Capítulo I

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- Quem são vocês, afinal? - perguntei empurrando a xícara para frente.

- Vai fazer a desfeita de não provar o chá? - perguntou arrumando a armação dos óculos com o indicador.

- Oferecer veneno a uma dama também não é um ato da mais supina elegância, não acha? - retruquei encarando as íris oscilando entre o vermelho e o vinho me analisando detalhadamente.

- Ao menos você não é burra. - respondeu apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos pensativo. - Sendo assim, sabe como veio parar em nossa propriedade?

- Não faço ideia, tudo que me lembro é de estar caindo e depois apagar. Quando acordei já estava aqui. - disse o mais simples possível.

- Se estiver mentindo...

- Vou me arrepender pelo resto da vida, é eu sei. - suspirei cansada de tanta enrolação. - Sejamos francos agora, eu e você não somos humanos e se desconfia que sou a espia de alguém, sinto te dizer que está enganado. E agradeço todos os cuidados que tiveram comigo.

- Não está errada quanto a isso, porém...- concordou deixando as presas visíveis num sorriso curto. - Não me agradeça por nada, por enquanto você não passa de uma estranha nesta casa, servindo como comida daquele verme deplorável. - apontou discretamente para o loiro dormindo no sofá. - Imagino que não preciso dizer o que somos e nem as consequências se fugir, não é?

- Não é necessário, eu entendi perfeitamente. - caso fugisse fariam os meus últimos dias na terra um inferno. - Vocês são vampiros e eu serei a ração.

Parece meio patético da minha parte, mas contra pessoas com o ego maior que o mundo é melhor deixar pensarem que estão no controle.

- Exato. - respondeu se retirando do laboratório e me deixou sentada na cadeira refletindo os últimos acontecimentos, repetindo-se na minha mente como um loop infinito. Ficar apavorada não iria mudar o curso dos acontecimentos, nem ajudaria a pensar melhor, pelo contrário, iria me deixar tensa e desorientada. Existia uma saída viável naquele pandemônio e era o vampiro loiro de olhos azuis, dormindo tranquilamente como se não estivesse ouvindo a conversa.

A esperança é a última que morre, não é assim que os humanos costumam dizer?

Ignorei o senso de perigo e me aproximei do sofá, observando o corpo aparentemente esguio, estirado de forma desleixada com as roupas amarrotadas e o braço descansando contra a testa. As mechas loiras mais escuras desciam descolorindo-se nas pontas onduladas. Mas o detalhe mais chamativo era o fone de ouvido enrolado no pescoço que emitia sons estranhos.

- Se continuar me olhando assim - resmungou rouco abrindo os olhos azulados. - não vou me responsabilizar pelo que estou pensando.

Outro tarado esquisito? Devia agradecer a minha estrela da sorte ou simplesmente esmurrá-lo à primeira gracinha.

- Eu só queria saber se estava acordado. - retruquei dando-lhe as costas me afastando e escutei o rangido do sofá, provavelmente estaria se levantando do sofá, ao menos era o que esperava. Mas novamente a minha ingenuidade tinha sido frustrada. Num movimento rápido e preciso meu corpo foi puxado de volta, chocando as costas contra algo duro e sendo envolta por braços que me prenderam com firmeza.

Bom, a ideia de que ele não tinha um bom físico havia acabado de ser refutada.

- Só não dê trabalho, ouviu?- a voz rouca arrepiou minha nuca e fez meu coração disparar, espalhando aquela sensação quente nas bochechas. - Louis leve-a ao quarto.

Ainda não estava entendendo o porque de estar me sentindo assim, devia ser impossível.

- Sim, jovem mestre. - o criado subitamente apareceu trajando um impecável libré com modestas abotoaduras prateadas. De longos cabelos castanhos presos num rabo de cavalo frouxo e íris acastanhadas contrastando com o rosto pálido.

A ala oeste dos empregados ficava nos fundos da mansão, que parecia mais relaxante que os corredores de antes, e realmente era

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A ala oeste dos empregados ficava nos fundos da mansão, que parecia mais relaxante que os corredores de antes, e realmente era. Das janelas abertas do corredor simples podia-se ver o jardim florido e, também, sentir a brisa da noite entrar sem cerimônia. Chegava a ser reconfortante a presença de Louis que apesar de tudo me tratava com gentileza e empatia, tranquilizando meus nervos daquela... sensação esquisita.

- Aqui é seu novo quarto. - abriu a porta sorrindo animado.

O cômodo era menor que o quarto anterior, por outro lado, mais simples e prático, nada daquele espaço exagerado. A parede branca combinava com as cortinas e a cama de solteiro encostada na parede, onde havia uma ampla janela de vidro e se abria a visão da floresta cercando os fundos. A segunda janela era menor e ficava no final do quarto, com uma modesta escrivaninha que repousava abaixo dela.

- Nesse armário têm cobertores e lençóis, caso precise. - disse abrindo o armário que tinha tudo que havia dito e mais dois futons no fundo. - E nessa cômoda poderá guardar suas roupas, quando chegarem - informou mostrando as gavetas vazias da cômoda ao lado da porta.

- Quando chegarem...- repeti pensativa.

- Quanto a isso fique despreocupada. - disse esboçando uma careta. - No banheiro, há roupas, as quais acredito serem de seu tamanho e o mais importante: tranque a porta do banheiro, quando estiver tomando banho. - aconselhou empurrando minhas costas na direção da porta do banheiro.

Antes que me desse conta, já estava lá dentro. Em seguida, despediu-se e me deixou aproveitar uma banheira quente e sais de banho. Qual era daquele aviso? Ele disse como se houvesse um maníaco invasor de banheiros espreitando a casa.

O conto da máscara Onde histórias criam vida. Descubra agora