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Comentários, descrição de delito relatado − 29−087:
Duas das doze pedras preciosas que fazem parte do “relógio fechadura” do portão ornamental principal da
prefeitura, foram removidas entre (aproximadamente) 21:00h de ontem (24 de Setembro) e 5:00h desta manhã.
Como o comércio local está fechado durante esse horário, saqueadores estão danificando propriedade pública e
levando o que lhes parece valioso. O presente oficial acredita que o delinqüente pensou que as jóias fossem
reais, e parou depois de remover duas (uma azul e outra verde) quando ele/ela percebeu que eram de vidro.
Esse portão (portão da “prefeitura”) é uma das várias entradas/saídas que levam ao complexo municipal. O
portão está agora trancado devido ao seu complicado (e na opinião do presente oficial, ridículo) mecanismo, o
qual requer a presença de todas as pedras para ser destrancado. Essa entrada/saída permanecerá trancada até
o poder público remover o portão ou até as duas pedras forem achadas e reinstaladas. Devido à falta de
potencial efetivo nesse momento, não há escolha se não suspender a investigação do caso.// oficial relator
Marvin Branagh.
Comentários adicionais, caso 29−087, M Branagh
26 de Set. − Uma das jóias perdidas (azul) apareceu dentro do prédio do R.P.D.. São 20:00h. Bill Hansen, o
falecido proprietário do restaurante Grill 13, estava aparentemente carregando a falsa jóia quando veio aqui
procurando abrigo no começo da noite. O Sr. Hansen morreu um pouco depois de chegar, morto a tiros por
policiais depois de sucumbir aos efeitos da doença canibal. A jóia foi achada em seu corpo, apesar de eu
do presente oficial não ter como saber se ele a roubou ou onde a outra possa estar.
Com a cidade agora sob lei marcial, nenhum esforço será feito para encontrar a segunda jóia ou para recolocar a
primeira − mas com várias ruas em volta do complexo bloqueadas, a necessidade dessas jóias pode até certo
ponto tornar−se relevante.
Anotação: este será meu último relatório escrito até a atual crise ser resolvida. Trabalho escrito não parece −
agora, a necessidade de documentar delitos parece secundária sob a vigência da lei marcial, tal como estar
sozinho nesse serviço.
Marvin Branagh, R.P.D.
Jill colocou o relatório datilografado e o anexo escrito à mão de volta na gaveta de evidências, tristemente imaginando se Marvin ainda estava vivo; parecia improvável, o que era um deprimente pensamento. Ele era um
dos melhores oficiais no R.P.D., sempre bondoso sem sacrificar a conduta profissional.
Um profissional de primeira. Maldita Umbrella.
Ela tirou da gaveta uma peça de vidro azul em forma de losango, olhando−a pensativamente. O resto da sala de
evidências foi um fracasso, os armários trancados e gavetas sem nada útil como arma; certamente não foi a
única que pensou em vasculhar a sala. A jóia, por outro lado...
Marvin estava certo sobre as ruas estarem bloqueadas em volta do portão da Prefeitura; ela havia tentado cruzar
a área e encontrou quase tudo bloqueado. Não que houvesse muita coisa por lá − o portão dava num pequeno
jardim com trilhas pavimentadas, tudo bem arranjado para apenas uma estátua sem graça do ex−prefeito
Michael Warren. Depois dela vinha a Prefeitura, não muito usada desde que construíram a nova corte judicial na
zona residencial. No final, a trilha se dividia em duas, uma à norte e a outra à oeste − um posto de
abastecimento com oficina e lojas de carros usados à norte, e a oeste...
“Ah, não, o bonde!”.
Porque ela não havia pensado nisso antes? Jill sentiu uma onda de excitação, diminuída de leve pela vontade de
dar um tapa na testa. Ela tinha se esquecido completamente do caminho. O velho bonde de dois carros era
coisa de turista, mas ia para os subúrbios mais à oeste, depois do parque da cidade e através de alguns dos
mais caros bairros. Havia um suposto complexo abandonado da Umbrella por esse caminho também, onde
ainda poderia haver carros funcionando e estradas livres. Considerando que o bonde estivesse em condições de
correr, esse seria o jeito mais fácil para sair da cidade de mãos abaixadas.
Exceto pelas barricadas, o único jeito de chegar até lá é através do portão − e eu só tenho uma das jóias.
Ela não tinha ferramentas para derrubar o grande e pesado portão sozinha... mas o relatório de Marvin dizia que
Bill Hansen estava com a jóia azul, e seu restaurante só estava a três ou quatro quarteirões dali. Não havia
como saber se também estava com a verde ou se estava no Grill, mas valeria a pena verificar. Se não estiver lá,
não pioraria as coisas, mas se conseguir achá−la, poderá sair da cidade mais cedo do que esperava. Com
Nemesis andando por aí, poderá não ser cedo o bastante.
Então estava decidido. Jill virou e andou para a porta, colocando a jóia azul na bolsa. Ela queria checar a sala de
revelação do R.P.D. antes de partir, ver se conseguia achar um daqueles coletes de fotógrafo; ela não tinha
nenhum carregador rápido para a Colt, e queria alguns bolsos para carregar as balas soltas. Ela pensou em
deixar a espingarda para trás. Jill tinha improvisado um suporte no ombro usando o cinto de um homem morto, e
carregá−la era ruim, ainda mais sem munição − e a .357 como fogo adicional − ela não via motivos para
carregá−la mais...
Ela saiu no corredor e foi para a esquerda, deliberadamente não olhando para um corpo caído sob a janela sul.
Era uma jovem mulher que havia matado da escada, e tinha quase certeza de que conhecia a garota − uma
secretária/recepcionista que trabalhava no balcão de entrada nos fins de semana, Mary alguma coisa. A sala de
revelação ficava em frente ao vão sob a escada; ela teria que passar a alguns centímetros do corpo, mas achou
que conseguiria evitar olhar de perto caso ela −
CRASH!
Duas das janelas implodiram, espirrando cacos de vidro sobre o corpo da recepcionista, pedaços dele
arranhando as pernas descobertas de Jill. No mesmo instante, uma gigante massa negra se arremessou para
dentro, maior que um homem, do tamanho de −
− um matador de S.T.A.R.S. −
Foi tudo que pensou no tempo que teve, Jill recuou pelo caminho que veio, se jogando na porta da sala de
evidências, enquanto atrás dela, vidro foi esmagado assim que se levantava, ouviu a nota inicial de seu único
objetivo, “SSst −“.
Ela correu, tirando o pesado revólver de sua cintura, cruzando a sala de evidências até a outra porta e entrou na
sala da equipe de patrulha. Uma curva fechada para a esquerda assim que entrou e mesas passaram, cadeiras,
estantes e uma mesa derrubada com respingos de sangue e fluídos de pelo menos dois policias, seus corpos
caídos apenas obstáculos em seu caminho.
Jill pulou sobre eles, ouvindo a porta abrindo, não, desintegrando atrás dela, o som de destroços e madeira
quebrando sem conseguir abafar a fúria de Nemesis.
Vaivaivairápido − Ela abriu a porta correndo, ignorando a pontada de dor que envolveu seu ombro ralado, virando para a direita
quando pisou no saguão.
Shhh−BOOM!
Um clarão de luz e fumaça voou depois dela, explodindo um irregular buraco no chão a menos de um metro
dela. Estilhaços de mármore queimado e cerâmica voaram, estourando no ar como uma fonte de barulho e
calor.
Jesus, ele está armado!
Ela correu mais rápida, descendo a rampa lateral para o piso rebaixado do saguão, lembrando que tinha
trancado as portas da frente, a lembrança como um soco no estômago. Ela nunca conseguirá abri−las a tempo,
sem chance −
− e BOOM, outra explosão do que parecia ser um lança−granadas ou algo maior, perto o bastante a ponto de
sentir o vento perto de sua orelha direita, pôde ouvir o sopro da incrível velocidade pouco antes das portas se
escancararem à sua frente. Elas ficaram penduradas pelas dobradiças, balançando enquanto ela corria pelo
escuro frio da noite.
“Ssstaarrrsss!”.
Perto, muito perto. Instintivamente, Jill sacrificou um segundo de velocidade e pulou para o lado, tirando os pés
do chão, mau percebendo que o corpo de Brad havia sumido e sem se importar. Mesmo enquanto pousava,
Nemesis passou por ela, atropelando o espaço que ocupava um instante antes. Sua desaceleração custou
vários passos, ele era rápido, mas pesado demais para parar, seu tamanho monstruoso dando−a o tempo que
precisava. Um rangido enferrujado e cruzou os portões, batendo−os em seguida, tirando a espingarda das
costas.
Ela virou e colocou a arma entre os puxadores do portão, ambos rachando contra o cano antes que ela tivesse
tempo de soltá−la, atrás dos portões, Nemesis gritava de raiva animal, um demoníaco som de sede por sangue
tão forte que Jill estremeceu compulsivamente. Ele estava gritando por ela, era o pesadelo de novo, ela estava
marcada para morrer.
Jill virou e correu, o grito sumindo atrás dela.
Quando Nicholai viu Mikhail Victor, soube que teria de matá−lo. Tecnicamente, não havia motivo, mas a
oportunidade era muito atraente para deixá−la passar. Por alguma sorte, o líder do pelotão D conseguiu
sobreviver, uma honra que não merecia.
Nós vamos cuidar disso...
Nicholai estava se sentindo bem; ele estava à frente da programação que tinha feito para si mesmo, e o resto de
sua jornada pelos esgotos foi tranqüila. Seu próximo alvo era o hospital, o qual podia alcançar rapidamente se
usasse o bonde em Lonsdale Yard; ele tinha tempo suficiente para descansar por alguns momentos, pausando
sua perseguição. Ter voltado à superfície e ver Mikhail do outro lado da rua, de cima de uma dos prédios da
Umbrella − um alvo perfeito − era como uma recompensa cósmica por seu trabalho até agora. Mikhail nunca
saberia o que o acertou.
O líder de pelotão estava dois andares abaixo, de costas para a parede do barracão de um ferro−velho enquanto
trocava a munição. Uma luz de segurança, seu brilho ofuscado com o intenso movimento de insetos noturnos,
iluminando claramente sua posição − e tornaria impossível identificar seu assassino.
Bom, você não pode ter tudo; sua morte teria que ser o suficiente.
Nicholai sorriu e ergueu a M16, saboreando o momento. Uma fria brisa noturna balançou seu cabelo enquanto
estudava a vítima, notando com muita satisfação o medo no rosto de Mikhail. Um tiro na cabeça? Não; com
chances de Mikhail ser infectado, Nicholai não perderia a ressurreição. Ele também teria tempo o bastante para
observar. Ele abaixou o cano milimetricamente, avistando uma das joelheiras de Mikhail. Muito doloroso... mas
ele ainda usaria os braços e provavelmente atiraria às cegas; Nicholai não queria arriscar ser baleado.
Mikhail tinha terminado de inspecionar o rifle e estava olhando em volta como se planejasse o próximo passo.
Nicholai mirou e atirou, um único tiro, extremamente feliz com sua decisão ao ver o líder de pelotão se reclinar,
agarrando a barriga −
− e de repente, Mikhail se foi, contornando a esquina de um prédio e sumindo. Nicholai pôde ouvir os passos no
cascalho desaparecendo. Ele xingou baixo, apertando os dentes com frustração. Ele queria ter visto o homem se contorcendo, sofrendo
com o doloroso e certamente fatal ferimento. Parecia que os reflexos de Mikhail não eram tão pobres quanto
pensava.
Então, ele morre em algum lugar no escuro ao invés de onde eu possa vê−lo. O que isso significa? Não que eu
não tenha outra coisa para ocupar meu tempo...
Não tinha funcionado. Mikhail estava seriamente ferido e Nicholai queria vê−lo morrer. Só levaria alguns minutos
para achar o rastro de sangue e persegui−lo − uma criança poderia fazer isso.
Nicholai sorriu. E quando eu achá−lo, poderei oferecer ajuda, bancar o camarada preocupado − quem fez isso
com você, Mikhail? Aqui, deixe−me ajudá−lo...
Ele virou e correu para a escada, imaginando o olhar de Mikhail ao descobrir quem foi o responsável por sua
situação, ao compreender seu fracasso como líder e homem.
Nicholai imaginou o que tinha feito para merecer tanta alegria; até agora, aquela havia sido a melhor noite de
sua vida.
Quando a conversa terminou, a linha ficou muda e Carlos sentou−se num dos assentos, pensando nas coisas
que Trent lhe havia dito. Se tudo o que disse era verdade − e Carlos acreditava que sim − a Umbrella teria muito
que responder.
“Por que você está me contando tudo isso?”. Carlos tinha perguntado logo no fim, sua cabeça girando. “Por que
eu?”.
“Porque eu estive vendo a sua ficha”. Trent respondeu. “Carlos Oliveira, mercenário por contrato − exceto por
sempre ter lutado pelo lado bom, sempre do lado dos fracos e oprimidos. Já arriscou a vida duas vezes em
assassinatos, ambos bem sucedidos − um tirano traficante de drogas e um pedófilo, se não me falhe a memória.
E nunca oprimiu um civil, nenhuma vez. A Umbrella está envolvida em práticas extremamente imorais, Sr.
Oliveira, e você é exatamente o tipo de pessoa que deveria estar trabalhando para impedi−los”.
De acordo com Trent, o T−virus da Umbrella − ou G−virus, aparentemente havia dois tipos − foram criados e
usados em monstros caseiros para torná−los armas vivas. Quando humanos são expostos ao vírus, contraem a
doença. E Trent disse que os administradores da U.B.C.S. sabiam para onde estariam enviando seu pessoal e
provavelmente o fizeram de propósito − tudo em nome da pesquisa.
“Os olhos e ouvidos da Umbrella estão por toda parte”. Trent disse. “Como eu disse antes, tome cuidado em
quem confia. É sério, ninguém é seguro”.
Carlos se levantou da mesa abruptamente e andou para a cozinha, perdido com pensamentos. Trent havia se
recusado a falar sobre seus motivos para derrubar a Umbrella, apesar de Carlos ter tido a impressão de que
Trent também trabalhava para a corporação; isso explicaria por que era tão reservado.
Ele está sendo cuidadoso, protegendo o pescoço − mas como poderia saber de tanto? As coisas que me disse...
Uma confusão de fatos, alguns pareciam totalmente arbitrários − havia uma jóia verde falsa na câmara fria sob a
cozinha; Trent disse que fazia parte de um par e se recusou a dizer onde a outra estava ou porque eram tão
importantes.
“Apenas faça−as terminarem juntas”. Trent havia dito − como se Carlos fosse achar a outra por acaso. “Quando
achar a azul terá sua explicação”.
Por mais enigmaticamente inútil que isso parecia ser, Trent também disse que a Umbrella tinha dois helicópteros
no complexo de tratamento de água abandonado à oeste e norte da cidade. Talvez o mais útil de tudo foi Trent
ter dito que havia uma vacina sendo produzida no hospital da cidade, e apesar de ainda não ter sido sintetizada,
havia pelo menos uma amostra lá.
“Apesar de haverem boas chances do hospital não ficar lá por muito tempo”. Ele disse, deixando Carlos imaginar
de novo como Trent ficou sabendo. O que acontecerá? E como Trent sabia disso?
Trent parecia achar a sobrevivência de Carlos importante; ele parecia confiante de que Carlos seria uma parte
significante da luta contra a Umbrella, mas Carlos ainda não tinha certeza do porquê, nem se queria entrar
nessa. No momento, tudo o que queria era sair da cidade... mas por algum motivo Trent havia decidido oferecer
informações, e Carlos estava agradecido.
Se bem que um pouco mais teria sido melhor − chaves para um carro de fuga blindado, talvez, ou algum tipo de spray antimonstro.
Carlos ficou parado na cozinha, olhando para o aparentemente pesado alçapão onde deveria estar a escada do
porão. Trent também disse que provavelmente havia mais armas em uma torre do relógio, não muito longe do
hospital; isso e os helicópteros a norte do hospital e da torre do relógio, definitivamente útil.
Mas por que me deixar vir até aqui se sou tão importante? Ele poderia ter me parado a caminho da base.
Muito daquilo não fazia sentido, e Carlos estava querendo apostar que Trent não tinha contado tudo. Carlos não
tinha escolha se não confiar um pouco nele, mas iria tomar cuidado ao depender das informações de Trent.
Carlos agachou próximo ao alçapão, agarrou as alças e puxou. Era pesada, mas podia agüentar, inclinando para
trás e usando as pernas para se equilibrar. A não ser que os cozinheiros fossem fisiculturistas, deveria haver um
pé−de−cabra em algum lugar por ali.
A porta principal do restaurante abriu e fechou. Carlos colocou a tampa de lado e virou, ainda agachado, M16
apontada para a entrada da cozinha. Ele não achava que zumbis fossem capazes de abrir portas, não tinha idéia
do que podiam fazer ou quem mais poderia estar andando por aí.
Lentos e cuidadosos passos vinham na direção da cozinha. Carlos prendeu a respiração, pensando em Trent,
imaginando de repente se ele tinha planejado −
− e a última coisa que esperava ver era um revólver .357 aparecendo, empunhado por uma atraente e
extremamente séria mulher que entrou rápida e abaixada, mirando em Carlos antes que pudesse piscar.
Por um segundo, eles se olharam, parados, e Carlos pôde ver nos olhos dela que não hesitaria em atirar se
achasse necessário. Sendo que se sentia do mesmo jeito, ele decidiu que seria melhor se apresentar.
“Meu nome é Carlos”. Ele disse claramente. “Eu não sou um zumbi. Calma aí, tá?”.
A garota o estudou por um momento, e acenou devagar, abaixando o revólver. Carlos tirou o dedo do gatilho e
fez o mesmo enquanto ambos se erguiam, cuidadosamente.
“Jill Valentine”. Ela disse, e parecia começar a dizer algo quando a porta dos fundos abriu à força, a forte
trovoada somada ao som de um grito profundo e quase humano que levantou os pelos das costas do pescoço
de Carlos.
“Sstaarrsss!”. Seja lá o que tinha berrado, o grito ecoou pelo restaurante, gigantes passos pulsando na direção
deles, implacáveis e decididos.

Resident Evil #5 Nêmesis Onde histórias criam vida. Descubra agora