A Decisão
Correndo no meio daquela noite, pode sentir tudo que imaginava, o vento da noite, meus pés finalmente tocaram o chão, eu senti a grama molhada tocar minha pele, senti a luz da lua iluminando meu rosto, tudo aquilo parecia uma bomba de desejos se concretizando, minha emoção foi tanta, que eu nem percebi que as horas passavam, quando me dei conta o céu estava clareando.
Pulei o muro e logo corri para janela, felizmente meu padrasto estava muito bêbado para acordar com os barulhos. Quando fui passar na janela meu joelho se chocou contra o vidro e quebrou... aquilo era terrível, se Rodolfo visse aquilo? Provavelmente além da surra, que era lógico, ele também trancaria a janela, e eu jamais teria qualquer contato com mundo externo novamente. Fiz o que me pareceu mais lógico, limpei os pedaços de vidro, e decidi que se ele perguntasse diria que provavelmente foi algum gato ou algo do tipo.
Após deitar na cama senti que minha perna ardia muito, quando me dei conta estava com o corte na perna, corri e coloquei uma calça, e dormi... pelo menos um pouquinho. Pela manhã levantei como sempre, é certo pela dor na perna, arrumei a casa, lavei a roupa, fiz comida e tudo mais, quando entardeceu, um pouco antes do Rodolfo chegar, ainda aéreo com tudo que me aconteceu, esbarrei no escorredor (onde ficam as louças) o que resultou em uma queda, e quebrou uns 5 ou 6 pratos, uns 4 copos e umas xícaras, para meu azar minutos depois chegou Rodolfo, que mais uma vez estava bêbado. Nesses últimos anos, Rodolfo tem bebido muito, você deve estar se perguntando, se você conhece ele desde seus dois anos, por que não chama ele de pai? Então, ele sempre deixou bem claro que não é meu pai, mas não teria coragem de simplesmente abandonar o filho da mulher que ele amou. Nossa que herói não?
Enfim, quando ele chegou, eu não fiz cerimonia alguma e contei
Léo- Rodolfo, quando eu estava lavando a louça, eu esbarrei no escorredor e derrubei tudo, e tudo quebrou (falei tremendo)
Rodolfo - Como assim? Eu fico me perguntando, como um garoto tão grande pode ser tão burro?
Léo - Foi um acidente, eu não fiz por mau...
Naquele momento ele levantou com raiva, veio em minha direção gritou ANIMAL !!!!! Logo depois disso ele saiu e foi para o seu quarto. Aquilo deveria me incomodar... mas na verdade, não fazia diferença, ele sempre foi assim, eu já havia me acostumado de viver em um lugar, onde eu não era amado...
Naquela noite fiquei esperando que ele dormisse, para que eu pudesse mais uma vez escapar, só que perto das 8 horas da noite Rodolfo me chamou em seu quarto, quando entrei, ele começou a fazer seu lindo sermão, que consistia em você precisa ser mais responsável, você precisa ser mais atento, tem que deixar de ser lerdo.
- Como vou aprender alguma coisa, se eu nem se quer posso sair no portão? Gritei alto
Ele me olhou com olhar de ódio, puxou seu braço para trás e me deu um soco, em cheio no rosto. Eu caí, ainda no chão ouvi ele gritar -O QUE EXISTE LA FORA, QUE VOCÊ NÃO PODE APRENDER AQUI DENTRO? Antes que pudesse ter qualquer resposta ele me pegou pela gola da camisa, e me puxou para fora de seu quarto, me jogando na sala, ele disse - Você está se achando homem? Então vai apanhar como um. Quando me levantei tomei um soco na barriga e antes que eu pudesse dizer, para ele parar, ele me empurrou, bati com as costas na parede e cai novamente, assim ele voltou para o seu quarto...
Passei horas ali no chão, chorando, sei qualquer vontade de me levantar, por que ele é assim? Por que ele me odeia? O que eu fiz para merecer esse tipo de tratamento? Eu não podia mais aceitar aquilo, eu precisava fugir daquele ambiente horrível, precisa conhecer o mundo que tanto li, eu queria conhecer o amor dos romances que li, queria descobrir como era ter um amigo, queria saber o gosto das frutas que eu lia, descobrir como era o tal cinema, e os parques de que tanto li, queria saber como era o oceano, de uma coisa eu tinha certeza, a felicidade, só acontecesse para aqueles que fazem acontecer.
Com aquele coração magoado e ferido, cheio de cicatrizes, sem saber o que era ser amado, decide abandonar de vez, essa vida horrível, e ditadora que eu vivia, eu sabia onde Rodolfo guardava suas economias, mas como no dia seguinte era domingo, fiquei quieto e não disse nada e nem fiz nada, esperei até a segunda-feira.
Acordei na Segunda, o mais cedo que pude, estava decidido, peguei uma mochila que tinha no quarto dele, abri o guarda roupa, atrás dos seus muitos ternos (ele era advogado) havia uma caixinha de biscoito, em forma de coração, feita de alumínio,dentro dela havia dinheiro, muito dinheiro, peguei aquela grana, coloquei em meu bolso, enchi minha mochila de roupas e biscoito, corri, como se alguém fosse me pegar no ato, talvez fosse o medo, nunca havia roubado nada na vida, subi naquele monte de roupas de antes e saí, saí para descobrir o mundo que eu tanto sonhava...

VOCÊ ESTÁ LENDO
O mundo do lado de fora e suas dores
AdventureLeonardo é um rapaz curioso, perdeu sua mãe com apenas 2 anos de vida, e depois disso foi criando por seu padrasto, porém o menino nunca saiu de sua casa, por conta da super proteção de seu padrasto, mas em um determinado dia léo decide conhecer o m...