— Onde estamos? — Ramona olhava para o prédio cinzento em sua frente. As janelas estavam quebradas,o portão parecia arrombado e as paredes todas pichadas,o lugar estava caindo aos pedaços.
— Não muito longe de casa. — Laurel disse,batendo a porta do carro — Eu gosto de vir aqui para pensar,a vista é bonita. Só é meio entediante porque não tem muito o que fazer aqui.
— Mas não é meio errado? E se o dono aparecer do nada?
— Esse prédio é mais velho que a minha vó, tá' abandonado desde que eu me entendo por gente, duvido que alguém vá aparecer agora.
Ramona saiu do carro e entrou no grande edifício,seguindo Laurel.
O chão da antiga portaria estava imundo,com poeira e pedaços de piso espalhados por todo lugar. As paredes cobertas de pichações pareciam se desfazer aos poucos e o teto estava lotado de teias de aranha.— Com medo de fantasmas,Ramona?— a garota zombou —Me siga, não é difícil se perder por aqui. — Laurel disse enquanto subia por uma das muitas escadas enfileiradas que aquele lugar tinha. Parecia um labirinto.
— Por que tantas escadas? — Ramona disse enquanto elas subiam, vendo várias portas idênticas,uma atrás da outra.
— Há muito tempo atrás,esse prédio era considerado luxuoso,muita gente rica vinha de longe só para se hospedar aqui. É uma pena ter acabado assim.
Ao chegarem ao topo depois de escadas e mais escadas,Ramona precisou de alguns segundos para recuperar o fôlego. Laurel estava certa,a vista era linda.
— Como você pode ficar entediada num lugar como esse?
— Eu acho que acabei me acostumando com o tempo, são sempre os mesmos carros que passam por aqui,as mesmas senhorinhas regando as plantas,as mesmas crianças chorando, é sempre tudo igual. As vezes eu tenho a impressão de que eu sou a única que muda por aqui. É meio estranho,né? — Laurel disse — Enfim,vamos ao trabalho antes que escureça.
A garota apoiou a tela no cavalete,colocou as tintas na paleta e estendeu no chão uma toalha quadriculada e uma almofada para que Ramona pudesse se sentar confortável.
Laurel pintando parecia outra pessoa completamente diferente da garota rebelde e zombeteira que Ramona conhecera mais cedo,ela parecia extremamente concentrada no que fazia,como se sua vida dependesse daquilo.
E mesmo parecendo tão concentrada no que fazia,Laurel também aproveitava o momento para gravar detalhadamente cada parte do corpo de sua modelo na mente.
— Laurel,Laurel. — Ramona sussurrou,com medo de atrapalhar em alguma coisa.
— Hm?
— No que você está pensando?
— Em você,por quê?
— Não sei,mas é que você é tão... Você. Mesmo que te fizessem um livro,eu não conseguiria te ler, você é quase indecifrável.
— Quase, é? — Laurel riu achando a confissão da garota uma graça.
— É.
— Maneiro,eu acho.
— Euachoqueeugostodevocê.
— O quê? — Laurel começou a rir enquanto pintava.
— ᴱᵘ ᵃᶜʰᵒ ᑫᵘᵉ ᵉᵘ ᵍᵒˢᵗᵒ ᵈᵉ ᵛᵒᶜᵉ
— Fala mais alto.
— EU GOSTO DE VOCÊ! —Ramona gritou.
— EU TAMBÉM GOSTO DE VOCÊ!
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Euphorie;; | pausada!
Ficção AdolescenteRamona se vê obrigada a morar com uma amiga de infância de sua mãe após a mesma anunciar que irá se mudar com seu noivo para a Espanha. Mas ao chegar em sua nova morada,a garota encontra Laurel: uma jovem e rebelde pintora passando por um bloqueio c...