03-stay away

62 10 2
                                    

— Onde estamos? — Ramona olhava para o prédio cinzento em sua frente. As janelas estavam quebradas,o portão parecia arrombado e as paredes todas pichadas,o lugar estava caindo aos pedaços.

— Não muito longe de casa. — Laurel disse,batendo a porta do carro — Eu gosto de vir aqui para pensar,a vista é bonita. Só é meio entediante porque não tem muito o que fazer aqui.

— Mas não é meio errado? E se o dono aparecer do nada?

— Esse prédio é mais velho que a minha vó, tá' abandonado desde que eu me entendo por gente, duvido que alguém vá aparecer agora.

Ramona saiu do carro e entrou no grande edifício,seguindo Laurel.
O chão da antiga portaria estava imundo,com poeira e pedaços de piso espalhados por todo lugar. As paredes cobertas de pichações pareciam se desfazer aos poucos e o teto estava lotado de teias de aranha.

— Com medo de fantasmas,Ramona?— a garota zombou —Me siga, não é difícil se perder por aqui. — Laurel disse enquanto subia por uma das muitas escadas enfileiradas que aquele lugar tinha. Parecia um labirinto.

— Por que tantas escadas? — Ramona disse enquanto elas subiam, vendo várias portas idênticas,uma atrás da outra.

— Há muito tempo atrás,esse prédio era considerado luxuoso,muita gente rica vinha de longe só para se hospedar aqui. É uma pena ter acabado assim.

Ao chegarem ao topo depois de escadas e mais escadas,Ramona precisou de alguns segundos para recuperar o fôlego. Laurel estava certa,a vista era linda.

— Como você pode ficar entediada num lugar como esse?

— Eu acho que acabei me acostumando com o tempo, são sempre os mesmos carros que passam por aqui,as mesmas senhorinhas regando as plantas,as mesmas crianças chorando, é sempre tudo igual. As vezes eu tenho a impressão de que eu sou a única que muda por aqui. É meio estranho,né? — Laurel disse — Enfim,vamos ao trabalho antes que escureça.

A garota apoiou a tela no cavalete,colocou as tintas na paleta e estendeu no chão uma toalha quadriculada e uma almofada para que Ramona pudesse se sentar confortável.

Laurel pintando parecia outra pessoa completamente diferente da garota rebelde e zombeteira que Ramona conhecera mais cedo,ela parecia extremamente concentrada no que fazia,como se sua vida dependesse daquilo.

E mesmo parecendo tão concentrada no que fazia,Laurel também aproveitava o momento para gravar detalhadamente cada parte do corpo de sua modelo na mente.

— Laurel,Laurel.  — Ramona sussurrou,com medo de atrapalhar em alguma coisa.

— Hm?

— No que você está pensando?

— Em você,por quê?

— Não sei,mas é que você é tão... Você.  Mesmo que te fizessem um livro,eu não conseguiria te ler, você é quase indecifrável.

— Quase, é? — Laurel riu achando a confissão da garota uma graça. 

— É.

— Maneiro,eu acho.

— Euachoqueeugostodevocê.

— O quê? — Laurel começou a rir enquanto pintava.

— ᴱᵘ ᵃᶜʰᵒ ᑫᵘᵉ ᵉᵘ ᵍᵒˢᵗᵒ ᵈᵉ ᵛᵒᶜᵉ

— Fala mais alto.

— EU GOSTO DE VOCÊ! —Ramona gritou. 

— EU TAMBÉM GOSTO DE VOCÊ!

Euphorie;; | pausada!Onde histórias criam vida. Descubra agora