Passaram-se duas semanas desde a festa de Henrique, desde o dia que conheci Taylor, ela veio falar comigo naquele beco e está tornando as coisas mais suportáveis. Na escola tudo passa como um borrão, os olhares de ódio de Kamila, as aulas, as conversas no pátio, absolutamente tudo. Menos os olhares de Katarina, quando nossos olhares se cruzam ela me olha com desdém mas um desdém forçado, ainda vejo nela a garota que beijei em uma festa ainda vejo em seus olhos uma chama laranjada, mas depois do que ela disse meu coração parece estar cinza menos quando estou perto de Taylor.... ah ela sempre me distraí e passamos muito tempo juntos agora. Meu celular toca me tirando dos meus pensamentos.
-Alô?
- Oi, é a Taylor- sua voz está tremida- Pode vir aqui em casa?
-Claro- ela desliga antes que eu possa perguntar o que foi.
Não moramos muito longe um do outro então vou andando mesmo. No caminho tento não pensar em nada, tento não pensar em Katarina e em como meu coração está pesado, é assim que funciona a gente se apaixona, quebra a cara, se apaixona de novo e quebra a cara de novo?
Passo direto pelo porteiro, ele já me conhece e de repente me dou conta que ando passando muito tempo com a Tay, mas o pensamento se vai quando vejo a porta do apartamento aberta. Assim que entro está tudo uma bagunça, as almofadas brancas e vermelhas estão no chão, o belo vaso de flores azul marinho está todo quebrado no chão, da mesa de centro de espelhos só restaram os cacos e Taylor está sentada em cima deles sem maquiagem ela fica ainda mais bonita, mas ela está... chorando?
-Tay?
-Eu preciso de um braço...
Sento em meio aos cacos com ela e a abraço, ela chora bastante e quando ela melhora um pouco a deixo sentada no sofá e vou buscar um copo d’água. O resto da casa está bonita e arrumada como sempre, é uma bela cobertura, quando descobri que Taylor morava aqui com o pai fiquei surpreso ainda mais quando soube que ela tinha 15 e que a mãe dela era uma grande empresaria alemã. Quando chego na sala Tay está encarando fixamente a tela do celular.
-Você quer falar sobre o que está acontecendo?
-Vou me mudar – ela levanta a cabeça e uma lagrima desce.
-Mas é só uma mudança de endereço- falo enquanto ela bebe água, de rente ela para e revira os olhos.
- Não...- suas palavras saem como um sussurro- Eu vou morar com a minha mãe – ela desvia o olhar- Vou me mudar para Alemanha.
- Taylor, eu sinto mu...
- Tudo bem – ela diz limpando as lágrimas- Mas não te chamei aqui pra isso-Olho bem pra ela- Tá, eu preciso de ajuda com a bagunça porque como pode ver meu pai e eu explodimos por razões diferentes, mas isso também não vem ao caso. Eu quero te agradecer você foi um ótimo amigo, okay um pouco mais que um amigo e eu quero te levar a um lugar – ela diz com um sorriso brincando em seus lábios.
- E onde vamos?
- Segredo- ela pisca enquanto faz um nó com o longo cabelo loiro- Vamos arrumar essa bagunça, só tenho mais três dias aqui e eu quero aproveitar.
Ela se levanta e começa a arrumar as coisas, catar os cacos. Ela é linda, as curvas do seu corpo são suaves mas precisas, ela seria uma mulher incrível... incrivelmente complexa, o pensamento me faz sorrir. Sinto uma almofada na cara.
- Dá pra me ajudar aqui? – ela diz fingindo estar brava, mas logo em seguida inclina a cabeça para o lado e seu coque se desfaz- Como é mesmo o nome dela?
- De quem?
- Você sabe de quem estou falando- ela joga outra almofada em cima de mim quase rindo- Da garota de cabelos cacheados!
Às vezes me esqueço de como eu Taylor ficamos próximos rápido. Não sei bem quando, acho que num momento em que as coisas ficaram ainda mais difíceis, eu contei sobre Katarina para ela, ela foi uma boa ouvinte e quando terminei ela me abraçou, acendeu um cigarro e me ofereceu um pouco, eu disse que conhecia aquele cheiro e ela apenas sorriu e então não me lembro de mais nada. Isso foi na noite que a gente se conheceu e depois ela se abriu para mim também, aos poucos.
-Katarina - me divirto com o sabor doce e intenso desse nome, das lembranças, do cheiro de lírios e desfruto da leve melancolia de pensar que um dia a teria.
-É um bom nome- ela diz como se guardasse uma lembrança e continua a arrumar as coisas.
Quando terminamos de arrumar tudo ela vai pro banho e eu fico janela vendo o sol descer e as luzes da cidade acenderem, o céu fica entre tons rosa, laranja e o roxo da noite. Acendo um dos cigarros de Taylor ainda pensando um Katarina. Quando a primeira estrela aparece, dou meu último trago lembrando parte de um poema.
“E, no rabisco de um passo de dança,
lançamos um tango,
e, no cigarro que acendo pra lembrar a cena,
te trago...comigo. ”____________________________________________________________________________
NA: Poema de Marla de Queiroz.
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A garota de cabelos cacheados
Teen FictionDaniel é um jovem perdido em meio a uma juventude em que não acredita. Ele não se diverte muito, até que uma noite sai e conhece ela... uma garota de cabelos cacheados que se dança livremente e o beija libertando-lhe da amargura de sua vida, porém s...