Capítulo 5 - Thomas

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****** SEM REVISÃO ******

Um mês se passou desde que o testamento foi lido e ainda não tive coragem de entrar na Damasco. Na verdade, ainda não tive coragem de passar na rua em que fica localizada.

Não falei com meus irmãos, não falei com minha mãe. A única pessoa com quem tenho me aberto é Dani. Com ela consigo tão transparente quanto a água.

Mas hoje não resisto. Dirijo até a damasco e meu coração se aperta. Estaciono o carro uma rua antes e caminho até lá sentindo falta de ar.

A rua movimentada me deixa um pouco mais ansioso. Como meu pai conseguiu falir? Respiro fundo quando paro em frente à loja que sempre sonhei ter.

A entrada está uma bagunça. Os vendedores estão lá dentro, alguns mexem no celular, outros apenas conversam. Não há uma porra de um cliente. Entro sentindo que ao mesmo tempo em que posso sufocar posso morrer de raiva.

Quando percebem quem sou, param o que estão fazendo e dizem que sentem muito pela minha perda. Pergunto onde fica o escritório e me indicam a porra de uma salinha nos fundos.

Se a loja está uma bagunça, o escritório é o inferno. Procuro todos os documentos que me farão entender qual a real situação da empresa. Quando pego tudo, me despeço de todos e volto para casa.

Começo a olhar os relatórios, riscar os erros, buscar melhorias. Me perco nas análises, não vejo o tempo passar. É tarde quando finalmente paro para jantar.

No dia seguinte, volto a analisar as despesas e receitas da loja. Está tudo ruim. Muito ruim. Não vejo muitas saídas, tenho que fechar. A Damasco precisa recomeçar do zero.

Ligo para a loja e peço uma reunião com o gerente. Marcamos para a segunda, logo cedo.

Sem saber com quem me abrir, envio uma mensagem para Dani. A convido para jantar e passo o resto do dia perdido em busca de soluções.

São oito da noite quando Danielle passa por mim. Ela larga a bolsa no sofá, tira o salto e senta-se no chão para comer japonês. A sigo sem saber como começar a falar o que passei o dia pensando. Comemos em silêncio. O tipo de silêncio confortável, com ela o silêncio nunca é perturbador. Nunca é gritante.

— Quer falar alguma coisa, Thomas? — pergunta enquanto me ajuda a arrumar a bagunça.

— Fui até a Damasco. Você precisava ver. A loja está uma bagunça completa, os vendedores ficam conversando e mexendo no celular, não entra ninguém. Tudo fica misturado. Entrei no escritório e parecia um inferno. Todos os documentos misturados. Achei que o pai visitava as empresas, achei que ele cuidava dos escritórios que treinava os funcionários, que tratava as lojas como as meninas dos olhos.

— Tão ruim assim? — questiona.

— Sabe o ruim? Está pior. Caminhei até a loja sentindo que eu podia sufocar, então eu entrei na Damasco e me senti irritado. Decepcionado. Como ele conseguiu falir? Como ele conseguiu que uma empresa como a Damasco fosse a ruína?

— Ele nunca comentou?

— Ele sempre passou a imagem de que estava tudo bem. Ele não falava mais comigo sobre a Damasco. Eu não queria mais saber sobre a empresa. Ou as empresas. Sempre me disse que eu não estava pronto para ela. Ele sempre deixou claro que eu não era bom para a Damasco.

— Ele te disse isso? Com essas palavras? — pergunta.

— Ele disse que eu não estava pronto, que eu era apenas um menino, que antes de assumir a empresa que ele fundou eu tinha muito a aprender. Disse que minhas ideias eram pequenas e falhas. Que não tinham nada, absolutamente nada a ver com a Damasco.

— Sinto muito.

— Às vezes eu não sinto. Às vezes, eu sinto que tive a chance de mostrar a ele que essas ideias valiam a pena. Você tem noção do dinheiro que fiz o meu ex-chefe ganhar?

— Talvez ele não falasse apenas de dinheiro.

— Talvez. Mas eu tinha ideias que iam além do lucro. Tinha a fidelização do cliente, modernidade da loja, benefícios para os colaboradores. Uma empresa precisar ser mais do que lucro. Óbvio que sem lucro ela não sobrevive, mas não pode ser apenas isso.

— E o que você deseja fazer?

— Solicitei uma reunião com o gerente na segunda. — digo e ela me olha ao sentar-se no sofá. Sento-me de frente para ela e a encaro. — Vou fechar a Damasco.

O choque no olhar de Danielle me faz pensar se estou louco. Não estou. sei que preciso recomeçar.

— Está louco?

— A Damasco está falida, Danielle. Não há muito dinheiro, há algumas dívidas, há manutenção da loja, há salários que precisam ser pagos.

— Seus irmãos irão enlouquecer. Fechar a loja?

— Vou fechar as portas. Vou dar férias ou demissão para quem desejar. Mas vou fechar. Vou ir atrás de um empréstimo, vou renegociar as dívidas, vou modernizar a empresa e então volto a abri-la.

— Acha que é uma boa? Vai recomeçar a empresa tendo uma dívida de um empréstimo?

— É o que me resta.

— E se não conseguir?

— Pelos cálculos que fiz, posso colocar essa apartamento como segurança.

— Vai perder sua casa para salvar o sonho do seu pai?

— Meu sonho. A Damasco era o meu maior sonho.

— Ainda assim...

— Preciso fazer ou nunca me perdoarei. Nunca me perdoarei por ter deixado a Damasco virar cinzas.

— Então faça.

— Já pensei em como a quero. Os funcionários que ficarem passarão por uma capacitação. Não quero na minha loja vendedores que desejam apenas a comissão da venda. Precisa entender do produto, passar confiança e credibilidade. Quero uma loja bonita, quero organização, dedicação.

— Imagem. Também precisa de um plano de comunicação. Algo que leve a Damasco a outro patamar. Comerciais, redes sociais, promoções. Custará dinheiro, mas...

— Estará comigo? Pode trabalhar nesse plano. Eu cuido da administração, da gestão de tudo e você cuida da imagem. Treina os vendedores para vídeos para redes sociais.

— Thomas, quero muito ajudá-lo, mas a rotina da agência não me permite ter toda essa dedicação.

— Por favor, Danielle. Faça o que puder, no tempo que puder.

A vejo suspirar.

— Tudo bem. Vou tentar o que posso, mas não posso prometer que será uma grande campanha.

Levanto-me e a abraço apertado.

— Obrigado!

— Fique vivo para reabrir a loja. Não sei se seus irmãos serão compreensivos. — diz, achando que irei agora dizer aos meus irmãos que fecharei a loja.

— Eles não irão saber que fecharei. Saberão depois que irei reinaugurar. Estão preocupados com o mundo deles, a empresa deles. — digo sabendo que apesar de difícil, sei que estou tomando a decisão certa.

Como todos sempre dizem, as melhores coisas vêm através de lutas e se eu preciso arriscar tudo para ver a Damasco se transformar em tudo o que poderia ser, arriscarei sem medo.

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2020 ⏰

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