À noite Capítulo 4

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Eu saí em busca daquele grupo, O sol estava um pouco mais fraco e minhas roupas estavam molhadas, então eu comecei a procura-los. Logo percebi como seria difícil, entrei em uma rua asfaltada e bonita, cheia de arvores e logo depois entrei em outra, e mais outra, e mais outra, enfim... andei incessantemente e nada dava resultado, eu havia perdido tudo, minhas roupas, meu dinheiro, até mesmo os biscoitos que havia guardado, confesso que estava desesperado, era rua que não acabava mais, eu me sentia cada vez mais distante da praça.

Com o passar das horas, o clima vai ficando mais fresco, começou a ventar, se minhas roupas estivessem molhadas eu estaria em sérios problemas, por sorte de tanto andar elas secaram, eu não chamo aquilo de sorte, tendo em vista o que me fez andar tanto... enfim não adiantava, por mais que eu procurasse, as coisas não eram tão simples como pensei, eu não acharia as pessoas de uma forma tão precisa, afinal o mundo era bem maior do que eu imaginava, era maior do que me contaram.

Depois de muito andar, as coisas começaram a complicar, eu não comia desde cedo, embora aquele pão tivesse me enchido, e eu ser o tipo de pessoa que comia pouquíssimo, eu andei muito, isso me fez ter fome... logo pensei em comprar algo mas... como? Eu não tinha dinheiro, e nem tão pouco sabia como conseguir. Tive uma ideia, eu iria até alguma lanchonete e contaria minha história, tenho certeza que alguém me ajudaria. Logo entrei em uma. Havia placas com fotos de copos de sucos gigantes, um homem de mais ou menos uns quarenta anos estava no balcão passando pano, o lugar estava bem vazio, as prateleiras quase sem nada, e ele limpando, era um homem grande, branco, cabelos grisalhos, um tanto forte. Entrei e sentei no balcão, estava morrendo de vergonha, então fiquei quietinho olhando-o limpar

- Tá olhando o que moleque? Perguntou o vendedor

- Nada. Respondi assustado

- Então por que não faz nada lá fora? Falou comigo de jeito rude

Eu me levantei e fui em direção a porta, quando cheguei perto da saída, resolvi voltar, a fome falava mais alto do que a vergonha, quando de repente ouvi

- Não me ouviu? Porque ainda está aqui

- Quero falar com o senhor. Me aproximei e sentei no balcão

Contei a ele que havia sido roubado e que eu estava com muita fome, e não tinha dinheiro, então pedi algo para comer. Me surpreendi com sua reação, ele começou a rir

- Acha que vou cair nessa sua conversinha de que está com fome? Some daqui moleque

-Mas não é mentira, é verdade, eu nem sei como ainda estou de pé

Antes que eu terminasse de falar, ele me pegou pela gola da minha camisa dizendo

-Acha que não conheço seu tipinho? Vem aqui dizendo que está com fome, justo na hora que estamos prestes a fechar, eu vou de bom grado tento ajudar, você puxa um canivete e tenta me assaltar

Antes que pudesse dizer qualquer coisa ele foi me levando para fora, e me jogou para fora, bati no chão, cai de rosto, levantei e gritei -POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?!

Antes que pudesse falar mais alguma coisa, senti um tapa no meu rosto, no mesmo estante caí novamente e ele disse - cala boca, sai daqui antes que eu chame a policia

Logo após falar isso ele entrou, como se eu não fosse nada, como se aquilo não tivesse diferença, levantei e fiquei sentando no chão sem acreditar que aquilo tinha acontecido, não era a primeira vez que apanhava, mas aquilo foi diferente, ele me bateu como se eu não tivesse valor. Por que uma pessoa faria isso com a outra? Será que alguém realmente acredita ser melhor que outra pessoa? Enfim sem entender muito o motivo, eu me levantei, pois ainda tinha muito fome, vi que era tarde, já estava de noite, comecei imediatamente a procurar algo, mas tudo estava fechado.

Por fim acabei voltando a mesma lanchonete que já estava fechada, fui rodeando ela, e logo vi que havia uma caçamba de lixo nos fundos, talvez você deve estar achando nojento o que fiz, mas tente me entender, eu tinha fome, muita fome, eu abri a caçamba e havia restos de sanduiches, copos com um restinho de refrigerante, batatas parcialmente mordidas... Foi ali em meio as baratas, que consegui meu alimento, comi o que dava para comer, devorei como se fosse as comidas mais deliciosas da minha vida, e imediatamente, fui tomado por um sono, um sono tão forte que foi o suficiente para eu deitar no chão frio e dormi. Sinceramente eu não sei por quanto tempo eu dormi, sei que acordei com muito frio, e logo levantei, ao me levantar, sem fazer nenhum esforço, minha memoria viajou, logo lembrei do meu passado, lembrei que reclamava da comida que comia, lembrei que evitava comer frutas, lembrei que não comia comida fria, lembrei de muita coisa, infelizmente eu não gostei do que lembrei, eu me vi uma pessoa totalmente mimada, e eu me odiei naquele momento.

Porém a noite permanecia, ainda estava frio, e eu precisava dormir, procurei incessantemente por algum lugar, mas eu não encontrava nada... depois de muito andar, encontrei uma rua, um pouco mais escura, lá não havia asfalto, nem arvores, tão pouco iluminação, havia muito mato, e eu deitei no meio dele, me encolhi e usei os matos como minha coberta.

O mundo do lado de fora e suas doresOnde histórias criam vida. Descubra agora