Jardim de Memórias: uma história Chance de Ouro

16

  Era dia de faxina na casa do Aurum. Crystal limpava a mobília da casa euforicamente enquanto Icaro cuidava dos trabalhos maiores, como podar o jardim e fazer a manutenção dos equipamentos da casa, além de levar as roupas para a lavanderia. O ruivo sentia o corpo tremer de cansaço e se tivesse que descrever aquele peso, usaria com certeza as palavras "mortal", "diabólico", "agonizante", "infernal" e outros sinônimos.

  Enquanto isso, Sky tinha apenas a obrigação de arrumar o próprio quarto. Limpou o espelho primeiro, o que não era tão fácil, considerando que ele ocupava uma parede inteira. Depois, organizou e separou as roupas limpas e sujas. Em seguida, era a vez da cama. Tomou cuidado extremo nessa parte por causa da gaveta que dava acesso ao caderno de anotações secretas e os comprimidos não tomados. O compartimento estava quase cheio, logo ele teria que arranjar outro esconderijo para as pílulas azuis ou seria descoberto. Sky tomou o caderno em mãos e revisou as anotações:

- segredos do irmão
- Pílulas azuis
- ADN2002
- Pingente de sol e lua
- Kai (sonhos)
- Pete (beijo)

- Yang... (?)

  Quase nada havia mudado desde a última vez que escreveu no caderno, ainda não tinha resposta para a maioria das perguntas. Além de não descobrir sobre as intenções do irmão mais velho ao fazê-lo tomar as pílulas, havia descoberto outro irmão que despertou fortes sentimentos passados. O problema das pílulas azuis estava longe de se resolver e ainda não sabia o que raios é ADN2002. Quanto ao pingente, apenas sabia que isso ligava-o a Pete, mas não sabia mais nada além disso. Falando no loiro, precisava resolver o problema que os impedia de ficar juntos, ou seja, Crystal. E ainda tem aquele desconhecido novo que estava claramente interessado em Pete. Mas o pior e mais confuso mistério para o Aurum era saber quem é Yang e por que estava chamando-o em seus sonhos. Havia parado de ter sonhos desde aquele último e macabro pesadelo. Era tanta coisa para processar que Sky teria gritado enlouquecidamente naquele instante, se Icaro não tivesse aparecido na porta de repente.

  - Icaro?! - o Aurum se virou abruptamente, escondendo depressa o caderno de anotações e as pílulas não tomadas na gaveta.

  - Tudo bem aí? - aproximou-se o ruivo, sorrindo gentil, porém cansado.

  - T-tudo - gaguejou Sky - quer alguma coisa?

  - Só vim avisar que já está quase na hora de ir para o Instituto, então pode deixar o resto da faxina comigo.

  Sky encarou a expressão sorridente que escondia cansaço e fadiga, sentiu pena pelo amigo e considerou ficar em casa para ajudá-lo. Por mais que Icaro fosse apenas o mordomo, o Aurum havia estabelecido uma boa amizade com o ruivo.

  - Tem certeza que não quer ajuda? - Sky insistiu, aflito pelo amigo.

  - Ande logo - Icaro sorriu, agradecido - precisam de você para ajudar nos preparativos da festa da primavera!

  Sky insistiu por mais algum tempo, mas Icaro era bom em seus argumentos. Por fim, o Aurum se rendeu e foi com Crystal para o Instituto. Os dois namorados também haviam se aproximado um pouco mais depois do episódio no shopping, mesmo que isso significasse tornar as coisas mais difíceis no futuro. Sky só queria que ela entendesse que eles ainda podem ser bons amigos, e esperava que isso pudesse ser verdade.

  Mas seria mesmo?

  No Instituto, Al e Sammy foram os primeiros a abordar o Aurum, assim que se separou de Crystal, na entrada. Os dois também estavam mais próximos depois do plano de pegadinhas da escritora de fanfics, coisa que Sky não demorou a notar.

  - Foi um tédio sem você por aqui! - reclamou Alex, enquanto os três caminhavam para o auditório, onde a festa era organizada.

  - Mas vocês dois se divertiram bastante - Sky comentou - até viraram amiguinhos.

  - Eu? Amigo dessa doida? - Al negou, recebendo da garota um belo de um tapa nas costas.

  - Ele só fala besteiras - a garota provocou - e como foi no shopping?

  - Nada demais - disse Sky.

  “Nada além de um imbecil dando em cima do meu Pete", era o que ele queria dizer, na verdade.

  Desde ontem, Sky não parava de pensar e se contorcer de raiva sempre que a imagem de Pete rindo para aquele garoto vinha em sua cabeça. E como se não bastasse a lembrança, ainda teve que ver ao vivo e em cores mais uma vez.

  - Sky! - o loiro de mechas castanhas se aproximava, ao lado do moreno.

  Sky acenou e sorriu, tentando não demonstrar que estava... Bem, se corroendo de ciúmes.

  - Oi, pessoal - a voz de Max chegou aos ouvidos do Aurum como algo repugnante.

  Sammy correu até os dois, a garota demonstrava empolgação enquanto aproximava Pete e Max, sussurrando algo consigo mesma.

  - É isso! - ela gritou, eufórica - isso vai ser ótimo pra minha fic! Pete e Max! Já estou me arrepiando inteira!

  Al olhou para o rosto inflamado de ódio de Sky e agarrou o braço de Sammy, afastando a garota e sussurrando algo para ela, como uma repreensão nada discreta.

  - Então... - Pete gaguejou, confuso - vamos para o auditório?

  - Todos nós? - Sky perfurou Max com o olhar rapidamente.

  - Claro - Pete respondeu, puxando Max para continuar o trajeto - vamos, antes que Maryanne nos repreenda.

  Al e Sammy fizeram som de vômito ao mesmo tempo que ouviram o nome, caminhando atrás de Sky, que seguia os dois garotos fuzilando aquela conversa "divertida" com um olhar assassino. Al comentava com Sammy, para que ela não fizesse coisas como a que havia acabado de fazer, e mesmo que a garota realmente quisesse usar Pete e Max como objeto para criação de seus textos, decidiu ouvir os conselhos do baixinho.

  No auditório, boa parte do processo já estava em andamento. O lugar estava parcialmente coberto de tons de lilás, nas flores das paredes, nas fitas decorativas e nas lanternas e leds que iluminavam o palco e a pista de dança. Outra equipe encarregava-se de ornamentar os tronos reais no palco, afinal, um baile real precisa de um rei e de uma rainha, certo? De longe, Al conseguia ver Min e Maryanne juntos, coordenando as equipes. Não que Alex estivesse muito disposto a ficar olhando o amigo com aquela garota, mas às vezes era inevitável olhar.

  Os cinco foram mandados para a decoração das rosas nas paredes, já estavam no processo fazia meia hora e, como Pete e Max não haviam parado de conversar e rir, Sky não havia parado de encará-los.

  - Tem algo errado com ele? - Sammy apontou para o Aurum, sussurrando para Al.

  O baixinho apenas suspirou, revirando os olhos.

    - Ok, entendi - Sammy se desculpou, voltando a enfileirar rosas.

  Sky se aproximou dos dois, discretamente. Queria ouvir o motivo de tantos risos, mas a conversa acontecia em sussurros. O que era tão secreto para que ele não pudesse ouvir?

  - Então você gosta de cafés? - Max perguntou baixinho, a voz grave do moreno fazia parecer que ele estava gravando um asmr.

  - Com certeza, os franceses são os melhores! - Pete respondeu, animado.

  - Conheço alguns aqui por perto, podíamos passar neles depois da aula - o moreno sugeriu.

  "Não!", Sky quis gritar.

  - Claro - Pete sorriu, fazendo o Aurum ferver de ódio, por trás dos dois.

  Que raios estava acontecendo ali? Primeiro, aquele estranho estava cantando seu loiro e agora estava chamando-o para sair?

  Sky virou-se, deixando o trabalho sem dizer nada. E claro, Pete não notou.

  - Que inferno! - o rapaz chutou a cabine do banheiro onde havia se entocado.

  O Aurum tremia de ódio e sentia-se ridículo por isso. "Ele não me deixaria por aquele outro", quis pensar. Mas, na verdade, Pete não estava preso a ele, como ele estava a Crystal. Se era assim, precisava de uma solução urgente, antes que Max roubasse seu garoto. E só havia uma resposta para aquele problema.

  Se Pete não estava preso a ele, então ia ele mesmo se encarregar de prendê-lo.