capítulo 2.

1.2K 99 23
                                    

NEVIO FALCONE

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


NEVIO FALCONE. — 12 ANOS DE IDADE.

LAS VEGAS, NEVADA.

"Me encontre no gramado, no fundo da mansão, hoje de noite. Tenho algo para você."

    Eu deslizo o pequeno papel pela fresta do armário de Aurora, e em seguida, sigo em direção ao de Greta, ao nota-la parada mexendo em seus livros.

    — Qual aula você tem agora? — Greta pula para atrás, surpresa e assustada, ao escutar minha voz tão de repente. Ela bufa baixinho ao me ver, e se endireita enquanto volta ao normal.

    — Não faça isso nunca mais, por favor. Você quase me matou de susto.

    — Você se assusta até com o motor de um carro. — gargalho e suas bochechas, como de costume, ficam avermelhadas. — Estava escondendo algo de mim aí dentro? — pergunto, apontando para a pilha de seus materiais arrumados. Ela é sempre tão cuidadosa com tudo, seja uma pessoa ou um objeto. Argh!

    — Claro que não. Você só me pegou desprevenida. — explica.— Não existe segredos entre nós, não é?

    Eu faço que sim com a cabeça. Realmente nunca houve segredos e mentiras entre eu e minha irmã, não que fossemos gêmeos com superpoderes, como ler a mente um do outro ou sentir as mesmas sensações que o outro estava sentindo, mas crescemos unidos e conectados ao ponto em que sabíamos tudo e mais um pouco.

    — Vi você no armário da Aurora. — Greta comenta. — O que aconteceu? — ela me observa, na espera de uma resposta.

    — Fui deixar um recado. — digo.

    — Qual tipo de recado? — suas sobrancelhas se erguem em alerta.

     — Tenho uma surpresa para ela. — sorrio, dando de ombros para a expressão de reprovação que aparece no rosto de minha irmã.

    — Não vá chatear o papai com suas brincadeiras, Nevio. — ela me pede em tom de súplica.

    O sinal do colégio emite seu som agudo, instantes depois, dando fim ao intervalo e a minha conversa com Greta. O corredor se torna cheio e barulhento com tantas pessoas conversando a caminho de suas salas.

    — Preciso encontrar Alessio antes. Te encontro na saída, tudo bem?

    Ela concorda, colocando a mochila nas costas e se misturando na multidão.

[...]

    — Por que não escolhe esse? Vocês até são parecidos. O pelo dele é tão preto quanto seu cabelo. Aposto que Aurora vai adorar.

    Eu reviro os olhos com a fala de meu primo Alessio sobre um Rottweiler deitado na entrada do Pet Shop. Ele late alto e nervoso quando passamos ao seu lado, para olhar melhor os outros cachorros da loja, e aquilo parece chamar a atenção da moça loira sentada atrás do balcão.

    — Olá, meninos! Poderia ajuda-los? — ela grita, ao se levantar de seu lugar.

    — Meu primo quer adotar um cachorrinho para a namorada. — Alessio responde.

    Eu engasgo, envergonhado.

    — Ela não é minha namorada...Ela é... Bem, uma amiga!

    — Digamos que uma amiga bem especial, certo?! — seus imensos olhos piscam, de forma assustadora, para mim. — Bem, eu sou Brenda e irei ajudá-lo a encontrar o cachorrinho ideal para ela! — a tal da Brenda, então bate palmas e me lança um sorriso tão animado que considero ser forçado. Talvez realmente seja, porque duvido que ela não reconheça eu e  Alessio, e principalmente, o sobrenome que carregamos. O sangue Falcone corre por nosso corpo e somos respeitados por isso.

    — Então... Fêmea ou macho?

[...]

    Já se passam das dez horas da noite quando eu me desembrulho do edredom pesado ao ouvir latidos baixos. Oh merda! Sabia que não era uma boa ideia deixa-lo na antiga brinquedoteca. Eu calço meu tênis não dando a mínima importância para os cadarços e passo correndo pela porta do quarto. No último degrau da escada, não consigo mais escutar os latidos e solto um suspiro aliviado.

    — Nevio? Você não deveria estar na cama?

    Eu congelo ao ver Adamo no escuro da sala de estar. E ele não deveria estar em New York?

    — Meu pai sabe que está aqui? — a pergunta salta sem que eu perceba.

    — Não. Voltei sem avisar ninguém.

    — Por que? — estreito os olhos, desconfiado. Apesar de papai e Tio Nino sempre cochicharem e esconderem o passado do irmão mais novo, Tio Savio não faz o mesmo. Eu sei desde os roubos de carro à sua negação para se tornar um homem feito.

    — Você é novo demais para entender certas coisas, Nevio. Um dia quem sabe.

    — Bem, não precisa explicar nada para mim, mas terá que explicar para meu pai. — digo, simplesmente.

    — Remo não toma mais decisões por mim. Já disse... Você é novo demais para entender certas coisas.

    Eu aperto meus punhos para controlar a raiva que me sobe a cabeça e decido me afastar de Adamo, porém não sem antes respondê-lo:

    — Meu pai é Las Vegas. Ele toma decisões por todos aqui.

    Eu sinto o vento gelado bater em meu rosto enquanto me apresso para encontrar Aurora no jardim dos fundos. Já não tenho a raiva em mim, apenas um leve enjoo e embrulho no estômago. Estranho! A macarronada de Gemma estava tão boa! Até exagerei na quantidade de pratos... É isso! Comi tanto que não me caiu bem. Balanço a cabeça como se para afastar a sensação e tento me concentrar em Aurora, no entanto a náusea apenas aumenta.

    — Evio!

    Ela aparece ao meu lado vestida em seu pijama com miniaturas de comida japonesa e preciso conter o riso.

    — Oi. Seus pais sabem que estão aqui?

    Aurora balança a cabeça para os lados.

    — Papai não está em casa e mamãe dormiu feito pedra. E o que você tem para mim? — seus dedos prendem uma parte do cabelo para trás da orelha e sei que agora ela está nervosa.

    — Vou te mostrar! Venha!

    Eu a levo direto para a brinquedoteca e assim que a pequena criatura nos vê começa a latir novamente. Aurora sorri e corre para brincar com o cachorro.

    — É seu? — o pequeno Shi Tzu lhe dá uma lambida no mesmo momento e ela cai na risada.

    — Não. É seu. — sorrio. — Feliz aniversário!

    Ela para de imediato a brincadeira e me encara séria.

    — É meu presente? Esse é meu presente, Evio?

    Meu interior sacode e pareço mais enjoado do que nunca. O que há de errado comigo?! Porque não dei um perfume como todos os garotos dos filmes de Greta?

    — Bem, sim... Mas se você não gostou e-

    Sou interrompido por seu grito descontrolado.

    — Nevio?! Eu amei! É o melhor presente de aniversário da história dos presentes de aniversário.

   Aurora me agarra pelos braços e me abraça. E eu não consigo pensar em mais nada a não ser neste momento. Não consigo pensar em mais nada a não ser no cheiro de hortelã vindo de seu cabelo.  Não consigo nem sequer me importar quando minha mãe nos descobre e fico duas semanas sem video game.

TWISTED RULESOnde histórias criam vida. Descubra agora