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Depois de persegui−lo por quase meia hora, Nicholai achou o Dr. Richard Aquino no quarto andar do maior
hospital de Raccoon City. Ver o Watchdog fez Nicholai feliz de um modo que não podia explicar, nem para si
mesmo. Uma sensação de que tudo estava de bem com o mundo, de que as coisas estavam se desenrolando
como deveriam...
... comigo no topo, tomando decisões. Em um momento só restariam três, três cachorrinhos para caçar na terra
dos mortos−vivos, ele pensou sonhadoramente. Pode ficar melhor do que isso?
Aquino só estava trancando uma porta, um olhar de medo transpirante em seu pálido rosto enquanto seu olhar
vagava pelo lugar apreensivamente. Ele guardou as chaves no bolso e virou para o corredor que levava para o
elevador, trazendo seus manchados óculos para a ponta do nariz. Nicholai estava impressionado pelo fato de
nem estar armado.
Nicholai saiu das sombras, planejando se divertir. Depois de ter gasto mais de uma hora para chegar ao hospital
andando, o ratinho do Dr. Aquino ainda teve coragem de tentar se esconder dele − se bem que olhando para ele
agora, Nicholai pensou que o cientista nem sabia que estava sendo caçado e evitou Nicholai por acidente.
Aquino parecia ser o tipo de homem que podia se perder no próprio jardim; e mesmo naquele momento o
“cão−de−guarda” não tinha percebido que estava acompanhado, que Nicholai estava só a três metros de
distância.
“Doutor”. Nicholai disse em voz alta, e Aquino pulou girando, suspirando, balançando as mãos involuntariamente
à sua frente; a surpresa foi total. Nicholai não conseguiu conter um leve sorriso.
“Quem, quem é você?”. Aquino gaguejou. Ele tinha olhos azuis aguados e um péssimo penteado.
Nicholai se aproximou, intimidando o cientista abertamente com seu tamanho. “Eu estou com a Umbrella. Eu vim
ver como vocês estão se saindo com a vacina... entre outras coisas”.
“Com a Umbrella? Eu não − que vacina, eu não sei do que você está falando”.
Desarmado, sem habilidades físicas e não consegue mentir sem ficar vermelho. Ele deve ser brilhante.
Nicholai abaixou a voz conspiratoriamente. “A Operação Watchdog me enviou, Doutor. Você não vem
arquivando relatórios de detalhes ultimamente. Eles estiveram preocupados com você”.
Aquino pareceu na beira de um colapso por causa do alívio. “Ah, se você sabe sobre − eu pensei que você fosse
− sim a vacina, eu tenho estado ocupado; meu, é, contato queria a síntese inicial dividida em etapas, então não
há uma amostra misturada produzida − mas eu posso assegurar que é apenas uma questão de combinar
elementos e tudo fica pronto”. O doutor praticamente tagarelou em seu esforço para submeter−se.
Nicholai balançou a cabeça de modo zombador, como se não acreditasse. “E você fez tudo isso sozinho?”.
Aquino sorriu de leve. “Meu assistente, Douglas, me ajudou, que Deus o tenha. Eu sinto que tenho estado um
pouco sobrecarregado desde sua morte, antes de ontem. É por isso que eu perdi os últimos relatórios...”.
Ele parou de falar, e tentou outro sorriso. “Então... é você que foi enviado para recolher a amostra − Franklin,
não é?”.
Nicholai não pode acreditar em sua própria sorte, ou na ingenuidade de Aquino; o homem estava preste a
entregar o único antídoto existente dos vírus T e G, só porque Nicholai disse ter sido enviado pela Umbrella. E
agora outro de seus alvos estava aparecendo −
“Sim, está certo”. Nicholai disse suavemente. “Ken Franklin. Onde está a vacina, Doutor?”.
Aquino procurou suas chaves. “Aqui. Eu tinha acabado de escondê−la − a vacina base, nós mantemos a média
separada − eu a escondi aqui por segurança, até você chegar. Eu pensei que você viesse amanhã à noite, você está mais adiantado do que eu esperava”.
Ele abriu a porta e o convidou. “Há um cofre refrigerado na parede atrás daquele quadro de paisagem sem graça
− uma recente adição de um rico paciente, um excêntrico, não que isso seja relevante...”.
Nicholai passou pelo doutor tagarela, interrompendo−o, ainda pasmo por Aquino ter sido selecionado para
Watchdog, quanto percebeu ter deixado o cientista em sua retaguarda.
Tudo veio ao mesmo tempo naquele instante, uma cena completa na mente de Nicholai − o burro e nerd falante
da ciência, deixando seus inimigos à vontade, deixando−os subestimar suas habilidades −
Essa consciência só levou uma fração de segundo, e Nicholai já estava se movendo.
Ele se ajoelhou e girou os braços, agarrando os tornozelos de Aquino e literalmente varrendo−o do chão. Aquino
uivou e caiu em cima de Nicholai. Uma seringa caiu no chão e Aquino tentou alcançá−la, mas Nicholai ainda
segurava suas esqueléticas pernas. O doutor nem tinha músculos. De fato, Nicholai achou bem fácil segurar o
alvoroçado doutor com um braço enquanto alcançava sua faca presa na bota com o outro.
Nicholai sentou, puxou Aquino mais próximo e esfaqueou sua garganta.
Aquino colocou as mãos no pescoço enquanto Nicholai tirava a lâmina, olhando para seu assassino com olhos
arregalados e chocados, sangue jorrando sobre seus dedos enquanto o coração continuava fazendo seu
trabalho.
Nicholai também olhou, sorrindo sem dó. Aquino tinha sido golpeado para morrer, e o fato de ter atacado
Nicholai só fez a morte mais prazerosa, além de ser uma necessidade.
O cientista finalmente caiu, ainda apertando sua borbulhante garganta, perdendo a consciência. Ele morreu
rapidamente depois disso, um último espasmo e pronto.
“Melhor você do que eu”. Nicholai disse. Ele vasculhou o resfriante corpo e achou várias outras seringas e um
código de quatro dígitos num pedaço de papel − sem dúvida era a combinação do cofre. Aquino certamente não
esperava que Nicholai aparecesse para roubar a vacina.
Nicholai levantou e andou para o cofre, repassando seus planos como sempre fazia depois de qualquer ocorrido
inesperado. Aquino estava esperando Ken Franklin buscar a amostra, o que significava que Franklin iria
aparecer, a não ser que o doutor estivesse mentindo. Nicholai acreditava nele. Aquino foi tão convincente porque
esteve dizendo a verdade, uma excelente técnica para distrair o oponente...
... então eu sintetizo a vacina, talvez eu cace um pouco enquanto espero o Sargento Franklin, me livro dele − e
destruo o hospital, junto com a pesquisa de Aquino. Se a Umbrella estiver observando, vai pensar que tudo está
acontecendo conforme o planejado. Depois disso, só restará Chan e o empregado da fábrica, Terence Foster...
Dane−se Mikhail e os outros dois, eles não eram mais importantes. Quanto mais cedo se tornar o único
Watchdog sobrevivente, mais valioso Nicholai ficaria. E com a vacina TG em mãos, não haveria limite para a
recompensa da Umbrella.
Ao chegarem nas salas de trás, Jill estava quase pronta para admitir derrota. Eles foram à toda parte,
destrancando portas, revirando cada sala extremamente bem mobiliada, pulando sobre cadáveres e fazendo
mais alguns. Uma parede de vidro quebrada no salão antes da capela permitiu que vários infectados entrassem,
e encontraram outra aranha gigante no corredor depois da biblioteca.
Durante o caminho, ela contou um pouco sobre a mansão de Spencer e arredores, histórias as quais precisou
desenterrar depois da desastrosa missão do S.T.A.R.S.. O velho Spencer, um dos fundadores da Umbrella, era
um fanático por esconderijos e passagens secretas, e contratou George Trevor, um arquiteto conhecido por sua
criatividade, para projetar a mansão e renovar alguns dos locais históricos da cidade, amarrando lugares de
Raccoon nas fantasias de espião de Spencer.
“Isso tudo foi trinta anos atrás,”. Jill disse. “e o cara era completamente maluco por elas, é por aí vai. Assim que
tudo ficou pronto, ele trancou a mansão e levou a sede da Umbrella para a Europa”.
“O que aconteceu com George Trevor?”. Carlos perguntou. Eles pararam em outra porta, que devia ser uma das
últimas salas.
“Ah, essa é a melhor parte”. Jill disse. “Ele desapareceu um pouco antes de Spencer sair da cidade e ninguém
jamais o viu de novo”.
Carlos balançou a cabeça devagar. “Que lugarzinho pra se viver, viu?”.
Jill acenou, abrindo a porta e recuando, revólver empunhado. “É, eu estive pensando nisso”. Nada se movia. Pilhas de cadeiras à direita. Três estátuas, bustos femininos, bem à frente. Haviam dois corpos
abraçados à esquerda da porta, um casal, fazendo Jill erguer a sobrancelha e desviar o olhar − e lá, pendurados
na parede sul dentro de molduras douradas, estavam os três relógios.
Eles andaram na sala, Jill estudando seu redor impacientemente. Parecia normal...
... tão normal quanto aquela sala da mansão que acabou virando um compactador de lixo gigante. Por força do
impulso, Jill encostou uma cadeira na porta para mantê−la aberta enquanto ia olhar as pinturas.
Bom, os tipos de pinturas. Ela supunha serem chamadas de mídia combinada. As três pinturas eram de três
mulheres, uma em cada tela, e cada uma contendo um relógio octogonal − o primeiro e o último marcando
meia−noite, o do meio marcando cinco horas. Uma pequena cavidade em forma de concha avançava sob cada
moldura. As obras estavam intituladas como deusa do passado, presente e futuro, da esquerda para a direita.
“O cartão postal dizia algo sobre colocar as mãos juntas”. Carlos disse. “Como se fossem os ponteiros do
relógio, certo?”.
Jill acenou. “É, faz sentido. Só é obscuro o bastante para incomodar”.
Ela esticou o braço e tocou levemente a concha da pintura do meio, a de uma mulher dançando. Houve um fraco
clique e a concha desceu como uma balança, o peso de sua mão empurrando−a para baixo. Ao mesmo tempo,
os ponteiros do relógio começaram a girar.
Jill puxou a mão, com medo de ter tirado algo do lugar, e os ponteiros voltaram para a configuração anterior.
Nada mais aconteceu.
“Mãos juntas...”. Ela sussurrou. “Você acha que eles querem dizer que todos os ponteiros devem marcar a
mesma hora? Ou querem dizer literalmente, mãos alinhadas?”.
Carlos balançou os ombros e tocou a concha da deusa do futuro, definitivamente a mais arrepiante de todas. A
do passado era uma jovem garota sentada numa colina, a do presente era uma mulher dançando... e a do futuro
era a figura de uma mulher em um justo vestido de festa, seu corpo posando sedutoramente − mas com a
careca e brilhante face de uma caveira.
Jill conteve o arrepio e não deixou nenhum pensamento entrar no tema da morte iminente, como se já não
tivesse tido o bastante disso.
A concha que Carlos tocou desceu, e de novo, foram os ponteiros da deusa do presente que se moveram.
Aparentemente, os outros dois estavam presos em meia−noite.
Jill se afastou da parede e cruzou os braços pensando − e de repente conseguiu adivinhar como o
quebra−cabeça funcionava, se não estivesse errada. Ela girou, esperando que as peças faltando estivessem por
perto, e sorriu ao ver as três estátuas − ah, a simetria − e os três objetos que seguravam em seus finos dedos de
pedra.
“É um quebra−cabeça de peso”. Jill disse, andando para as estátuas. Vendo de perto, ela viu que cada uma
segurava uma concha contendo uma única pedra do tamanho de um punho. Ela as ergueu, sentindo os globos,
notando os pesos diferentes.
“Três pedras, três conchas”. Ela continuou, voltando para as pinturas, entregando a pedra escura − feita de
obsidiana ou ônix, ela não sabia − para Carlos. A outra era de cristal claro e a terceira de âmbar brilhante.
“E o objetivo é fazer o relógio do meio marcar meia−noite”. Carlos disse, pegando a pedra.
Jill acenou. “E tenho certeza que há uma lógica para seguir, uma combinação de cor, como preto para morte,
talvez... ou talvez matemática. Não importa, não levará muito tempo para tentar todas as combinações”.
Eles começaram tentando cada pedra em uma pintura por vez, depois usando todas, Jill estudando
cuidadosamente o relógio do presente com cada depósito. Parecia que cada pedra tinha diferentes valores
dependendo do lugar onde fosse colocada. Jill estava começando a achar que sabia − era certamente
matemático − quando por acaso acharam a solução.
Com a de cristal no passado, obsidiana no presente e âmbar no futuro, o relógio do meio alcançou meia−noite,
tocando levemente. O ponteiro dos minutos começou a correr no sentido anti−horário clicando − e então a face
do relógio saiu da parede, empurrada por um mecanismo que Jill não podia ver. No buraco revelado estava a
brilhante engrenagem dourada do mecanismo dos sinos que estava faltando.
Inteligente, seus idiotas, mas não inteligente o bastante.
Carlos estava franzindo, suas expressões claramente confusas. “O que diabos é isso, afinal? Por que alguém
esconderia a engrenagem, e de modo tão complicado?”. Jill tirou a brilhante peça do esconderijo, lembrando de seus próprios pensamentos sobre a mesma situação há
seis semanas, de pé nos escuros corredores da mansão de Spencer. Por que, por que um sigilo tão elaborado?
Os arquivos que Trent a entregou pouco antes da missão eram cheios de respostas para os enigmas da
mansão, sorte a dela; sem eles, ela nunca poderia ter escapado. A maioria dos pequenos e bizarros
mecanismos eram muito complicados para serem práticos, prudentes ou funcionais. Qual era o objetivo?
Depois de ter pensado muito, Jill finalmente concluiu que o verdadeiro quadro de diretores da Umbrella, aqueles
que ninguém conhecia, eram fanáticos paranóicos. Eles eram crianças auto−envolvidas, brincando com jogos de
agente secreto e apostando com a vida de outras pessoas, só porque podiam. Porque ninguém nunca os
explicou que esconder brinquedos e fazer mapas do tesouro era algo que as pessoas superavam com o
crescimento.
E porque ninguém as impediu. Ainda.
De repente, animada para acabar com tudo, colocar a engrenagem, tocar o sino e apenas partir, Jill respondeu
para Carlos do modo mais simples. “Eles são loucos, por isso. Cem por cento malucos de primeira categoria.
Está pronto para sair daqui, ou não?”.
Carlos acenou soberbamente, e depois de olhar em volta pela última vez, eles voltaram por onde vieram.

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