O mundo do lado de fora e suas dores

O pacote

O que é aquilo?

Por que daquele pacote?

O que terá ali dentro?

Devo pegar?

Será que posso abri-lo?

Isso foram dúvidas que  permearam minha cabeça naquele dia, e foram por múltiplas vezes. Até que tomei coragem, peguei o pacote em minhas mãos, ele era enorme, não estava lacrado, estava apenas bem forrado com plástico preto, tirei bem rápido tentando não ser pego

Quando finalmente abri fiquei surpreso, eu jurava que eram drogas, ou coisas do gênero mas não era, se tratava de um pacote cheio de biscoitos, doces, garrafinhas de refrigerante, por que diabos ele guardava aquilo? Naquele momento meu estômago gritava de fome

- Eu poderia comer algo desse pacote, tô morto de fome, não faria diferença nenhuma, afinal tem muito aqui. Me conflitei várias e várias vezes

Decidi não comer, enrolei novamente o pacote e guardei na gaveta. Esperei nem cinco minutos e entraram leão e Ti na sala, agr imagina se eu ainda estivesse comendo?

Quando entraram Ti cutucou o leão e disse

- e aí? O que me diz do garoto?

- tá zoando com minha cara né? Olha pra ele? Com essa cara de lerdo? Esse muleque é X9 não é de confiança, não deveria ter trago ele

- Olha eu posso parecer devagar, mas sobrevivo a muito tempo na rua, e sei me virar muito bem. Falei olhando dentro dos olhos dele

- Tô vendo garoto, se vira tão bem que está aqui agora não é mesmo? Disse Leão forçando o dedo no meu peito

- Você também está. Eu disse com convicção

- Só que eu não estou pedindo ajuda de ninguém. Após ter dito isso me deu um empurrão

- Leva embora esse meio quilo daqui e não se fala mais nisso.

Eu mesmo virei de costas em direção a saída sem dizer nada, se ele queria que eu implorasse ou coisas do tipo estava muito enganado, eu não ia dar esse gostinho para ele

- Ei garoto, se dizer algo sobre esse lugar, ou sobre mim, ou sobre minha família a V3, vai ser a última coisa que vai falar na vida, entendeu?

Virei para ele e disse - Diferente do que você pensa, eu não sou um dedo duro

Sai daquele lugar sem olhar para trás, antes mesmo deu cruzar a porta Ti veio correndo em minha direção

- Eu sinto muito B12, eu realmente gostei de você, tu parece ser gente fina, mas o que o leão fala é lei

Dei um sorriso meio de canto de boca e sai daquele lugar velho e sujo. O problema maior é que eu estava completamente perdido, passei tanto tempo lá que nem sabia si o tal do Pereira havia sentido minha ausência (esperava que não)

Corri, e por sorte consegui ir para o dormitório sem ser percebido, me direcionei ao banheiro, tomei lavei a boca, havia recebido junto com aquelas roupas uma escova de dentes (ainda bem) finalmente pude escovar meus dentes depois de tanto tempo, depois de fazer minha higiene fiquei sentado na cama, quando novamente todos foram chamados para as aulas.

Minha primeira reação foi tipo? Aulas? Como assim aulas?

O que aconteciam é que os detentos assistiam aulas para redução de suas penas, fazia parte do sistema de recuperação dos "delinquentes"

Pauso minha narração por um segundo para te fazer uma pergunta, você acha que aquelas aulas eram nossa solução? E que depois de assistidas nós ficávamos inspirados a serem pessoas melhores? Ha ha ha

Acho melhor voltar a minha singela narração

As aulas funcionavam de forma estranha, haviam algumas regras a serem seguidas, nós não éramos autorizados a olhar para a professora, não podíamos falar, apenas ouvir, qualquer detendo que ousasse falar durante a aula sendo com a pessoa do lado ou para tirar uma dúvida, podia aguardar, que no fim tinha uma massagem especial, como eles chamavam, e antes que vocês se perguntem, não os professores não faziam ideia dessa conduta de disciplina dos nossos amados carcereiros

Após a aula comíamos nosso almoço, descançavamos o almoço e seguiamos para a oficina.

Que era uma especia de trabalho comunitário, fechamos umas garrafas e colocavámos em uma esteira que se mantinha em movimento.

Após isso saímos para a janta e íamos deitar e dormir, essa seria minha rotina de todos os dias, pelo menos deveria ser né...

Me dirigi novamente para o chão onde dormi no dia anterior, pronto pra um descanso afinal o dia foi corrido, quando ouvi

- B12? É você? Chega ae meu camarada

Eu nem acreditei, era o Ti, ele estava de longe acenando para mim, eu fui o mais rápido que pude, será que ele tinha uma cama vaga? Será que ele havia conseguido espaço na V3 pra mim?

- e aí Ti? Posso dormir aqui?

- Desculpa B12, já era

- Do que você tá falando mano?

Assim que terminei de falar um saco preto de pano cobriu minha cabeça, senti alguém me abraçar por e me levantar, meus pés não estavam mais no chão, e eu saí carregado para algum lugar...