A garota de cabelos cacheados

Pelos pingos- Daniel

Deixo a escola e Kamila para trás e fui deixado por Katarina. Vê-la com outro cara me fez perceber que a cacheada nunca foi minha. Estou fugindo, eu sei, mas as vezes essa é a atitude mais madura que podemos tomar.

  Sigo para um parque do outro lado da cidade, meu porto seguro, onde vivi os melhores momentos da minha vida. Vou andando mesmo, vou vendo gente com suas próprias angustias. Olho para as árvores emolduradas pelo céu, o parque está vazio, vou andando em direção ao lago quando avisto alguém, resolvo ir naquela direção.

   Quanto mais perto chego mais sinto aquele cheiro de lírios, penso que é uma alucinação minha, agora ela deve estar com outro cara. Me aproximo ainda mais e vejo alguém abraçado com os joelhos e... um cabelo cacheado com pontas azuis. Por que o destino ainda brinca com o que restou da minha sensatez e com meus pedaços?

  - Que que você está fazendo aqui? - seus olhos estão inchados, fico preocupado.

 - Tá tudo bem? - sento ao seu lado na beira do lago e observo nosso reflexo da água enquanto ela não responde. Seus olhos castanhos estão tristes e parados, porque me importo tanto com ela?

  - Acho que é minha vez de pedir desculpas...- Ouço sua suave voz atentamente- Eu não deveria ter sido tão rude, não deveria ter de beijado.

 -Você se arrepende? – pergunto olhando no âmago de seus olhos e não dou a oportunidade que ela me responda. Eu a beijo.

 Meus lábios encontram os seus e suas mãos percorrem meu pescoço e minhas costas, passo a mãos por sua cintura, quadris, nuca; beijo seu queixo e seus ombros. Sinto seu corpo quente contra o meu. Estamos deitados na grama ela afasta sua boca da minha, olha nos meus olhos, seu cabelo faz cosquinha no meu rosto e uma garoa caí do céu tornando seu perfume ainda melhor, seus lábios tremem.

- Isso não significou nada para mim. Somos completamente diferentes e eu nunca me apaixonaria por alguém como você – seus olhos estão frios como gelo. Ela se aproxima do meu ouvido e sussurra- Acorda garoto – quando ela se afasta vejo um pequeno ponto alaranjado chamuscar em meio ao Alasca que se tornaram seus olhos.

 Ela pega a bolsa e saí correndo, vejo seus cabelos se movimentarem de forma perfeita. Meu coração apodrece e meu sorriso falece. Em meio ao vazio deixado acho o alivio da chuva. Como um ser pode ser tão perfeito e perverso, tão suave e tão dura? Isso era o que precisava enxergar e agora que vejo, tenho que seguir em frente. Ela estragou meu parque, mas não vai fazer o mesmo com a minha vida. Agora é o fim do que nunca começou.