Margot
Naquela manhã, acordei me sentindo esquisita.
Talvez fosse o fato de ter sonhado com Luke na noite anterior, talvez fosse o fato de que finalmente admiti a mim mesma que teria de me acostumar àquela dor que evitava a qualquer custo, talvez fosse também o fato de que o dia de ir embora estava cada vez mais próximo e isso implicava uma série de outras coisas as quais eu não estava disposta a fazer.
A questão é que isso não impediu Clair na sua missão de me levar para fora do refúgio que se tornou aquele quarto de hotel. Ela tinha planos para hoje, que incluía compras, algo que eu mal fazia e que, com certeza, tinha que ter muito ânimo para poder fazer.
Eu não conhecia absolutamente nada em Madri. Era minha primeira vez naquela cidade e eu, sinceramente, esperava ser a última. Se minhas lembranças daqui fossem me acompanhar sempre, essa era minha vontade. Tudo o que senti desde que pisei aqui fora desconforto, tristeza e raiva. Na verdade, desde que eu saí dos Estados Unidos, então o problema não era nem do lugar.
Eu poderia estar em qualquer região do mundo, das mais bonitas e extraordinárias às mais sem atributos, e continuaria me sentindo daquele jeito. O problema maior era ter concordado com Clair que uma viagem agora me faria bem.
Acabamos visitando lojas de roupas, de lembranças para turistas e de utensílios que nunca iríamos usar, provavelmente. Clair comprou alguns cartões postais e quando tentei escolher uns para mim, percebi que não me restou quase ninguém a quem mandar. Para Ross, o homem que, possivelmente, nunca mais falaria comigo? Para Luke, quem não se deu ao trabalho de ao menos me ligar durante essas duas semanas separados? Para meus falsos amigos, os de Ross, para ser mais exata, que se distanciariam assim que soubessem que o casamento foi cancelado porque nós nos separamos de uma vez por todas?
Acabei comprando um para Mad, sabendo que ela gostaria de receber uma coisa dessas e que se sentiria excluída quando visse o de Clair e não recebesse um meu. Para os meus pais, não fazia muito sentido. Na realidade, eles continuavam me questionando sobre a necessidade de uma viagem dessas, sem propósitos evidentes, logo após ter retornado do suposto congresso. Eu deveria ter contado a verdade antes de sair, essa coisa de manter segredos o tempo todo estava me sufocando cada dia mais.
- O que você acha de marcar uma hora do spa do hotel? - Clair me perguntou assim que saímos da última loja de roupas que ela queria visitar. Minha vontade era dizer que tínhamos roupas nos Estados Unidos também, mas quis evitar uma discussão a respeito de um tópico desses com ela.
- Não. - sou direta em responder, sem sequer contemplar a possibilidade. Mas não demorou nem um minuto completo para que eu mudasse de ideia. - Quer saber? Acho que pode ser uma boa sim.
Eu não via a hora dessa viagem terminar, mas talvez uma última tentativa para relaxar fosse tudo o que eu precisava para esquecer definitivamente tudo o que vinha me assombrando nos últimos dias - literalmente.
Voltamos ao hotel, Clair despejou suas compras na cama e eu coloquei minhas sacolas na poltrona do quarto. Ela se encarregou de marcar uma massagem e piscina para nós duas. Com pouco tempo ao telefone, Clair retornou com uma expressão de indignação a qual eu estava muito acostumada a ver.
- Acredita que eles tem só um massagista para hoje? - ela arfa, jogando as mãos para o alto. - Que diabos de hotel tem um massagista disponível para um horário?
Tenho vontade de rir, mas suprimo assim que venho a carranca se formando em seu rosto.
- Tudo bem, podemos fazer outra coisa, então. - digo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Madrid || l.h.
Fanfiction{Livro dois de "Maldives"} Depois de o pior cenário acontecer, Margot se sente perdida e decide que é mais sensato se afastar da confusão de sua vida amorosa por um tempo. Sendo coincidência ou atos propositais, ela não sabia, mas não conseguiria fi...