Beijos, bebidas e nada de cachos- Daniel

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  Chego em casa, tomo banho e vou para casa de Henrique. Festas curam todas as magoas, era assim que eu pensava, como era tolo, como estou sendo tolo. Voltar atrás nunca foi meu forte, mas não importa mais, o que me fez mudar não era real. A casa de Henrique é luxuosa e é onde os filhos de papai vem pra beber, para perder a virgindade, para morrer; onde as garotas santas e de família mostram quem são. Esse lugar era meu playground, onde eu achava que as coisas aconteciam, que esse lugar em faria diferente, que todos olhariam pra mim e eu estava certo mas não como pensava. Bebo uma dose de tequila de uma só vez e depois outra e depois outra e fico assim a noite toda. Danço, bebo, beijo alguém, bebo mais.

   Saio daquela casa em meio a muita fumaça. Me sinto oco e feliz. Estou sentado na calçada com uma garrafa de cerveja na mão, não sei como cheguei aqui. Minha mãe me vem à cabeça, ela era inteligente, bonita e realmente admirável. Ela saiu dessa vidinha há muito tempo, ela era esperta... Olho para o céu completamente bêbado, os pontinhos azuis me distraem de seja lá o que eu estivesse pensando.

   -PORRA, VELHO! – Henrique grita no meu ouvido e nós rimos feito idiotas – Essa é a melhor festa que eu já dei! Viu as garotinhas do primeiro ano deslumbradas? Cara, eu amo ser um veterano.

 - Foi a mais louca de todas- digo, rindo e bebendo, uma parte de mim odeia isso e a outra sintez pena de nos dois, mas a bebida faz com que nenhuma das duas me incomode. Dou um tapa no ombro dele e saio andando.

  - Onde vai cara?

 - Eu não sei – sorrio.

 -Esse é meu garoto! – ele levanta a garrafa como comprimento e eu retribuo, acho que depois ele beija alguém.

   Vou andando tentando não cair, bebi demais. Não penso, só ando. Atravesso as avenidas sem olhar pros lados, ouço buzinas, xingamentos e alguns motoristas bêbados me falam que é hora de filhinho de papai estar na cama, mas não estou mais ouvindo. Continuo andando até um beco está acontecendo uma festa. Me misturo em meio as pessoas e aos sons pesados vejo uma garota e a reconheço, Paola. Ela é do clube de poesia, eu ia lá nem sei porque parei, ela conversa animadamente com o pessoal do clube. Me sinto ridículo e feliz por estar bêbado. Saio do beco e uma garota começa a falar comigo, seu cabelo é loiro quase branco e ondulado, longo, maquiagem muita preta, vestido curto preto, jaqueta de couro e botas; conversamos bastante mas não sei ao certo sobre o que falamos. A noite passa em borrões e beijos.

  Não sei como chego em casa, mas chego. 

A garota de cabelos cacheadosOnde histórias criam vida. Descubra agora