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    Quando Sky cruzou a porta da sala, após chegar em casa, viu o ruivo caído no chão. Seu corpo suava, fervendo com o calor de uma febre mortal enquanto disparava tosses assíncronas.

  - Icaro - Sky correu para socorrê-lo. Tirou o celular do bolso e começou a digitar o número do hospital - Alô? Mande uma ambulância, por favor! Eu-

  - S-sky - o ruivo expeliu, rouco - não precisa, eu estou bem.

  - "Bem"?! - o Aurum indagou, indignado. Antes que o ruivo pudesse responder, Sky continuou - Icaro, você está péssimo! Nós vamos para o hospital, agora!

  A ambulância levou uns cinco minutos para chegar e mais cinco para levá-los ao hospital, onde Icaro foi cuidadosamente recebido e tratado. Na sala de espera, Sky ficava mais inquieto a cada segundo. Aquele lugar não lhe trazia boas lembranças e, nesse caso, literalmente. Foi aqui onde acordou após o acidente que sofreu. Era um lugar grande e, segundo Icaro, o hospital mais eficiente da região. Mas uma coisa não anula a outra, Sky não gostava daqui.

  - Sky Aurum? - um homem de jaleco branco aproximou-se, olhou sua prancheta e prosseguiu - prazer, doutor Daniel. O paciente está bem. A febre está se estabilizando, é um caso comum de estresse e cansaço excessivos.

  - Ele pode sair ainda hoje?

  - Receio que não - Daniel respondeu - por mais que o caso seja comum, o dele é o mais grave que já vi - o doutor começava a tomar nota na prancheta - com que tipo de coisa ele vem lidando?

  De imediato a mente do Aurum fuçou as profundezas de suas memórias pós acidente. Tudo, absolutamente tudo que envolvia Icaro tinha a ver com trabalho. O ruivo era responsável pela limpeza, manutenção, abastecimento, contas, e tudo isso seria até simples, se não se tratasse da casa dos Aurum. Além disso, Icaro também estava constantemente resolvendo questões de negócios do irmão mais velho.

  - Olha, com tanta carga, não me surpreende que ele esteja assim - prosseguiu o doutor, vendo a expressão pesada de Sky. Depois, ele pôs a mão sobre o ombro do Aurum e lhe deu um sorriso confiante - Faça uma visita a ele... E não se preocupe, vai ficar tudo bem.

  Sky queria, mais que tudo, acreditar naquilo. Poderia estar surtando ou chorando, mas agora não. Queria ver o ruivo, desejá-lo melhoras e, se possível, sair dali com ele antes que a inquietação se tornasse perturbação novamente.

  - Tic toc - Sky bateu à porta do quarto onde Icaro repousava num colchão azul claro - boa noite...

  Icaro respondeu com um aceno de mão frágil. Ainda parecia cansado, mas, pelo menos a febre havia passado.

  - Não precisav...

  - Ah, não! - Sky cortou a fala do amigo - Icaro, é claro que eu precisava te trazer aqui! Eu não poderia deixar você naquele estado!

  - Mas você não gosta de vir aqui - as palavras calaram o Aurum - não estou certo?

  Sky não respondeu nada. Então, Icaro prosseguiu.

  - Sky, eu sei que esse lugar significa o fim da sua antiga vida, e sei o quanto você quer lembrar do passado. Se eu pudesse, realmente te ajudaria a lembrar, mas... - por um instante, Icaro pareceu forçar silêncio em si mesmo.

  Ele não continuou a frase depois disso, apenas suspirou profundamente e se calou, cabisbaixo.

  O ruivo, em parte tinha razão. Sky não se sentia confortável ali, mas estava disposto a sentir-se incômodo pelo amigo. Olhou outra vez para Icaro, em repouso e lembrou-se de quando era ele que estava deitado e sendo observado pelo ruivo. Icaro foi a primeira pessoa que Sky conheceu depois que acordou do acidente.

Jardim de Memórias: uma história Chance de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora