A MONSTRA

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Cris girou a chave na porta e entrou no apartamento. Levou um susto quando acendeu a luz e deu de cara com Brenda apenas de calcinha e sutiã em cima do sofá.

Primeiro pensou que era mais uma das brincadeirinhas sexuais dela. Depois, olhou com mais atenção e reparou que não. Algo estava fora de quadro, entretanto... Não descobriu logo de cara.

Como num jogo de sete erros, capturou os detalhes um por um: o secador de cabelo na mão esquerda dela, a escova de cabelo na direita, a expressão de profundo pavor no rosto que se confirmou quando com voz estrangulada, Brenda quase gritou:

- Graças a deus! Finalmente você chegou!

Cris tentou dar um passo em direção a ela, mas Brenda a parou:

- Cuidado!

O medo irracional da outra a irritou. Perdeu logo a paciência:

- Que foi?

Um berro horripilante a cortou. Olhou para a direção que Brenda indicava, com o dedo apontado, o rosto distorcido de medo, enquanto incessantemente berrava:

- Aaaaaaaaaaaaaaah!!!

Finalmente viu o motivo do horror: uma barata gigante, repugnantemente cascuda, rastejante e marrom. Juntou os próprios gritos aos da outra, enquanto pulava com uma agilidade de ginasta olímpica para cima do sofá, ao lado de Brenda:

- Aaaaaaaaaaaaaaah!!!

Súbito ficaram caladas.

As três se entreolharam, paralisadas.

Brenda.

Cris.

E a barata.

A porta voltou a se abrir, para Silvinha entrar. Foi bem mais perspicaz do que Cris, para compreender a situação bastou um único olhar em direção ao inseto. Rápida como um raio, pulou no sofá. Agarrada em Cris, juntou-se ao coro infernal:

- Aaaaaaaaaaaaaaah!!!

Já completamente esquecida de que não estava sozinha. Só voltou a se lembrar quando uma voz firme, apesar de tímida, perguntou:

- Será que eu posso entrar?

Imediatamente, Silvinha respondeu, tentando se controlar:

- Poder pode, mas... Tem uma... – não conseguiu mais fingir, foi obrigada a extravasar: - Barataaaaaaa!!!

Brenda e Cris completaram com dois enojados:

- Arg!

A voz atrás da porta se materializou. A mulher que surgiu, absolutamente calma, não conseguiu impedir o risinho divertido que se formou no canto da boca ao ver a cena grotesca e... Baratofóbica.

As três mulheres em pé no sofá não se envergonharam. Pelo contrário. Descabelaram-se mais um pouco:

- Mata! Mata! Acaba com esse bicho horroroso!

A mulher fitou-as. Sacudiu negativamente a cabeça e falou:

- Todo e qualquer animal, por mais pavoroso que pareça, tem seu lugar no universo.

Cris não aguentou:

- Quem é essa louca?

A mulher a ignorou:

- Preciso de uma revista.

Com um histerismo rascante, Cris exclamou:

- Pra quê? Você vai ler pra ela?

Como se Cris fosse invisível, Silvinha informou:

- No banheiro tem um monte.

Com uma precisão cirúrgica, a mulher foi e voltou do banheiro com uma revista na mão. Aproximou-se da barata com uma simpatia visível. Bateu o pé no chão e a fez subir na revista, que levou até a janela, onde sacudiu as páginas ruidosamente. Brenda, Cris e Silvinha arrepiaram-se de nervoso e terror.

Logo depois, a mulher voltou com uma expressão de missão cumprida:

- Pronto. Podem descer. A coitadinha já foi.

Silvinha não desceu do sofá. Saltou. Com evidente encantamento e admiração, pendurou-se no pescoço da mulher heróica e beijou-a com empolgação.

Cris ficou parada, observando os lábios se fundirem sofregamente, com inegável ardor. Sem saber por que ver aquilo era como... Não tentou nem quis explicar. Sequer conseguiu confessar para si mesma o quanto a cena a incomodou.

Trecho do ebook REGRA DE TRÊS de Diedra Roiz disponível na Amazon e no Kindle Unlimited

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