FELIZ ANO NOVO

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O último dia do ano foi muito quente e abafado. Passaram o dia inteiro na piscina bebendo cerveja e tentando conversar. Tentando, porque graças às farpas, alfinetadas e palavras sarcásticas trocadas por Dani e Mel isso se tornava muito difícil.

Jantaram um lombinho com arroz à grega maravilhoso que Deca e Raq tinham preparado. Isso sem falar da magnífica torta alemã de sobremesa. Até Dani foi obrigada a concordar com Mel:

- Meninas, vocês se superaram!

Continuaram bebendo e por volta das onze e meia ninguém mais aguentava a implicância das duas. Dessa vez a briga tinha começado com Mel afirmando que Nova York era o melhor lugar do mundo. Dani, é lógico, discordava. Para ela, Paris e Amsterdã eram incomparáveis.

PH e João se trancaram no quarto, Paulinha e Bia sumiram dentro de uma das redes e Deca e Raq se atracaram num sofá, deixando Dani e Mel discutindo sozinhas.

Quando o assunto terminou, para variar sem que chegassem à conclusão alguma, as duas ficaram paradas em silêncio na varanda, olhando a chuva torrencial que tinha começado a cair. Só então se deram conta de que estavam a sós.

Dani se virou para Mel com um olhar que já tinha derrubado muita gente:

- Parece que agora somos eu e você...

Mel achou que Dani só podia estar brincando. Que papo furado era aquele? Respondeu mal humorada, irritada, exasperada mesmo:

- Infelizmente.

- Sinceramente? O que foi que eu te fiz?

- Além de existir?

Aquilo foi demais para Dani. Não ia romper o ano brigando com Mel. Não mesmo. Foi se afastando da casa, sentindo a alma lavada.

Mel ficou olhando Dani se afastar na chuva, com um ódio crescente. Num impulso foi atrás dela, o salto fino afundando na terra molhada e a fazendo avançar com dificuldade.

Dani viu Mel se aproximando. Molhado, o vestido branco tinha grudado, revelando todos os detalhes do corpo dela. Uma forte pontada de desejo a fez estremecer.

A fúria que Mel sentia a deixava cega. Mas não a ponto de não ver que a roupa de Dani estava totalmente transparente. O que sentiu foi tão forte que tropeçou, e teria caído se não tivesse se segurado em... Dani.

Apesar da chuva torrencial, um calor intenso explodiu entre as duas, como a erupção de um vulcão adormecido por muito tempo. Eram da mesma altura e podiam sentir no rosto o hálito quente uma da outra. Mas Dani não ia perder a oportunidade de provocar:

- Não basta ficar me perseguindo, vai ficar me agarrando também?

Mel abriu e fechou a boca várias vezes antes de conseguir responder:

- Você até pode se achar irresistível, mas não é!

Dani deu um riso gostoso, rouco, íntimo, antes de dizer:

- Confessa que tá louca por mim.

Mel não sabia o que a fazia tremer mais, o frio ou a verdade nas palavras dela:

- Você... Você sabe ser cretina!

A voz de Dani se tornou absolutamente sedutora:

- Sei ser o que você quiser...

E antes que Mel pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Dani a segurou pela cintura e mergulhou os lábios nos dela.

Bem que Mel tentou resistir, mas aquela boca era tentadora demais, experiente demais, gostosa demais, e a venceu com uma facilidade humilhante. Com a respiração alterada e o coração dando pulos no peito, passou os braços ao redor do pescoço de Dani, e correspondeu da mesma forma devastadora e derradeira.

Então foi loucura, uma explosão irrefreável, como subir à tona e respirar novamente, como se existir dependesse única e exclusivamente das línguas e bocas que naquele momento se exploravam.

Os primeiros fogos explodiram no céu, anunciando que o ano tinha virado, mas elas nem perceberam. Foram as vozes vindas da casa que finalmente as trouxeram de volta à razão.

Paradas ali, no meio do temporal, completamente ensopadas pela chuva que continuava implacável, as duas se encararam em silêncio.

Dani tinha um sorriso vitorioso nos lábios. Mel olhou bem dentro dos olhos dela e retribuiu... Com uma forte bofetada.

Trecho do livro AMOR ÀS AVESSAS de Diedra Roiz, publicado pela Editora Vira Letra

Trecho do livro AMOR ÀS AVESSAS de Diedra Roiz, publicado pela Editora Vira Letra

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