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  Naquela noite, Sky nem sequer pregou os olhos na cama. Uma poderosa insônia mesclou-se ao medo de reencontrar aquele abismo em seus sonhos. Resultado: olhos vermelhos e inchados, logo no dia da festa da primavera. Nada que um bom colírio e a maquiagem de Crystal não resolvessem.

  A noite caiu e, agora, faltavam apenas alguns minutos para o grande evento. Sky continuava parado diante do espelho, com olhar caído e sonolento, apesar dos esforços com a base. O tema, como determinado por Maryanne, era baile real, mesmo assim ele não estava trajado exatamente como um "príncipe". Calça branca com rasgos nos joelhos e coturnos pretos, com uma camisa social azul marinho e, claro, o pingente de Lua do qual nunca se afastava. Além disso, agora havia um novo pingente para usar, a pequena corrente com uma estrela que havia recebido de Crystal ontem. Estava pronto para ir. Bem, pelo menos, fisicamente. Sobre a cabeceira, o envelope que havia recebido do professor Darwin, com as provas de que seus irmãos estavam drogando-o, e informações sobre Kai Aurum.

  "Kai...", sussurrava para si, melancolicamente. Lembrava dos sonhos com seu passado desconhecido e da conclusão que havia chegado ontem, na sala do professor.

  - Eu sonho com ele... - dizia em tom frio e trêmulo - em meus sonhos, alguém me chama de Kai, e eu chamo essa pessoa de... Yang.

  - Hm - o professor ouvia tudo atentamente - e você conhece esse Yang?

  - Eu acho que sim, porque ele é exatamente igual a alguém que eu conheço - Sky respondeu. Depois, engoliu em seco, temendo as próprias palavras - me chame de louco, mas eu tenho quase certeza de que, antes do acidente... Pete e eu fomos Yang e Kai.

  No momento, o professor não reagiu com surpresa. Na verdade, não parecia algo tão espantoso, considerando todo o resto que aconteceu. Mas não era assim para Sky. Se Pete realmente esteve presente em sua vida antes do acidente, por que escondeu isso? Por que não se apresentou como Yang? O que há de tão terrível sobre Kai que todos tentam esconder?

  - Ok, chega por hoje - Sky agarrou o envelope e abriu a gaveta secreta embaixo da cama, onde ficavam guardados o caderno de anotações e as pílulas azuis não tomadas - você vai ficar aqui, eu não quero ter que lidar com isso hoje.

  - Isso o quê?

  Sky saltou de onde estava com o chamado repentino de Icaro.

  - Icaro?! - ele gaguejou, virando-se para o ruivo, tentando disfarçadamente fechar a gaveta com o pé - já voltou do hospital!

  - Acabei de chegar - ele respondeu com um sorriso suave e despreocupado no rosto - então... Se preocupar com o quê?

  - N-nada!

  - hmm - o ruivo lançou um olhar desconfiado - tudo bem, eu só queria te ver antes que você fosse para a festa da primavera.

  Icaro se aproximou do Aurum e mexeu nos botões da camisa.

  - Você é um desastre se arrumando - o ruivo corrigia os erros na roupa do Aurum - mas seu esforço é bonito. Sabe, Sky, nem sempre tentar arrumar as coisas é a solução, e se virar uma obsessão, pode fazer mal.

  - P-por que está dizendo isso? - indagou Sky, confuso com as palavras repentinas.

  - Veja o que houve comigo - o ruivo prosseguiu, entre risos - eu queria resolver tudo, e acabei indo parar numa cama de hospital.

  - Icaro...

  - O que quero dizer é - ele se afastou um pouco, com as mãos sobre os ombros do amigo - você não precisa ir tão fundo. Existe uma vida toda pela frente, não se afogue com coisas do passado.

Jardim de Memórias: uma história Chance de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora