Eu não conseguia dormir aquela noite, a culpa que rodeava minha cabeça não permitia. Eu preferia dormir com fome do que com a consciência suja como estava.
Depois de muito se mexer, amanheceu, o curioso foi a forma que aquela manhã começou, não havia sol, foi a primeira vez desde que estamos trabalhando na praia que não víamos o sol, achei bem estranho, bem curioso. Quando chegamos na areia estava bem vazio, na verdade isso é bem lógico, não havia Sol.
Quando chegamos na areia, eu avistei de longe Pedrão, logo corri em suas direção, com um simples pensamento
- Vou dizer ao Pedrão o dinheiro que eu peguei, devolver e tudo ficará bem, afinal eu tenho dinheiro guardado, não preciso roubar nada de ninguém.Corri em sua direção e quando cheguei para falar com ele, ele estendeu suas mãos em minha direção, fazendo um sinal para que eu aguardasse os outros chegarem, achei estranho quando reparei que só havia a caixa dele de sorvete, e ele não estava com a nossa também.
Quando bicão e Richard chegaram, ele mudou sua expressão, sua feição mudou, ficou com uma cara de raiva
- Eu não consigo acreditar que vocês tiveram coragem de fazer isso comigo!!!. Disse Pedrão gritando
- Fizemos o que? Disse bicão dissimulando
- Você ainda pergunta? Vocês estão me roubando!! Pedrão diz isso apontando seu dedo em nossa direção
- Nós vendemos tudo que você nós dá, e você nós paga com míseros 10 reais, acha justo? Pois eu não acho, pegamos mesmo!! Diz bicão gritando de volta
Como é? Eu só dou 10 reais a vocês né? Tirando fato de que alimento vocês, que ainda compro roupas para vocês vestirem...
Eu queria falar alguma coisa... Mas diante daquela situação eu fiquei mudo, eu não sabia o que dizer, eu deveria ter dito o quanto aquilo pesou minha consciência ou deveria dizer que estava arrependido do que fiz, deveria ter implorado por perdão, mas não foi o que eu fiz... Eu apenas fiquei mudo, presenciando o bicão falar tudo que pensava, enquanto isso Pedrão disse mais
- Eu não sou daqui, eu vim de uma cidade muito pobre, lá eu também passei fome, quando vi vocês aqui, sujos e com fome, e queria dignificar vocês com o trabalho, como fizeram comigo, inclusive eu havia conversado com minha esposa, de que aqui é muito perigoso, e estava querendo levar vocês para onde eu moro, queria que vocês dormissem lá. Pedrão disse isso com uma cara de decepção enorme
Eu não lembro de que cara fazia bicão, e nem a cara que Richard olhava a cena, mas me lembro perfeitamente de como era o rosto de Pedrão, extremamente cabisbaixo...
- Eu acreditei em vocês, mas podem ficar tranquilos tá? Nunca mais serão "explorados" por mim...
Após dizer isso ele simplesmente pegou sua caixa e saiu andando, eu esperava que ele nos bastasse ou coisa parecida, mas por incrível que pareça as palavras dele doeram muito mais do que uma surra.
Pedrão foi embora, eu ainda tentei correr em sua direção, tentei devolver o dinheiro para que ele me perdoasse, mas o que eu ouvi acabou comigo
"Eu não trabalho com quem eu não confio"
Ficamos ali sentados na areia, um olhando para o outro, decidimos nos levantar e bicão disse, que eu não devia me preocupar, havíamos guardado dinheiro, por isso tínhamos grana para comer por enquanto, até lá é só pedir vaga para trabalhar em uma dessas barracas que tem na praia.
É assim foi, aproveitamos um pouco daquele dia, passamos a tarde olhando o mar, o dia não estava propenso a tomar banho, o tempo não estava quente e água estava bem gelada, então só observamos o oceano e brincamos um pouco
A noite e caiu, e com ela veio a fome, juntamos nossas pequenas economias e compramos umas quentinhas em uma pensão que havia ali próximo
A noite passou, mas infelizmente minhas inquietações permaneceram firmes, dormir com fome era ruim, mas naqueles dias eu senti um sentimento novo, dormir sentindo culpa... isso era bem pior, todas as vezes que eu fechava meus olhos eu lembrava das palavras do Pedrão "Eu não trabalho com quem eu não confio". Será mesmo que ele pensa em nos levar para sua casa? isso era real? jamais saberei.
No dia seguinte procuramos trabalho, fomos em cada barraca para saber se alguém queria nosso trabalho, haviam algumas barracas que precisavam, mas elas não queriam trabalhar com a gente, todos ficaram sabendo que nos havíamos roubado o pedrão. Isso dificultou imensamente as coisas, os dias foram passando, o dinheiro acabando e nós fomos ficando desesperados, afinal não teríamos mais o que comer, e logo morreríamos de fome.
Quando o dinheiro acabou (foi mais rápido do que eu pensava) tivemos que voltar a pedir, e quase nunca conseguíamos dinheiro suficiente para nos três comermos algo, então bicão deu a ideia de começarmos a roubar das senhoras que negavam o dinheiro a gente
-Você ta doido cara? neguinho sempre disse pra gente o quanto era errado fazer isso, não podemos tomar nada de ninguém!! Falei com os punhos cerrados
- É mesmo? e onde está o neguinho agora? ele foi tão inteligente, que provavelmente ta morto agora. Bicão disse isso apontando o dedo para mim
-Então vai, faça o que quiser, mas não conte comigo, eu nunca mais irei roubar de novo, eu sei onde isso leva.
Antes mesmo deu terminar meu pequeno discurso, Richard e Bicão deram as costas e saíram andando. Naquele dia, eu decidi ficar na praça, passei o dia com os cachorrinhos que haviam por elam por volta das 21hrs, vi de longe Bicão e Richard correndo em minha direção, eu não entendi muito bem o que estava rolando, eles logo se enfiaram de baixo das cobertas e disseram que a policia estava vindo, decidi continuar enfrente a fonte que estava, e ficar na minha.
- A final, o que faria comigo? eu não fiz nada, estava ali o tempo todo.
logo em seguido chegaram dois policias e vieram em minha direção, eu me lembro que Rodolfo me contava que a policia, eram homens pagos para proteger e servir a sociedade, e que se algum dia eu sofresse algum tipo de injustiça, bastava falar com os homens da lei
Quando chegaram perto, eu me dirigi a eles para comprimenta-los, e logo que me aproximei, recebi um golpe na cabeça, desferido por um porrete feito de metal, cai no chão e comecei a gritar, o segundo policial pois um de seus pés sobre a minha barriga e disse
-Cala boca seu trombadinha, cadê os dois muleques que passaram correndo aqui?
Eu pensei comigo em dizer onde eles estavam, mas concluí que se comigo que não fiz nada, eles estão fazendo isso, imagina com eles... disse que não sabia, o que resultou em mais dois golpes com aquele porrete, e um chute na lateral do meu corpo, com aquelas botas que pareciam ter pedra na ponta.
-Vamos levar ele. Disse o policial que me chutou
-Mas não foi ele que roubou... Disse o segundo policial
-Isso não importa, ele também é trombadinha, não podemos é não achar alguém para levar..
O policial tirou o pé de cima de mim, me puxou pelo braço e me pós no banco de trás de seu carro, e me levaram embora...
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O mundo do lado de fora e suas dores
AdventureLeonardo é um rapaz curioso, perdeu sua mãe com apenas 2 anos de vida, e depois disso foi criando por seu padrasto, porém o menino nunca saiu de sua casa, por conta da super proteção de seu padrasto, mas em um determinado dia léo decide conhecer o m...