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Margot

A luz forte é o que me acorda pela manhã, junto com o cheiro de café. Minha cabeça dói mais do que eu previa quando a ergui e já consigo sentir o arrependimento de ter passado dos limites na noite anterior chegando.

A noite anterior.

Minha mente fica imediatamente confusa. Imagens aleatórias surgem, fragmentos de coisas que não lembro se vi ou fantasiei. Lembro de ter feito algo de ruim, mas não consigo distinguir o que foi.

Quando finalmente consigo me levantar, percebo que, graças a Deus, estou no meu quarto. Ouço passos de saltos batendo contra o chão de madeira, fazendo eco pelo espaço enorme da sala ao lado. Clair entra, não se importando de checar se eu já estava acordada. O barulho dos seus sapatos me fazem querer arrancá-los dos seus pés e jogá-los janela afora.

- Bom dia, Margot. - o jeito como ela mal olha para mim, enquanto se move, arrumando alguma coisa no canto do quarto, algo que não consigo distinguir, me diz que o que fiz de errado a envolveu.

- Oi. - respondo com a voz rouca e seca. Preciso de água imediatamente.

- Tem um analgésico na cabeceira. - ela diz, como se lesse além dos meus pensamentos. - Pensei que fosse precisar.

Murmuro um "obrigada" e me viro devagar para pegar o copo de água e o comprimido, engolindo com um pouco de dificuldade.

- Espero que isso ajude com a ressaca... - Clair continua, se erguendo de onde estava e caminhando em direção à extremidade da cama. - ... e a ter um pouquinho mais de consciência sobre o que você fez.

Meus olhos se arregalam e eu me esforço para não engasgar com o comprimido e com a água.

- O que eu fiz ontem? - finalmente pergunto, a voz em pânico. Eu sabia que havia algo.

Clair sorriu um pouco, dando de ombros e se sentando na beirada da cama.

- Relaxa, você falou algumas coisas desnecessárias para mim, mas eu não ligo. Você tem algum crédito, acho que foi a primeira vez que te vi ser grossa com alguém assim.

- Foi só isso? - eu pergunto com desconfiança. Havia mais, tinha que haver.

Refaço meus passos em minha cabeça.  Me lembro de ter saído do clube, de ter pego um táxi e vindo para o hotel. Bom, só tive certeza de que vim para o hotel porque estou aqui agora, mas tudo na minha cabeça parece um borrão. Me esforço um pouco mais e consigo lembrar do chão do saguão sob meus pés, a minha dificuldade em manter o equilíbrio.

E então a imagem dele surge na minha cabeça.

- O Luke estava aqui! - era para ser uma pergunta, mas minha voz saiu tão aguda e tão desesperada que pareceu mais uma afirmação.

Clair tem uma expressão confusa no rosto.

- O quê?

- O Luke... eu vi ele... ele estava aqui, não estava? - pergunto, me sentando e tentando manter a calma enquanto as palavras afobadas fluem pela minha boca. Parecia loucura, eu parecia louca, e esperei até que Clair risse, mas ela só continuava com a fachada confusa.

- Não, Margot. - ela semicerrou os olhos. - Só estamos eu e você aqui...

Um momento de silêncio se fez, minha cabeça latejava e eu estava confusa. Eu tinha mesmo imaginado tudo aquilo?

- Você não ligou para ele, ligou? - Clair me despertou dos meus pensamentos e eu arregalei os olhos.

- Não! - digo alto em defesa. - Eu... vi ele. No elevador. Mas podia estar tão bêbada que devo ter visto coisas. Isso é possível?

Madrid || l.h.Onde histórias criam vida. Descubra agora