenando, voltando para a luz do dia, usando um sorriso forçado. “Combinado. Eu vou
me lembrar”.
Trent sorriu de novo, afastando−se dele. “Tome cuidado em quem você confia, Sr. Oliveira. E boa sorte”.
Carlos virou e começou a andar rapidamente. O homem ficou olhando, de mãos nos bolsos de novo, sua postura
casual e relaxada. Para um maluco, ele não parecia maluco...
... e parece bem menos maluco agora, não é?
Carlos ainda conseguiu chegar mais cedo no escritório, mas ninguém parecia ter ouvido nada sobre o que
estava acontecendo. Na curta reunião ministrada pelos líderes de pelotão da U.B.C.S., foram apresentados
alguns fatos: um vazamento de produto tóxico−químico ocorreu no começo da semana em uma isolada
comunidade, causando alucinações que levavam à violência. A química tinha se dissipado, mas pessoas
comuns continuavam atormentadas pelos que foram afetados; havia evidências de que os danos poderiam ser
permanentes, e a polícia local não conseguia manter as coisas sobre controle. A U.B.C.S. estava sendo enviada
para ajudar a evacuar os cidadãos que não foram afetados, e usar a força para protegê−los se necessário. De
qualquer modo era confidencial.
E em Raccoon City. O que significava que Trent sabia de algo afinal... mas o que isso quer dizer?
Se ele estava certo sobre onde íamos, como fica o resto? O que eles não disseram que precisávamos saber? E
o que podia ser pior, bem pior do que um monte de gente maluca e violenta?
Ele não sabia, e não gostava de não saber. Ele tinha colocado as mãos numa arma pela primeira vez aos doze anos para ajudar a defender sua família de um bando de terroristas, e se tornou profissional aos dezessete −
durante quatro anos agora, ele foi pago para colocar a própria vida em risco pela causa dos outros. Mas ele
sempre soube quem seus inimigos eram. Ir às cegas não era muito legal, nem um pouco. O único consolo era
que estava indo com dezenas de soldados experientes; seja lá o que for, eles seriam capazes de resolver.
Carlos olhou em volta, pensando em estar com um bom grupo. Não necessariamente com bons homens, mas
combatentes adeptos, o mais importante no combate. Eles até pareciam preparados, seus olhos insensíveis e
atentos, seus rostos determinados −
− exceto pelo líder do esquadrão B, que olhava fixamente para o nada e sorria como um tubarão. Como um
predador. Carlos ficou inseguro de repente, olhando para o homem, Nicholai alguma coisa, cabelo branco
arrepiado, forte como um levantador de peso. Carlos nunca viu alguém sorrir daquele jeito...
O russo encontrou o olhar de Carlos, e seu sorriso alargou por um momento, de um modo que fez Carlos querer
encostar as costas numa parede, de arma na mão −
− e o momento tinha acabado, Nicholai acenando desatentamente e desviando o olhar. Era apenas outro
soldado cumprimentando um camarada, nada mais. Ele estava paranóico, o encontro com Trent o havia deixado
no limite, e sempre ficava um pouco ansioso antes de um combate...
Grill 13, perto do teatro.
Carlos não se esquecerá. Por precaução.

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