UM SURPREENDENTE AMANHECER

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Através de um pequeno, quase ínfimo vão das cortinas mal cerradas, um raio de sol se esgueirou e foi bater justamente no rosto de Malu. Aos poucos, com muita dificuldade, ela foi abrindo os olhos. Espelhos da alma... Que doía e rodava, profetizando a ressaca física e moral que teria que enfrentar.

Não fazia a menor ideia de onde estava. Só sabia que tinha um braço desconhecido em volta da cintura.

Olhou ao redor, ou melhor, diretamente para o espelho no teto. E teve de uma só vez, a resposta para todas as perguntas.

Cautelosamente, pra não acordar a mulher de cabelos curtinhos que dormia possessivamente abraçada a ela, foi se desvencilhando aos poucos. A outra se virou, resmungando. Malu sentou na cama, e pressionou a mente. Precisava se lembrar.

Os flashes – incrível como depois de toda amnésia alcoólica as lembranças sempre vem aos poucos, cortadas, como cenas mal editadas de um filme - pipocaram.

Noite anterior. Mesa da boate. A tal mulher, extremamente masculina, exatamente o tipo que Malu detestava, fumando um... charuto?

Uma atração repulsiva tomando conta de Malu, enquanto beijava ardentemente a mulher do charuto na boate. Na verdade, um sentimento de prazer e desejo - como nunca tinha sentido antes - a dominava.

E por fim, no quarto do motel, a mulher empurrando Malu para a cama. Malu caindo de costas, deitada, e a outra se atirando em cima dela com uma expressão absolutamente voraz.

A simples lembrança fez Malu se arrepiar inteira. Porque em toda a experiência que tinha com mulheres – que realmente não era muita – nunca, jamais tinha cogitado agir daquele jeito. Em primeiro lugar, se lançar assim, do nada, nos braços de uma desconhecida completa. Em segundo, permitir - quase morrendo de tanto prazer - que a dominassem, a usassem de todas as formas e maneiras.

Suspirou, exasperada. Não adiantava culpar a bebedeira. Tinha adorado aquele jeito exigente da outra, que não deixava margem para pudores nem resistências. Tinha se rendido, mergulhado numa entrega total e derradeira.

Passou a mão nos cabelos, tentando não se desesperar por completo. Olhou em volta. As roupas das duas espalhadas, misturadas pelo chão. Irônico reflexo do que tinha acontecido.

Em cima da mesinha de cabeceira um cinzeiro, com vários charutos apagados. A noite tinha sido longa. E incrível. Não podia negar. Pelo pouco que conseguia se lembrar, e pelo corpo totalmente dolorido.

Saiu sem deixar vestígios. Pegando as roupas espalhadas e se vestindo o mais rápido possível.

Trecho do livro SIMPLES COMO AMOR de Diedra Roiz, publicado pela Editora Vira Letra

Trecho do livro SIMPLES COMO AMOR de Diedra Roiz, publicado pela Editora Vira Letra

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