Capítulo 5

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Um Dia Após o Outro

Acordei cedo, não porque queria, mas pelo fato do sol estar queimando minha pele logo pela manhã. Ao me levantar percebi que já havia muito movimento naquela rua, mesmo que a noite ela estivesse tão vazia, vi crianças saindo em grandes números, usando todas as mesmas roupas, vi senhoras com suas saias longas e carregando livros de capas pretas, com seus cabelos presos, cumprimentando umas as outras, levantando a mão e mostrando as palmas. Achei aquilo engraçado e curioso, por que aquelas crianças se vestiam igual? E por que aquelas senhoras se saudavam assim? Enfim, resolvi continuar minha caminhada, eu já estava totalmente diferente e só havia passado um dia... eu me sentia sujo, queria tomar um banho de verdade tirar aquele short, escovar meus dentes, arrumar meu cabelo, comer algo, coisas impossíveis naquele momento.

Quando estava saindo daquela rua, umas das senhoras me parou eu logo pensei que ela iria brigar comigo como aquele outro cara, ou que iria me mandar sair dali, ia reclamar de mim ou algo assim, mas foi bem diferente

- Menino, está com fome? Me perguntou aquela senhora, que olhava com olhar diferente

- Uhum. Balancei a cabeça afirmando

Logo ela tirou um pote de uma bolsa, havia ali um pedacinho de bolo, ela me deu e continuo me olhando, comi com gosto, parecia que fazia uma eternidade que eu não comia alguma coisa, mas o que mais me intrigou, não foi o bolo, mas sim como aquela senhora me olhava, ela tinha um olhar diferente, ninguém nunca havia me olhado daquela forma. Pois bem, assim que terminei de comer (o que não demorou muito) ela abriu um sorriso e perguntou

- Está com sede? E já foi tirando uma garrafinha de água com gelo da bolsa

Bebi sem pensar duas vezes, ela logo deu um sorriso, guardou a garrafinha na bolsa e disse fique com Deus, e foi embora. Eu não havia entendido até o momento o que significava aquele olhar, mas hoje sei, que aquilo se chamava compaixão.

Sai dali satisfeito, e comecei a andar, um pouco mais a frente vi um galpão onde havia umas madeiras e uns animais brincando, ele era cercado com algumas grandes, mas não parecia ter dono, parecia estar abandonado. Então entrei e fiquei surpreso, aqueles bichinhos começaram a pular e abanar o rabo, como se não recebessem visitas, brinquei com eles, corri fiz carinho. Ali tinha um vento agradável e se tornou um lugar agradável, muito mais do que minha antiga casa, ao menos lá, embora com fome, cansado e sujo, eu estava me sentindo feliz. Foi divertido, porém eu queria andar, e vivenciar outras experiencias, então segui em frente. E assim eu fui, andei pelas redondezas por um bom tempo, meus dias funcionavam assim, eu andava até achar um bom lugar para sentar e descansar um pouco, meu corpo já não era mais o mesmo, eu tinha dificuldade de levantar, precisava fazer um impulso pra sair do chão, sentia muita dor nas costas por andar tanto, e vivia com fome, por isso, sempre que tinha oportunidade, eu parava em algum lugar para pedir água ou comida, nem sempre eu recebia... mas isso não importa, havia sempre um lixo para eu revirar.

Em um determinado dia, cansado, sujo e com fome como sempre, o tempo mudou, aquele sol de castigar foi embora, eu senti um grande alívio, mesmo vendo o céu escuro, pensei comigo

- Ao menos um pouco de chuva para resolver meu problema. Acertei em cheio, logo começou a chover.

Foi maravilhoso sentir aquela água caindo em minha pele, senti meu corpo agradecer por receber aquele banho pouco formal, corri animado, senti a água escorrer pelo corpo e era maravilhoso, a chuva ficava cada vez mais forte e eu cada vez mais animado, senti os ventos vindo e logo tive frio, mas isso não importava, ao menos eu estava mais fresco do que antes, isso já era melhor. Andei para procurar um local para ficar em baixo, encontrei um posto de gasolina fechado, resolvi ficar embaixo dali esperando a chuva
diminuir um pouco, passou algum tempinho e vi dois rapazes vindo, eles aparentavam ter uns 19 ou 20 anos, estavam falando alto, e me viram encolhido no canto do posto e disseram

O mundo do lado de fora e suas doresOnde histórias criam vida. Descubra agora