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  Vagarosamente Sky abriu os olhos num lugar completamente desconhecido e, ao mesmo tempo, tão familiar. Ergueu-se do sofá onde seu corpo estava largado e deu uma olhada lenta ao redor. Viu as estantes de livros e os quadros na parede, reconhecendo de imediato os objetos da sala de Pete. Caminhou em passos lentos até a parede, lá estava o quadro. Aquele em que a garota brincava com um filhote de cachorro. Deixou escapar um sorriso quando lhe veio a mente a imagem da pequena correndo com o filhote, mas logo saiu daquele pensamento quando uma coisa pequena e peluda passou entre suas pernas. Olhou para baixo e tomou um susto ao ver aquela bola de pelos preto e branco, quem estava alí era o cachorro do retrato, lutando por um pouco de carinho na barriga, o que Sky não resistiu a dar.

  - Que estranho - sussurrou - Pete não disse que você morreu?

  O cachorro arfava nas mãos de Sky, contente e totalmente entregue àquele gesto de carinho. Bom, pelo menos até decidir ir embora pela porta ao lado.

  - Ei, me espera...

  O Aurum seguiu o filhote até o quarto onde tudo era extremamente rosa e infantil. Na cama, Sky deduziu imediatamente quem estava coberta pelos longos edredons brancos. Aproximou-se e viu a pequena garota suspirando gentilmente de olhos fechados. Era tão linda, e tão parecida com Pete.

  - Eu sei - ouviu a voz que arrastou seu olhar imediatamente para o espelho do quarto - ela é realmente muito linda.

  - Você... - Sky sussurrou, encarando o reflexo - já estou quase me acostumando com suas aparições aleatórias.

  - "aleatórias"? - ele riu - se é o que você pensa...

  Sky franziu a sobrancelha, confuso e curioso.

  - Por que me trouxe aqui? - indagou o Aurum - onde estou?

  - Estamos quase no momento - o reflexo deu ênfase ao fim da frase - vai ser mais fácil te orientar pelo tempo do que pelo espaço.

  - E que "momento" seria esse?

  - Vamos voltar algumas horas...

  O reflexo estalou os dedos, Sky olhou confuso o gesto e abriu a boca para perguntar o que significava, mas foi cortado por uma voz que entrou no quarto aos gritos.

  - Eu não vou! - Uma voz gritou pausadamente.

  Sky se virou para ver quem era e, de repente, viu que estava naquele mesmo escritório onde, em outro sonho, havia discutido com um senhor. Dois rostos familiares e irados discutiam, seus irmãos, os gêmeos.

  - Você não pode continuar distorcendo as regras para ele! - o loiro respondeu, cheio de autoridade.

  - Mas não percebe que estamos machucando ele?! - Luka respondeu, sua voz estava cheia de um misto de angústia e raiva - É nosso irmão, Kaleb!

  O loiro cruzou os braços e virou o rosto, firme e obstinado.

  - Se continuar assim... - a voz de Lika suavizou-se - vamos perdê-lo.

  - Que seja - Kaleb caminhou para a saída, abandonando o escritório e Luka, que caiu sobre os próprios joelhos, desabando em um choro agonizante.

  Sky correu até o irmão, queria poder consolá-lo, mas foi impedido pela voz do reflexo na parede espelhada do escritório.

  - Nem tente - advertiu - eles não podem nos ver ou ouvir. Tudo que está aqui dentro faz parte da sua memória, e na memória, você não o consolou.

  - O que eu fiz? - perguntou Sky, olhando com aflição o irmão.

  - Fugiu - respondeu o reflexo - para a casa onde estávamos há pouco.

Jardim de Memórias: uma história Chance de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora